Este blogueiro subscreve o brilhante artigo de Luiz Carlos Azenha, que vai reporoduzido na íntegra, para os leitores do Entrelinhas. Saiu primeiro no blog do autor, é claro, mas merece ser copiado e lido do começo ao fim. De povo, caro Azenha, Benjamin não apenas não entende como guarda uma providencial distância. O negócio dele é mesmo a retaguarda da vanguarda, ou vice-versa, a depender do momento. Já o Otavinho joga em qualquer posição, conforme ele mesmo já admitiu em livro que escreveu sobre os seus grandes dramas existenciais. Gente estranha, com gostos esquisitos. Mas, enfim, não será este blog a emitir qualquer juízo sobre as escolhas de cada um... O que vale mesmo é ler o texto de Azenha.
A patética esquerda sem povo
O episódio envolvendo César Benjamin, a Folha de S. Paulo e o "estupro" do frágil militante do MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado) tem um caráter didático.
Antes de avançar, no entanto, recorro à memória de meu pai, o seo Azenha, que um dia foi militante comunista no interior de São Paulo. Era, o seo Azenha, a contradição ambulante: empresário durante o dia, militante clandestino durante a noite. Fez muita besteira na vida. Mas, curiosamente, como imigrante português tinha uma surpreendente capacidade de rir de suas próprias besteiras. E das dos outros.
Durante a ditadura militar o seo Azenha costumava frequentar reuniões clandestinas em um sítio nas proximidades de Bauru. Tinha a disciplina dos stalinistas (só tocou nesse assunto em casa muitos anos depois, quando a ditadura tinha acabado). Mas talvez por ter sido empresário tinha uma visão não dicotômica do mundo. Gostava de rir do fato de que os militantes que vinham de São Paulo traziam cartilhas com as quais pretendiam doutrinar os locais para aplicar o comunismo chinês ou soviético ao Brasil.
Esse preâmbulo tem o objetivo de dizer que seo Azenha, como militante, jamais tirou proveito pessoal do fato de ter sido preso pela ditadura militar. Jamais usou isso para se fazer de herói. Ou para obter vantagens, materiais ou de status.
O que me leva de volta ao artigo de César Benjamin, uma construção "literária" em que o autor tenta estabelecer uma conexão sentimental com os perseguidos pela ditadura militar, com o objetivo de "desclassificar" Lula, o recém-chegado que, no mínimo, grosseiramente despreza os militantes históricos como o jovem do MEP e, no extremo, estupra o idealismo do jovem militante com o seu pragmatismo.
Pois é disso que se trata: do antigo embate entre a vanguarda -- à qual César Benjamin alega pertencer -- e o povo, essa massa disforme que não sabe bem o que quer e que depende das luzes da vanguarda para perseguir o seu caminho.
O que Lula fez, na prática, foi "roubar" o povo de César Benjamin.
Eu deveria escrever O POVO, essa construção mítica da cabeça da esquerda, cujas vontades devem ser moldadas e apropriadas para a construção de um FUTURO igualmente mítico e glorioso.
O problema de Benjamin é que Lula é esse POVO. Ao dirigir os metalúrgicos do ABC, Lula fez mais para destruir a ditadura militar que todas as reuniões e assembléias da esquerda brasileiras multiplicadas por dez. Pelo simples fato de que o POVO, na cabeça da esquerda brasileira, nunca foi mais que massa de manobra. A esquerda brasileira é, na essência, tão elitista quanto a direita.
Lula, gostem ou não dele, representa a política do possível. Do incrementalismo -- etapismo, diriam os outros. Do tomaládácá. Faz parte da tradição do "pai dos pobres", do "pai da Pátria", perfeitamente integrada à história brasileira.
É por isso que Lula, o estuprador, satisfaz a fantasia sexual da esquerda e da direita brasileiras. Ele é o predador, que precisa ser contido a qualquer custo. O predador que ameaça a ideia de que O POVO não sabe o que quer e precisa ser conduzido ao nirvana pela vanguarda. De esquerda ou de direita, tanto faz. Este é o nexo entre Otávio Frias Filho e César Benjamin. Ambos querem conduzir O POVO. Só falta combinar com ele.
Nota do Viomundo: O fato concreto é que a esquerda de hoje é uma esquerda eleitoral. Que depende de 50% + 1 para se manter no poder, no Brasil, na Venezuela ou no Uruguai. Ao aceitar esse jogo parte da esquerda abdicou de seu caráter revolucionário "a qualquer custo".
A patética esquerda sem povo
O episódio envolvendo César Benjamin, a Folha de S. Paulo e o "estupro" do frágil militante do MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado) tem um caráter didático.
Antes de avançar, no entanto, recorro à memória de meu pai, o seo Azenha, que um dia foi militante comunista no interior de São Paulo. Era, o seo Azenha, a contradição ambulante: empresário durante o dia, militante clandestino durante a noite. Fez muita besteira na vida. Mas, curiosamente, como imigrante português tinha uma surpreendente capacidade de rir de suas próprias besteiras. E das dos outros.
Durante a ditadura militar o seo Azenha costumava frequentar reuniões clandestinas em um sítio nas proximidades de Bauru. Tinha a disciplina dos stalinistas (só tocou nesse assunto em casa muitos anos depois, quando a ditadura tinha acabado). Mas talvez por ter sido empresário tinha uma visão não dicotômica do mundo. Gostava de rir do fato de que os militantes que vinham de São Paulo traziam cartilhas com as quais pretendiam doutrinar os locais para aplicar o comunismo chinês ou soviético ao Brasil.
Esse preâmbulo tem o objetivo de dizer que seo Azenha, como militante, jamais tirou proveito pessoal do fato de ter sido preso pela ditadura militar. Jamais usou isso para se fazer de herói. Ou para obter vantagens, materiais ou de status.
O que me leva de volta ao artigo de César Benjamin, uma construção "literária" em que o autor tenta estabelecer uma conexão sentimental com os perseguidos pela ditadura militar, com o objetivo de "desclassificar" Lula, o recém-chegado que, no mínimo, grosseiramente despreza os militantes históricos como o jovem do MEP e, no extremo, estupra o idealismo do jovem militante com o seu pragmatismo.
Pois é disso que se trata: do antigo embate entre a vanguarda -- à qual César Benjamin alega pertencer -- e o povo, essa massa disforme que não sabe bem o que quer e que depende das luzes da vanguarda para perseguir o seu caminho.
O que Lula fez, na prática, foi "roubar" o povo de César Benjamin.
Eu deveria escrever O POVO, essa construção mítica da cabeça da esquerda, cujas vontades devem ser moldadas e apropriadas para a construção de um FUTURO igualmente mítico e glorioso.
O problema de Benjamin é que Lula é esse POVO. Ao dirigir os metalúrgicos do ABC, Lula fez mais para destruir a ditadura militar que todas as reuniões e assembléias da esquerda brasileiras multiplicadas por dez. Pelo simples fato de que o POVO, na cabeça da esquerda brasileira, nunca foi mais que massa de manobra. A esquerda brasileira é, na essência, tão elitista quanto a direita.
Lula, gostem ou não dele, representa a política do possível. Do incrementalismo -- etapismo, diriam os outros. Do tomaládácá. Faz parte da tradição do "pai dos pobres", do "pai da Pátria", perfeitamente integrada à história brasileira.
É por isso que Lula, o estuprador, satisfaz a fantasia sexual da esquerda e da direita brasileiras. Ele é o predador, que precisa ser contido a qualquer custo. O predador que ameaça a ideia de que O POVO não sabe o que quer e precisa ser conduzido ao nirvana pela vanguarda. De esquerda ou de direita, tanto faz. Este é o nexo entre Otávio Frias Filho e César Benjamin. Ambos querem conduzir O POVO. Só falta combinar com ele.
Nota do Viomundo: O fato concreto é que a esquerda de hoje é uma esquerda eleitoral. Que depende de 50% + 1 para se manter no poder, no Brasil, na Venezuela ou no Uruguai. Ao aceitar esse jogo parte da esquerda abdicou de seu caráter revolucionário "a qualquer custo".
Porto Alegre,9 Dezembro h.18 rua Araujo (ABI)
ResponderExcluirJunto apoiando o MST!!
http://www.flickr.com/photos/valeriobr/4153708071/sizes/o/
O pó de arroz carioca já foi para o saco!
ResponderExcluirCésar Benjamin é apenas um sintoma
ResponderExcluirParticipei do repúdio à “Ditabranda”, mas não fui ao protesto contra o artigo de César Benjamin. Acho que a celeuma lhe conferiu visibilidade desnecessária e alimentou uma ilusória vocação “polemista” da Folha.
É incrível que o jornal tenha descido a esse nível de vulgaridade. Há alguns anos, seria inimaginável que qualquer veículo publicasse um texto acusando o presidente da República de querer sodomizar alguém na cadeia (tecnicamente, “atentado violento ao pudor”), apenas porque um colunista obscuro decidiu combater a popularidade do mandatário.
Parece fácil, para Antonio Cicero e outros, defender essa liberdade opinativa de mão única. Mas ninguém consegue explicar por que nenhum governo jamais foi atacado de maneira tão grosseira, descarada e inescrupulosa. De erro em erro, a cada suposto “deslize” porcamente corrigido, constrói-se a metodologia difamatória que está reduzindo o jornalismo brasileiro ao achaque ideológico.
A truanice de Benjamin é exemplo menor, infantil até, de uma tendência que teve episódios muito mais graves e conseqüentes. Mas ela serve como anúncio do que nos aguarda nas batalhas eleitorais vindouras.