Pular para o conteúdo principal

FSP: após uma 1ª temporada viciante, série 'Você' volta à Netflix com nova personagem complexa

You, ou Você em português, é das melhores séries de 2019, viciante é pouco para definir. Vale a leitura da resenha da Folha de S. Paulo.

O que faz diferença nesta nova etapa é a conquista da vez, Love
Maníaco de boa aparência procura moça sincera para seduzir e depois torturar.

Após uma primeira temporada viciante, a série “Você” voltou à Netflix no fim do ano com a promessa de repetir a fórmula bem sucedida acima, aperfeiçoando-a.
Considerando que o maníaco em questão, interpretado pelo astro pós-adolescente Penn Badgley (de “Gossip Girl”), não tem mais como perturbar a mulher que dizia amar, a única injeção de novidade na série teria de vir de seu novo foco de interesse. Deu certo —ou quase.
Joe (Badgley), o vendedor de livros de aparência tímida que segue suas vítimas e descobre seus gostos para poder encantá-las, agora está em Los Angeles, fugindo do rastro de sangue deixado em Nova York.
Atrás dele, vem a ex-namorada-fantasma que ressurgiu nos episódios finais, Candace (Ambyr Childers), cheia de segredos a revelar. Para que ela não o encontre, ele adota uma nova identidade.
Só o nome, porém, muda: Joe ainda vai trabalhar numa livraria, ainda está rodeado de gente estranha e ainda cerca seu objeto de desejo, afastando de maneira heterodoxa eventuais obstáculos.
O que faz diferença nesta nova etapa é a conquista da vez, Love (Victoria Pedretti, a filha perturbada de “A Maldição da Residência Hill”), uma personagem com muito mais nuances e carisma do que a insossa Beck (Elizabeth Lail).
Como Joe, ela tem um passado mal explicado, um ex que morreu e uma carência implacável. Como Beck, está cercada de amigos que a protegem como se fosse uma criança.
Pedretti entregou-se ao papel com a mesma intensidade perturbadora que Badgley dá a seu Joe. Ao mesmo tempo que conquista, intoxica, mais ou menos como um perfume doce que impressiona no primeiro momento e depois se revela enjoativo e nauseante.
Por causa disso, a série às vezes fica cansativa. Ao mesmo tempo, o fato de ter uma antagonista à altura do vilão-protagonista a torna menos maniqueísta e mais interessante.
O próprio Joe começa a mostrar mais camadas desta vez, e é possível entrever uma infância complicada e uma adolescência idem. Os autores também o enchem de culpas na tentativa de humanizá-lo.
Parece um erro. O personagem sempre foi calculadamente sedutor, para mostrar que o perigo pode vir de qualquer um. Contudo, humanizá-lo em demasia resulta na estranha figura do psicopata com culpa e empatia —uma contradição em termos, já que a característica principal de um psicopata é a incapacidade de empatizar com o outro.
Poderia até se aventar que Joe tem outro tipo de transtorno, mas as cenas de matança despreocupada imediatamente anulam essa hipótese.
De qualquer forma, “Você”, apesar dos lapsos, continua eficaz em manter o espectador ansioso e cresce com um elenco de apoio afiado.
Os produtores já acenam para uma terceira temporada, e o gancho deixado para isso indica que o que começou como passatempo ligeiro pode vir a ser um suspense surpreendentemente intrigante.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...