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A hora de Serra e Lula

José Serra vai bem, obrigado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também vai muito bem, obrigado. É o que revela a presquisa Datafolha publicada neste final de semana. A popularidade do governo Lula bateu recorde histórico - não apenas em relação à performance do próprio Lula, mas de todos os presidentes pesquisados pelo instituto. E Serra abriu uma confortável vantagem de 9 pontos sobre Dilma Rousseff.

Afinal, o que esses números querem dizer?

A interpretação de pesquisas é sempre complicada, mas no que diz respeito a Lula e Serra, talvez as coisas sejam mais simples do que parecem. Lula vai bem porque a economia vai muito bem - empregos estão sendo gerados, a renda vai subindo, há crédito na praça. Em outras palavras, o povão está satisfeito porque o dinheiro está entrando e as possibilidades de consumo estão se ampliando. O Brasil é um país muito desigual e a carência de consumo das classes mais pobres é enorme. Para esta parcela da população, Lula resolveu muitos problemas, sobretudo o principal: deu condições para os pobres consumirem mais. Só que o governo também é aprovado por parcela do topo da pirâmide e da classe média, do contrário não chegaria aos quase 80% de aprovação verificados pelo Datafolha - e vale lembrar que este instituto não pesquisa a popularidade pessoal do presidente, apenas a do governo. A aprovação no topo e na classe média é mais sutil - no topo, ela se dá porque o presidente manteve um pragmatismo absoluto em relação os planos iniciais de seu partido, e na classe média, porque, ao contrário do que muita gente diz e pensa, ela também vem sendo beneficiada economicamente pelo atual governo.

E Serra? Por que o governador vai tão bem nas pesquisas? O que está provocando tamanha resiliência, que o mantém em primeiro lugar há tantos meses? Não, definitivamente, já não pode ser apenas o efeito do "recall", há algo mais e a base governista sabe disto. Serra não tem carisma algum, e se está na frente, não é apenas porque a imprensa adota uma postura simpática e até parcial em relação à candidatura tucana, como querem muitos petistas. Serra está na frente por uma razão muito simples: não é Lula quem está do outro lado. Se fosse, é óbvio que o governador paulista teria seus 25% ou até mesmo 30%, mas Lula teria certamente mais de 50%, com folga. O problema tem nome e sobrenome: Dilma Rousseff. A escolha do presidente, ele mesmo sabe disto, é uma aposta de alto risco. Lula nunca deixou outra liderança se sobressair durante seu governo e sua história partidária, ele sempre foi o líder e comandante. Escolheu uma mulher forte e determinada, mas que jamais disputou eleição, a primeira será para presidência da República.

Não é fácil carregar uma candidata assim. Claro que a campanha nem começou e Dilma tende a subir quando o povão perceber que ela é a candidata de Lula, e não Serra. Só que em política as coisas não são tão simples, transferir votos é possível, mas sempre difícil. Serra já cedeu e não vai tentar fazer um Aloysio Nunes Ferreira candidato ao governo porque sabe que Geraldo Alckmin é muito mais forte, tem vôo próprio e votos, especialmente no interior de São Paulo... O PT tinha outros nomes mais vinculados a Lula e ao PT - Eduardo e Marta Suplicy, Jaques Wagner, Tarso Genro e até mesmo José Dirceu - este fora da disputa pelas regras impostas por sua cassação do mandato de deputado federal. Lula, porém, optou por uma solução diferente: se vencer com Dilma, a vitória é exclusivamente sua; se perder, a derrota será exclusivamente dela, e o diálogo com Serra não é algo que vá dar muita dor de cabeça para o atual presidente, embora, é óbvio, este não seja o cenário com o qual ele trabalhe.

Dilma pode ganhar a eleição? Sim, pode, mas o favorito é José Serra. Este blog acha mais provável uma vitória da ministra, mas o governador de São Paulo é muito forte e deverá fazer bonito na eleição, mesmo que perca. A menos que Marina Silva tenha uma performance pífia e Ciro Gomes desista da candidatura, a eleição deverá ser decidida no segundo turno. E aí tudo tende a esquentar bastante, os erros e acertos das equipes de marketing político vão contar muito e poderão ser fundamentais em uma eleição que tende a ser bastante acirrada.

A postura do presidente de deixar de lado a hipótese de um terceiro mandato deveria ser hoje objeto de louvação dos oposicionistas, porque sem dúvida alguma nove entre dez analistas políticos vaticinariam a vitória de Lula já no primeiro turno, fosse ele hoje o candidato petista e qualquer que fosse o adversário. Mas Lula preferiu deixar o barco correr e refutou a hipótese de mais uma reeleição. Não é pouca coisa, e a verdade é que a grande chance de Serra reside justamente na falta de "persona" de sua adversária. É evidente que quando a campanha começar, o "fator Lula" deve pesar bastante. Serra sabe disto e já sinalizou que em Lula, não baterá. Vai tentar se eleger mostrando aos brasileiros que sua biografia é mais confiável do que a de Dilma. Resta saber se isto é suficiente...

Comentários

  1. Descordo em ALGUNS pontos...
    Não sei se DILMA é tão sem carisma assim...
    Serra será sempre o FHCMAM e isso nunca vai tirar...
    A disputa será entre o antes e o depois de LULA ... Não é só transferência de VOTO que pede por votar em sua candidata e sim uma continuidade de um governo realizada por ele... Só Basta LULA falar que será Min Chefe da casa Cívil no GOVERNO DILMA!

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  2. Acho que seu texto faz pouco caso da Dilma. Ela se impôs como candidata, não foi uma invenção do Lula. Se houvesse alguém com melhor viabilidade eleitoral, sairia candidato. Mas não havia. Nenhum desses que você citou tinha condições políticas de se impor eleitoralmente. Todos têm fraquezas muito maiores que as dela. Por diversas razões. O Tarso, por exemplo, meu favorito, porque explodiu pontes demais quando foi presidente interino do PT. O PT de São Paulo, diga-se que, em minha opinião, por atos equivocados dele, não o engole. Jacques Wagner teria muito mais dificuldades no sul/sudeste que Dilma. Enfim, Lula só intuiu antes de muita gente a melhor candidata. O nome dela se impôs sozinho. A total ausência de resistência ao nome dela não é "porque Lula faz o que quer com o PT". Isso não é verdade. O PT é muito complexo até para Lula meter goela abaixo uma vontade exclusivamente sua. Dilma construiu credibilidade com o Partido e seus eleitores. E foi ela quem construiu, não Lula. Este só reconheceu isso. Os militantes e simpatizantes do PT sabem que devem muito do sucesso do 2º governo Lula a ela. Isso é fato.
    Se vai ganhar, não sei. Se perder, vai aparecer um monte de gente dizendo que fulano seria melhor candidato e tal. Mas minha impressão é que não há melhor candidato nas hostes governistas.
    E, sinceramente, desconfio demais dessa pesquisa Datafolha, feita na surdina. Estou sendo torcedor? Não sei, só sei que o jogo vai ser pesado e a FSP tem muito a perder com uma não eleição de Serra. Vamos esperar outras pesquisas.

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  3. Tudo bem, mas como explicar os resultados da pesquisa quanto às intenções de voto espontâneas? Serra vai bem?

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  4. O direito de comparar
    (publicado na revista Caros Amigos)


    A mídia conservadora menospreza o tom plebiscitário das eleições presidenciais porque tem horror a promover um confronto direto entre os resultados dos governos FHC e Lula. Embora a imensa aprovação ao petista represente um julgamento público que jamais estaria dissociado de méritos administrativos, seu caráter subjetivo permite atribuí-la parcialmente ao carisma ou à índole populista do mandatário. Já as estatísticas são perigosas, pois menos permeáveis a contaminações ideológicas de qualquer espécie.
    Por isso há tamanho esforço para omitir os dados existentes ou diluí-los em amostragens de longa duração. A previsível tendência evolutiva dos grandes períodos atenua as particularidades das gestões, conferindo base pseudocientífica à falácia de que elas foram semelhantes e indissociáveis. O passo seguinte é adotar o discurso oposicionista contra a “malandragem de Lula”, não apenas para roubar-lhe a discutível glória de superar seu medíocre antecessor, mas porque, em 2006, a candidatura de Geraldo Alckmin ruiu no momento em que o impopular FHC foi trazido ao debate.
    A tentativa de desqualificar as comparações é uma estratégia antidemocrática para empobrecer a campanha eleitoral em favor da candidatura do PSDB. O golpe visa neutralizar um elemento fundamental da definição do voto, mais importante ainda quando a escolha envolve continuidade e ruptura, personificadas por partidos adversários, que protagonizaram governos sucessivos. Excluída a possibilidade de cotejar experiências administrativas, restam demagogias, ataques pessoais e falsas reputações fabricadas pelos tendenciosos veículos de São Paulo e Minas Gerais.
    A imprensa viola suas prerrogativas constitucionais quando sonega informações cruciais para o exercício da cidadania. O eleitor tem o direito de conhecê-las, e só ele pode julgar sua relevância.

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  5. PRA SE PENSAR, HEIN!

    9/03/2010 - 22:52

    A fácil propaganda negativa de passeatas

    Por Jotavê (Blog do Nassif)

    Muitos irão interpretar o gesto de Serra como “autoritário”. Concordo com a interpretação. É um gesto autoritário, mesmo. Essa interpretação, porém, apesar de correta, é pobre. O gesto de Serra não é apenas “autoritário”. É calculado. Serra está investindo numa polarização com os setores mais radicais do PT, pois aposta que essa polarização irá render-lhe dividendos políticos.

    Dará a ele um inimigo diferente de Lula, mas identificado ao partido de Mercadante, ou de quem quer que venha a ser seu adversário em São Paulo. Um inimigo que, ao contrário de Lula, é odiado pela imensa maioria dos brasileiros: o extremista político, personificado neste episódio pela diretora da Apeoesp.

    É nesse extremista que Serra buscará fixar seu alvo, reservando palavras muitíssimo mais doces para o presidente Lula e para o legado de seu governo.

    Bebel não será a única. Logo em seguida, haverá um confronto previsível com os extremistas que invadiram o Coseas, na Universidade de São Paulo. Será fácil induzi-los à violência – eles se instalaram nela desde o primeiro momento.

    Será fácil espalhar boatos de que existem até traficantes envolvidos na invasão. Policiais à paisana, a esta altura, já devem ter identificado os melhores alvos para as câmeras da polícia. Será fácil exibir vidros e portas arrebentados – elas formarão um belo conjunto ao lado das fotos dos livros queimados pelos manifestantes do sindicato dos professores.

    Estão enganadíssimos os que pensam que movimentos como o dos professores ou dos estudantes da USP irão desgastar o governo Serra. Não estou entrando aqui no mérito das reivindicações, mas apenas fazendo um comentário sobre a oportunidade e a forma como elas vêm sendo feitas.

    Vocês, que ficam fascinados com o trânsito da Paulista interrompido por manifestantes na hora do rush e com os prédios públicos ocupados e invadidos por estudantes ensandecidos; vocês que admiram Lula, mas não são capazes de aprender com ele a lição que seu governo nos tem dado desde o primeiro dia; vocês que sonham com uma ruptura induzida por movimentos sociais cada vez mais aguerridos, cada vez mais radicais, cada vez mais intratáveis nos quadros institucionais; vocês, do alto de sua empáfia e das produndezas de sua incapacidade de compreender o eleitor brasileiro, estão dando uma contribuição decisiva para que José Serra seja o próximo presidente do Brasil.

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  6. Resiliência por resiliência, vale lembrar de Marta Suplicy, na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2008. Vale lembrar até mesmo de Geraldo Alckmin no mesmo pleito. Três ou quatro meses antes das eleições, Gilberto Kassab dividia o terceiro lugar com Paulo Maluf, bem longe dos dois, fazendo o papel de mero coadjuvante. Esta eleição de 2010 vai ser definida na TV, penso eu. Se Dilma tiver mais tempo no horário gratuito, vai levar tranquilo. Aliás, a pequena subida de Serra está justamente ligada às suas aparições na TV, não tendo sido diferente com a arrancada de Dilma, que se deu pelo mesmo motivo.
    Minha humilde análise está aqui: http://sidnei-quasetudo.blogspot.com/2010/03/e-o-jacare-ainda-nao-fechou-boca.html
    Abraço!

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  7. Fôlego para Serra

    O último Datafolha suscitou comoção exagerada. As médias dos principais institutos apontam para o estabelecimento de duas linhas paralelas: José Serra na faixa dos 35% e Dilma Rousseff na dos 28%. A tendência é esse quadro permanecer, até o acirramento da disputa, a partir de julho.
    As oscilações apontadas pelo Datafolha foram construídas pela agressiva campanha midiática empreendida para salvar a candidatura Serra. Houve peças publicitárias financiadas pelo contribuinte paulista; nenhum analista mencionou-as porque possuem uma conotação explicitamente eleitoreira e, portanto, ilegal. Mas houve também ativa contribuição dos grandes veículos “jornalísticos”, fabricando noticiário e colunismo escancaradamente favorável ao governador.
    É um equívoco menosprezar a pesquisa. Seu resultado era previsível. Serra conta com uma competente assessoria de comunicação, gigantesca máquina administrativa, apoio da mídia corporativa. Todas as fichas do projeto oposicionista estavam empenhadas no crescimento do governador antes da desincompatibilização. Foi sua manobra estratégica mais importante do primeiro semestre.
    Se os coordenadores da campanha de Dilma não perceberam que isso poderia acontecer, a candidata tem mais problemas do que imagina.

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  8. Nossa, tantas semanas para esta análise pobre?

    Dizer que a Dilma nunca disputou eleições é o óbvio, mas já que se es†á listando as caracterísiticas da candidata, como ignorar as "vantagens" dela ser, por exemplo, totalmente distante de escândalos (leia-se mensalão) que envolveram nomes do PT durante o governo Lula? e vc acha que a Marta, por ter já sido prefeita, disputado eleições e mais antiga no PT teria mais chances que a Dilma?

    Desculpe, mas a campanha mesmo ainda nem começou e dizer agora que a Dilma é uma candidata "díficil de carregar" parece uma certa síndrome de Mãe Dinah que assola alguns jornalistas.. afinal, se ela nunca disputou uma eleição, come sabê-lo?

    O que se sabe (porque já foi comprovado em 2 eleições presidenciais) que quem é difícil de carregar é o FHC. Mas por motivo empírico. Para dizer isso da Dilma, feliz ou infelizmente, devemos esperar a campanha começar oficialmente, ver o Lula ir na TV e dizer com todas as l-e-t-r-a-s: "Taí a MINHA candidata!".

    A partir daí é que o bicho vai pegar. E pode até ser que ela seja difícil mesmo, mas vai ter que esperar pra ver pra saber. antes disso, como disse, é exercício barato de futurologia.

    Aliás, aqui em SP, mesmo os "bem informados" da classe média, mal sabem quem é Dilma, no máximo que é ministra do Governo e olhe lá. Não sabem que ela já exerce cargos públicos há 20 anos, que é economista, que remodelou o sistema elétrico depois do apagão... acham que só o Serra é um candidato viável na disputa. Por isso ele tem vantagem na estimulada, mas já perde na espontânea.

    Que eu saiba, estatísticos e analistas eleitorais sérios, a esta distância do pleito (e pela realidade brasileira) acham mesmo que tem que olhar é para a estimulada. E nesta, no DataFolha, Dilma tinha 12%, mais 2% para "candidato do Lula", mais 1% para "candidato do PT". Ou seja, sem nem levar em conta eventual transferência dos 8% que o próprio Lula tem nesta pesquisa, a dilma por seus próprios atributos estaria com 14-15%, com o Serra com 10%. São 5 pp de diferença, metade da intenção do Serra.

    Por isso eu acho, com todo o respeito, que em agosto este seu post aqui será história. Vamos esperar até lá para saber.

    um abraço e não fique tanto tempo assim sem escrever.

    Thiago VB

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  9. Caros do Blog,

    Saiu mais um capítulo da série A Idade das Trevas, em meu humilde blog (http://terragoyazes.zip.net). No ar e na rede: O Itamarati Tucano e a Diplomacia de Pés-Descalços!

    ResponderExcluir
  10. Santa Maria.. falar que "e na classe média, porque, ao contrário do que muita gente diz e pensa, ela também vem sendo beneficiada economicamente pelo atual governo." e um tremendo engano da sua parte, acho que vc nao tem empresa aberta no seu nome. Any way vc paga PIS e COFINS? se sim nao falaria isto.

    Newsman makes me feel so NUTS sometimes

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