O que vai abaixo é uma entrevista do autor deste blog com o governador do Paraná, Roberto Requião, publicada no DCI. Na íntegra para os leitores do Entrelinhas.
Câmbio controlado e aumento nos gastos públicos - inclusive em custeio. Esta é a receita do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), para o Brasil enfrentar a crise econômica mundial e evitar que os problemas se agravem no País. "O controle do câmbio é uma medida a ser tomada. E além disso, temos de investir pesadamente em infra-estrutura. O governo não pode diminuir gastos. Temos de compensar a diminuição de atividades do setor privado e continuar a cuidar do salário dos trabalhadores", afirmou Requião, em entrevista exclusiva ao DCI.
O governador do Paraná participa hoje, no Rio de Janeiro, do Fórum Governadores 2008, promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. Requião falará aos empresários da ADVB sobre "O Brasil que nós queremos" e certamente deverá abordar questões relacionadas ao momento delicado pelo qual passa a economia internacional. Segundo Requião, Barack Obama vai trabalhar para resolver os problemas dos americanos e para manter a hegemonia econômica dos Estados Unidos. "Eu não acredito que ele tome medidas para resolver o problema do Brasil, do México, do Equador, país que, aliás, está dolarizado, nem moeda tem mais", diz o sempre polêmico Roberto Requião.
Leia a seguir os melhores trechos da entrevista, concedida ontem, por e-mail.
DCI: Como o senhor avalia a crise financeira mundial? Que medidas acha que o presidente eleito, Barack Obama, tomará para tentar reverter o processo de recessão/depressão nos Estados Unidos?
Roberto Requião: Barack Obama se elegeu presidente dos EUA. Temos de parar de pensar que ele é uma espécie de Pai Thomas, preocupado com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento do mundo: ele vai tomar medidas para manter a hegemonia dos EUA na economia mundial, para manter o dólar como moeda única e lastro de todos os países. Barack estará fundamentalmente preocupado com os EUA, eu não acredito que ele tome medidas para resolver o problema do Brasil, do México, do Equador, país que, aliás, está dolarizado, e nem moeda tem mais. Foi dito que a eleição dele foi fantástica, uma conciliação dos EUA consigo mesmos, melhorou a imagem dos EUA no mundo, mas não acredito que o presidente tome atitudes imediatas que não sejam exclusivamente para proteger os interesses do país.
DCI: Até agora, a crise teve efeitos limitados no Brasil, se comparados aos do resto do mundo. O senhor acha que as turbulências afetarão o País de maneira mais contundente em 2009? Que cenário vislumbra para a economia nacional?
Requião: Até agora, do ponto de vista do Estado do Paraná, não temos problemas, temos uma superarrecadação, um excesso de arrecadação. Mas a crise já chega. Nós prevíamos para novembro a criação de 12 mil empregos novos; nós criamos 161 mil empregos este ano, um recorde brasileiro em relação à população do estado. E na verdade se registraram apenas 4 mil novos trabalhadores com carteira assinada. No entanto, nós tivemos a manutenção da criação de empresas - 4 mil novas empresas registradas na junta comercial. A Volvo demitiu 440 trabalhadores. A queda do valor das empresas paranaenses foi fantástica. A única empresa que não perdeu foi a Companhia Paranaense de Energia Elétrica, que na crise ainda conseguiu subir 1,4%. Eu acredito que não é um cenário azul. O estado não terá grandes alterações no ano que vem. Temos o Fundo de Desenvolvimento Urbano, as reformas que tínhamos de fazer na educação e na saúde já foram feitas, hospitais foram fundados, e o importante não é diminuir despesas e custeios, pois isto significa diminuir despesas com educação, com saúde e com segurança, e estabelecer uma série de hierarquização de investimentos - investimentos que tenham um efeito multiplicador na economia.
DCI: O senhor acha que o governo está tomando as medidas necessárias para minimizar os efeitos da crise no País? Se estivesse no comando da política econômica, que medidas o senhor tomaria?
Requião: O governo federal está tentando tratar uma pneumonia com aspirina. As medidas não estão incorretas, mas elas estão em doses muito pequenas. O presidente Lula liberou o depósito compulsório dos bancos, e eles investiram em letras do Tesouro, não repassaram para a economia. Controle dos empréstimos, do câmbio, nós perdemos mais de R$ 7 bilhões de dólares na entrada e na saída, embora a entrada tenha se mantido constante, e num volume razoável. Portanto, o controle do câmbio é uma medida a ser tomada. E além disso, temos de investir pesadamente em infra-estrutura. O governo não pode diminuir gastos: temos de compensar a diminuição de atividades do setor privado e continuar a cuidar do salário dos trabalhadores. Afinal, um dos aspectos desta crise é uma superprodução sem salários para dar conta dela. Mas precisamos continuar a alimentar os salários para que a economia possa andar.
DCI: O Paraná está preparado para enfrentar os efeitos da crise? Que medidas já foram tomadas?
Requião: O Paraná está preparado para enfrentar os efeitos da crise. O Paraná tem tomado atitudes no caminho certo. Isentamos as micro e pequenas empresas de qualquer tipo de imposto, nós criamos um fundo de aval para o financiamento dos agricultores, o Paraná tem um programa de irrigação noturna das 21h às 6h, com desconto na eletricidade rural, que já é barata, de 75% para os agricultores. O Paraná tem uma série de medidas que culminam agora com a redução dos impostos sobre aquilo que o povo compra, os bens de consumo de salário: 95 mil itens estão tendo a tributação diminuída, de 25% e 18% para 12%, e uma compensação em impostos que incidem sobre as pessoas mais ricas é uma justiça tributária. E este é um dos caminhos que o Brasil pode tomar: a redução de impostos que recaem sobre a população mais pobre.
DCI: Em 2009, além da crise, estão na agenda do Congresso as reformas política e tributária. Sobre a primeira, o que, no atual sistema político, o senhor avalia que deveria ser modificado? É favorável ao fim da reeleição?
Requião: A reforma tributária do governo federal é uma reforma neutra, mas ela agiliza a cobrança, ela é bem engendrada. O Paraná vota a favor da reforma tributária. Agora, a reforma política é conversa mole, isto não muda nada, despolitiza o País, acaba com a discussão de temas que não podem ser temas de uma região ou de uma cidade, como a educação, a saúde pública, a independência do Brasil. A reforma política proposta é a reforma política do consenso de Washington. É a despolitização do processo eleitoral e político brasileiro. Eu já fui favorável ao fim da reeleição; hoje, não mais. Quatro anos é muito pouco para um governo. Eu peguei um estado quebrado, levei três anos arrumando, e tinha um ano só para trabalhar; hoje eu estou conseguindo, em meu segundo mandato, completar isso tudo. É necessário um mandato mais longo ou a reeleição. O resto é demagogia.
DCI: Sobre a reforma tributária, o senhor acha que é possível aperfeiçoar o texto do relator Sandro Mabel e aprová-lo em 2009?
Requião: O texto da reforma tributária nós discutimos com o Mabel. No Paraná, estamos votando e recomendando o voto na reforma tributária.
DCI: O PMDB saiu fortalecido nas eleições deste ano. Em 2009, certamente começa o debate sobre a eleição de 2010. Hoje, o PMDB está aliado com o presidente Lula, mas já há no partido lideranças que defendem o lançamento de candidatura própria -o senhor mesmo já foi apresentado como possível presidenciável- ou ainda uma aliança com o PSDB, em torno de José Serra. Qual a sua opinião sobre os rumos do PMDB em 2010?
Requião: O PMDB saiu fortalecido nas eleições deste ano, o partido tinha de pensar em se coligar com o PT. Não pode fazer uma coligação pela direita. O PT tem as suas mazelas, nós temos muitas, talvez muito mais que o PT. Mas nós tínhamos de reunir o PMDB e o PT nesta visão de centro-esquerda para enfrentar esta tentativa de volta da direita ao governo do Brasil.
DCI: Como o senhor avalia a alta popularidade do presidente Lula no cenário de crise econômica? A economia é o que sustenta a aprovação ou há algo mais além dela?
Requião: A popularidade de Lula deve-se à elevação do nível de renda das classes C, D e E, às políticas sociais, ao crescimento que ocorreu no Brasil. Conforme a linha econômica a que se afilie um crítico, trata-se de dar uma explicação ou outra, mas concretamente o governo do Lula foi bem.
DCI: O senhor não poderá concorrer em 2010 ao governo do Paraná. Quais são os projetos políticos do governador Requião?
Requião: O meu projeto é terminar o governo. Se começarmos a pensar em projetos políticos, perdemos o foco do estado, começamos a pensar em integrações, e esquecemos os compromissos e objetivos assumidos em uma campanha eleitoral. Eu posso pensar em muita coisa, mas o fundamental é que eu não envolvo isso, neste momento, na governança do Paraná. Eu me limito integralmente a cumprir os compromissos de campanha.
Câmbio controlado e aumento nos gastos públicos - inclusive em custeio. Esta é a receita do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), para o Brasil enfrentar a crise econômica mundial e evitar que os problemas se agravem no País. "O controle do câmbio é uma medida a ser tomada. E além disso, temos de investir pesadamente em infra-estrutura. O governo não pode diminuir gastos. Temos de compensar a diminuição de atividades do setor privado e continuar a cuidar do salário dos trabalhadores", afirmou Requião, em entrevista exclusiva ao DCI.
O governador do Paraná participa hoje, no Rio de Janeiro, do Fórum Governadores 2008, promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. Requião falará aos empresários da ADVB sobre "O Brasil que nós queremos" e certamente deverá abordar questões relacionadas ao momento delicado pelo qual passa a economia internacional. Segundo Requião, Barack Obama vai trabalhar para resolver os problemas dos americanos e para manter a hegemonia econômica dos Estados Unidos. "Eu não acredito que ele tome medidas para resolver o problema do Brasil, do México, do Equador, país que, aliás, está dolarizado, nem moeda tem mais", diz o sempre polêmico Roberto Requião.
Leia a seguir os melhores trechos da entrevista, concedida ontem, por e-mail.
DCI: Como o senhor avalia a crise financeira mundial? Que medidas acha que o presidente eleito, Barack Obama, tomará para tentar reverter o processo de recessão/depressão nos Estados Unidos?
Roberto Requião: Barack Obama se elegeu presidente dos EUA. Temos de parar de pensar que ele é uma espécie de Pai Thomas, preocupado com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento do mundo: ele vai tomar medidas para manter a hegemonia dos EUA na economia mundial, para manter o dólar como moeda única e lastro de todos os países. Barack estará fundamentalmente preocupado com os EUA, eu não acredito que ele tome medidas para resolver o problema do Brasil, do México, do Equador, país que, aliás, está dolarizado, e nem moeda tem mais. Foi dito que a eleição dele foi fantástica, uma conciliação dos EUA consigo mesmos, melhorou a imagem dos EUA no mundo, mas não acredito que o presidente tome atitudes imediatas que não sejam exclusivamente para proteger os interesses do país.
DCI: Até agora, a crise teve efeitos limitados no Brasil, se comparados aos do resto do mundo. O senhor acha que as turbulências afetarão o País de maneira mais contundente em 2009? Que cenário vislumbra para a economia nacional?
Requião: Até agora, do ponto de vista do Estado do Paraná, não temos problemas, temos uma superarrecadação, um excesso de arrecadação. Mas a crise já chega. Nós prevíamos para novembro a criação de 12 mil empregos novos; nós criamos 161 mil empregos este ano, um recorde brasileiro em relação à população do estado. E na verdade se registraram apenas 4 mil novos trabalhadores com carteira assinada. No entanto, nós tivemos a manutenção da criação de empresas - 4 mil novas empresas registradas na junta comercial. A Volvo demitiu 440 trabalhadores. A queda do valor das empresas paranaenses foi fantástica. A única empresa que não perdeu foi a Companhia Paranaense de Energia Elétrica, que na crise ainda conseguiu subir 1,4%. Eu acredito que não é um cenário azul. O estado não terá grandes alterações no ano que vem. Temos o Fundo de Desenvolvimento Urbano, as reformas que tínhamos de fazer na educação e na saúde já foram feitas, hospitais foram fundados, e o importante não é diminuir despesas e custeios, pois isto significa diminuir despesas com educação, com saúde e com segurança, e estabelecer uma série de hierarquização de investimentos - investimentos que tenham um efeito multiplicador na economia.
DCI: O senhor acha que o governo está tomando as medidas necessárias para minimizar os efeitos da crise no País? Se estivesse no comando da política econômica, que medidas o senhor tomaria?
Requião: O governo federal está tentando tratar uma pneumonia com aspirina. As medidas não estão incorretas, mas elas estão em doses muito pequenas. O presidente Lula liberou o depósito compulsório dos bancos, e eles investiram em letras do Tesouro, não repassaram para a economia. Controle dos empréstimos, do câmbio, nós perdemos mais de R$ 7 bilhões de dólares na entrada e na saída, embora a entrada tenha se mantido constante, e num volume razoável. Portanto, o controle do câmbio é uma medida a ser tomada. E além disso, temos de investir pesadamente em infra-estrutura. O governo não pode diminuir gastos: temos de compensar a diminuição de atividades do setor privado e continuar a cuidar do salário dos trabalhadores. Afinal, um dos aspectos desta crise é uma superprodução sem salários para dar conta dela. Mas precisamos continuar a alimentar os salários para que a economia possa andar.
DCI: O Paraná está preparado para enfrentar os efeitos da crise? Que medidas já foram tomadas?
Requião: O Paraná está preparado para enfrentar os efeitos da crise. O Paraná tem tomado atitudes no caminho certo. Isentamos as micro e pequenas empresas de qualquer tipo de imposto, nós criamos um fundo de aval para o financiamento dos agricultores, o Paraná tem um programa de irrigação noturna das 21h às 6h, com desconto na eletricidade rural, que já é barata, de 75% para os agricultores. O Paraná tem uma série de medidas que culminam agora com a redução dos impostos sobre aquilo que o povo compra, os bens de consumo de salário: 95 mil itens estão tendo a tributação diminuída, de 25% e 18% para 12%, e uma compensação em impostos que incidem sobre as pessoas mais ricas é uma justiça tributária. E este é um dos caminhos que o Brasil pode tomar: a redução de impostos que recaem sobre a população mais pobre.
DCI: Em 2009, além da crise, estão na agenda do Congresso as reformas política e tributária. Sobre a primeira, o que, no atual sistema político, o senhor avalia que deveria ser modificado? É favorável ao fim da reeleição?
Requião: A reforma tributária do governo federal é uma reforma neutra, mas ela agiliza a cobrança, ela é bem engendrada. O Paraná vota a favor da reforma tributária. Agora, a reforma política é conversa mole, isto não muda nada, despolitiza o País, acaba com a discussão de temas que não podem ser temas de uma região ou de uma cidade, como a educação, a saúde pública, a independência do Brasil. A reforma política proposta é a reforma política do consenso de Washington. É a despolitização do processo eleitoral e político brasileiro. Eu já fui favorável ao fim da reeleição; hoje, não mais. Quatro anos é muito pouco para um governo. Eu peguei um estado quebrado, levei três anos arrumando, e tinha um ano só para trabalhar; hoje eu estou conseguindo, em meu segundo mandato, completar isso tudo. É necessário um mandato mais longo ou a reeleição. O resto é demagogia.
DCI: Sobre a reforma tributária, o senhor acha que é possível aperfeiçoar o texto do relator Sandro Mabel e aprová-lo em 2009?
Requião: O texto da reforma tributária nós discutimos com o Mabel. No Paraná, estamos votando e recomendando o voto na reforma tributária.
DCI: O PMDB saiu fortalecido nas eleições deste ano. Em 2009, certamente começa o debate sobre a eleição de 2010. Hoje, o PMDB está aliado com o presidente Lula, mas já há no partido lideranças que defendem o lançamento de candidatura própria -o senhor mesmo já foi apresentado como possível presidenciável- ou ainda uma aliança com o PSDB, em torno de José Serra. Qual a sua opinião sobre os rumos do PMDB em 2010?
Requião: O PMDB saiu fortalecido nas eleições deste ano, o partido tinha de pensar em se coligar com o PT. Não pode fazer uma coligação pela direita. O PT tem as suas mazelas, nós temos muitas, talvez muito mais que o PT. Mas nós tínhamos de reunir o PMDB e o PT nesta visão de centro-esquerda para enfrentar esta tentativa de volta da direita ao governo do Brasil.
DCI: Como o senhor avalia a alta popularidade do presidente Lula no cenário de crise econômica? A economia é o que sustenta a aprovação ou há algo mais além dela?
Requião: A popularidade de Lula deve-se à elevação do nível de renda das classes C, D e E, às políticas sociais, ao crescimento que ocorreu no Brasil. Conforme a linha econômica a que se afilie um crítico, trata-se de dar uma explicação ou outra, mas concretamente o governo do Lula foi bem.
DCI: O senhor não poderá concorrer em 2010 ao governo do Paraná. Quais são os projetos políticos do governador Requião?
Requião: O meu projeto é terminar o governo. Se começarmos a pensar em projetos políticos, perdemos o foco do estado, começamos a pensar em integrações, e esquecemos os compromissos e objetivos assumidos em uma campanha eleitoral. Eu posso pensar em muita coisa, mas o fundamental é que eu não envolvo isso, neste momento, na governança do Paraná. Eu me limito integralmente a cumprir os compromissos de campanha.
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