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Uma inevitável decisão no primeiro turno?

É bastante provável que o Brasil conheça o nome do sucessor ou sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no início de outubro. A saída de Ciro Gomes (PSB) da disputa presidencial torna este cenário cada vez mais provável.
Nada contra Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio e demais candidatos dos pequenos partidos, mas é fato que as chances maiores são mesmo de que campanha fique polarizada entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Ainda que a soma de Marina, Plínio e todos os nanicos chegue a 15%, quando se consideram os votos válidos a probabilidade de Dilma ou Serra conseguirem, descartados os brancos e nulos, um voto a mais do que a soma de todos os outros candidatos – este é o conceito que define uma vitória no primeiro turno – é muito grande.
Esta hipótese de trabalho deve estar norteando as pesquisas qualitativas dos marqueteiros responsáveis pelas campanhas de Dilma e Serra. E certamente está no horizonte dos políticos que articulam as candidaturas. De imediato, o efeito da saída de Ciro da jogada é o aumento do preço do PP, detentor de precisoso 1,20 minuto no horário eleitoral gratuito. Tucanos e petistas já estão a fazer agrados ao partido, que no fundo é o herdeiro mais sólido da antiga Arena-PDS legendas que deram suporte à ditadura militar. Serra assanhou-se a oferecer a vaga de vice ao senador Francisco Dornelles, eleito pelo Rio, mas mineiro de vocação e tio de Aécio Neves. Já o PT do presidente Lula tem a força da caneta e pode mandar para casa todos os indicados do partido, que conta com o poderoso ministério das Cidades e diversos cargos em segundo escalão.
Boa parte dos analistas está achando que o PP acaba nos braços de Serra. Este blog vê a coisa de modo diferente. Para saber o que vai acontecer, é preciso observar quem de fato manda no PP. Em São Paulo, Paulo Maluf é o cacique mais importante. Os dois estão fechados com Dilma. Fazem parte da Executiva Nacional os governistas Ricardo Barros, Mário Negromonte, Pedro Henry, Aline Corrêa, Vadão Gomes e Benedito de Lira, além do ministro Márcio Fortes. Sim, o presidente do PP é o senador Dornelles, mas trata-se de um partido em que os caciques têm bastante poder e a decisão certamente será colegiada, e não fruto da vontade do presidente.
É óbvio que o poder de barganha de Serra com a oferta da vaga de vice é grande, mas este blog ainda acredita que prevalecerá o pragmatismo de gente como Delfim, Mauf, Vadão e outros.
Outro partido que está indeciso é o PTB, mas neste caso as chances de o presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), influenciar para que os trabalhistas fiquem ao lado de Serra são muito maiores. Sim, o partido também faz parte da base governista de Lula, mas em diversos Estados, como São Paulo, é aliado incondicional dos tucanos. Se for para apostar, este blog diria que o PP vai de Dilma e o PTB, de Serra. Quem viver, verá...

PS em 30/04: Originalmente, por lapso deste blogueiro, Delfim Netto aparecia ao lado de Maluf como cacique que decide no PP. Bem, hoje em dia Delfim já não é o cacique que foi e nem está no PP, mas no PMDB de Orestes Quércia. Agradeço ao leitor Johnny Pira pela oportuna lembrança.

Comentários

  1. Acredito que há mais um ponto a ser levado em consideração, no caso da análise concernente à decisão que será tomada pelo PP. Francisco Dornelles, o maior trunfo tucano para fechar com a legenda, tem sua base política no Rio de Janeiro.

    É verdade que foi contra a posição do governo na questão dos projetos de lei do pré-sal, e não apenas no que se refere aos interesses fluminenses, mas foi contra até mesmo o projeto de partilha. Entretanto, Dornelles é aliado de primeira hora de Sérgio Cabral. Provavelmente precisa mais manter sua influência no governo do Rio do que no governo federal.

    Cabral, como se sabe, é aliado de Lula e do PT carioca/fluminense. Até que ponto vai essa aliança e a influência de Sérgio Cabral sobre Dornelles? Essas são algumas perguntas que considero relevantes para avaliarmos o destino da legenda...

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  2. Ciro pulou na fritura

    A imprensa conservadora sempre rejeitou Ciro Gomes e agora o trata como um mártir. Conseguiu vê-lo fora da campanha paulista (com ajuda do idiossincrático PT local), mas frustrou-se por sua desistência da disputa presidencial. Ao contrário do que muitos dizem, o quadro mais proveitoso para José Serra seria o deputado concorrer isolado, sem estrutura partidária nem tempo de rádio e TV, dividindo a base governista e beneficiando o ex-governador com seu antagonismo feroz.
    Nunca houve chance para uma “terceira via”. A visibilidade desproporcional de Marina Silva atende à necessidade de criar uma anti-Dilma que, se necessário, ataque a petista para impedi-la de vencer no primeiro turno.
    Político experiente, Ciro sabia das próprias dificuldades. Quando se expõe ao sacrifício público, valoriza-se nos arranjos de alianças regionais e tenta escapar da posição secundária que as circunstâncias lhe reservaram.

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  3. Que eu saiba o Delfim tá no PMDB, inclusive não conseguiu se reeleger depois que saiu do PP. Ou já voltou pro ninho?
    Quem vai decidir se o Dornelles vai ser o vice é o Aecio. A bola tá com ele. Serra ganha duas vezes, ganha o tempo do PP e ainda amarra Aecio na campanha, afinal não poderá cruzar os braços pro tio.

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