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Bolsonaro teve avanço na economia, mas abandonou meio ambiente e combate à corrupção, diz The Economist

Interessante o balanço da revista britânica sobre o primeiro ano do governo Bolsonaro. Para a revista, maior feito em 2019 foi aprovação da reforma da Previdência. Matéria é do portal da revista Época.

Em artigo publicado nesta quinta-feira (02/01) em sua edição impressa, a revista britânica The Economist diz que, embora considere ter havido avanços na economia brasileira neste ano, o governo Jair Bolsonaro vem ameaçando as instituições democráticas e promovendo retrocessos na área ambiental e no combate à corrupção.
A revista diz que Bolsonaro foi eleito "porque eleitores estavam traumatizados com a pior recessão da história do país, entre 2014 e 2016, pela criminalidade e pelas revelações de corrupção nos mais altos níveis da política e do empresariado".
Segundo a revista, os eleitores esperavam que Bolsonaro trouxesse prosperidade, paz e probidade ao Brasil, mas, depois de um ano de governo, eles só conseguiram "parte do que queriam".
A revista diz que o número de homicídios no país diminuiu, mas afirma que isso ocorreu em grande medida porque os conflitos entre fações criminosas esfriaram, e que Bolsonaro abandonou o combate aos crimes de colarinho branco.
"Em vez de fortalecer as instituições democráticas do Brasil, ele (Bolsonaro) as está testando. No que diz respeito a corrupção e meio ambiente, o Brasil ou travou ou está andando para trás", afirma a Economist.

PREVIDÊNCIA COMO PONTO POSITIVO
Para a revista, o maior feito de Bolsonaro em 2019 foi a aprovação da reforma da Previdência, que, segundo a Economist, "ajudará a desarmar uma armadilha que o Brasil montou contra si mesmo ao pagar benefícios fartos a pessoas que, na média, se aposentam por volta dos 55 anos".
A medida, segundo a Economist, ajudou a restabelecer a confiança na economia, colaborando para a redução da taxa de juros ao seu menor nível em 33 anos. A revista diz que, em 2020, a economia brasileira deve crescer "ao menos 2%, bem acima da média latino-americana".
A revista elogia bandeiras do ministro da Economia, Paulo Guedes, como a defesa da privatização de empresas públicas, a simplificação de impostos e a transferência de poder e dinheiro para Estados e município.
Mas a publicação afirma que Bolsonaro parece ter adotado as ideias econômicas de Guedes apenas "por enquanto", e que suas posições em outros campos "não podem ser simplesmente ignoradas, ainda que o Congresso e os conselheiros mais equilibrados do presidente tenham até agora contido seus piores instintos".
"Enquanto ele continuar a apoiar a violência policial, há poucas chances de estancar sua tendência de alta", diz a revista, citando uma das posições do presidente que considera condenável.
Em outro ponto, a Economist cita uma coletiva de imprensa em dezembro na qual Bolsonaro disse a um repórter que ele tinha "uma cara de homossexual terrível".
O texto critica, ainda, a postura do governo quanto ao combate à corrupção. A revista diz que o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, "foi comprometido por revelações de sua proximidade imprópria com procuradores" quando julgava as ações da Operação Lava Jato.
A revista também menciona denúncias de que o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, "embolsou dinheiro pago a funcionários quando era um deputado estadual e tem laços com 'milícias' homicidas de ex-policiais".
Por fim, a Economist critica as atitudes do governo quanto ao meio ambiente, citando dados que apontaram uma alta de 80% nos alertas de desmatamento na Amazônia nos 11 primeiros meses de 2019 em comparação com o mesmo período do ano anterior.
"Bolsonaro demitiu o chefe da agência espacial após ela reportar dados desfavoráveis de desmatamento, esvaziou agências de controle ambiental e incitou fazendeiros e madeireiros que tacaram fogo para limpar a terra", diz a Economist, referindo-se à saída do diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão.
A revista conclui que "se Bolsonaro transformar a economia, os brasileiros terão razões para serem gratos. Mas eles, e o mundo, terão pago um preço alto e desnecessário".


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