Pular para o conteúdo principal

Banco Mundial reduz previsão de crescimento global ao mínimo desde a crise

No El País: entidade estima expansão de 2,5%, dois décimos a menos do que nos prognósticos de junho; economia sofre com guerras comerciais e falta de investimentos. E qual será o reflexo no Brasil? Menos crescimento do que o esperado ou o país vai se descolar do mundo e crescer?

Por MANUEL V. GÓMEZ
A economia mundial cresce no ritmo mais lento desde que saiu da Grande Recessão. O Banco Mundial estima que a expansão em 2019 tenha sido de apenas 2,4%, o que é o dado mais baixo em uma década, de acordo com sua série estatística. E as perspectivas para este ano não melhoram muito. A instituição presidida por David Malpass prevê um crescimento de 2,5%, dois décimos a menos do que nos prognósticos de junho. Este agravamento das perspectivas foi maior na zona do euro: de 1,4% para 1% em 2020.
OCDE reduz projeção para crescimento mundial ao nível “mais fraco” em uma década
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e o enfraquecimento dos investimentos prejudicaram a economia mundial e a fizeram crescer em 2019 abaixo do esperado, diz o Banco Mundial no relatório Perspectivas Econômicas, divulgado na noite desta quarta-feira. Os 2,4% de aumento no ano passado representam dois décimos a menos do que essa organização internacional previra apenas seis meses antes. O FMI já havia alertado em outubro que 2019 seria o ano de menor crescimento no mundo desde a Grande Recessão.
Se em 2018 o comércio mundial se expandiu 4%, no ano passado não passou de 1,4%: "[É] de longe o ritmo mais fraco desde a crise financeira". Para este ano, a previsão é que as transações cresçam 1,9%.
Essa recuperação resultará em uma leve melhora no crescimento mundial neste ano. Os economistas do Banco Mundial calculam que o PIB global aumentará em um décimo. Mas a situação é frágil. “A recuperação esperada poderá ser mais forte se eventos políticos recentes —que baixaram as tensões comerciais— levarem a uma redução contínua da incerteza. No entanto, predominam os riscos de encolhimento, incluindo um possível retorno de uma escalada nas tensões comerciais em todo o mundo, recessões nas maiores economias e distúrbios financeiros nos países em desenvolvimento”, alerta o relatório, nesta edição intitulado Crescimento Lento, Desafios Políticos.
O risco financeiro se reduziu em razão das baixas taxas de juros, que em muitos casos chegam a ser negativas. Segundo o documento, cerca de 12 trilhões de dólares (49 trilhões de reais), um quarto da dívida mundial, têm rentabilidade negativa. No entanto, isso só acontece no Japão e na Europa Ocidental, esclarece o Banco Mundial.
Essa situação global, no entanto, não afeta da mesma maneira todo o mundo. A revisão global de dois décimos para baixo em 2020 apresenta disparidades regionais. Nos EUA, o prognóstico melhora em um décimo para este ano —1,8%— e para 2021 se situa em 1,7%. Na zona do euro, porém, a previsão para 2020 (1%) cai quatro décimos em relação à de meados do ano passado e se mantém a mesma para o próximo ano (1,3%).
“Várias economias [na Europa] estão à beira da recessão, em especial com a fraqueza do setor industrial alemão, por causa da queda na demanda asiática e das adversidades no setor automobilístico. A incerteza sobre o Brexit também influencia no crescimento”, assinala. "As taxas de juros negativas no continente podem minar ainda mais a rentabilidade dos bancos e corroer a estabilidade financeira", acrescenta.
A revisão é ainda mais severa com os países emergentes, especialmente os da América Latina. A redução das expectativas na Argentina leva o Banco Mundial a esperar uma contração da economia de 1,3% —um corte de 3,5 pontos. No México, a redução é de oito décimos e no Brasil, de cinco.
Menos duras são as previsões para a China, que continuará crescendo a um ritmo elevado, de 5,9% este ano, apesar do corte de dois décimos nas previsões. Um dos principais riscos apontados é que “a efetividade do crédito para estimular o crescimento está diminuindo [...]”. Também indica um possível aumento de falências de bancos locais e no sistema financeiro paralelo (informal). Apesar de tudo, o Banco Mundial reduz o perigo na China por causa da “baixa dependência de financiamento externo e da ampla capacidade fiscal e monetária”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...