O presidente Jair Bolsonaro conseguiu uma proeza nas últimas duas semanas: em plena crise do Covid-19, seus atos de demitir o ministro da Saúde e o diretor-geral da Polícia Federal conseguiram tirar das manchetes dos jornais e portais noticiosos a crise na saúde. Mais ainda, a saída de Maurício Valeixo da PF teve como consequência o pedido de demissão de Sérgio Moro do ministério da Justiça, colocando em xeque a credibilidade do presidente e seu governo, pois Moro não caiu calado, ao contrário, acusou o presidente de ações que podem ser caracterizadas como crimes de responsabilidade, o que abre caminho para um processo de impeachment de Bolsonaro.
Não deixa de ser irônico que a maior crise política da atual gestão tenha sido provocada pelo próprio presidente e seu entorno, em especial os filhos de Bolsonaro, dois dos quais diretamente envolvidos em investigações da Polícia Federal. Foi para protegê-los que o presidente quis mexer na PF, encontrando o obstáculo do ministro da Justiça ao movimento.
Ainda é cedo para vaticinar a queda do presidente, seja por impeachment ou renúncia (hipótese pouco provável a julgar pelo desastrado pronunciamento de Bolsonaro horas após a coletiva de Moro), mas o fato é que o governo perdeu com a saíde do ex-juiz da Lava Jato um de seus pilares mais sólidos até aqui. Moro contava com expressivo apoio no meio militar e na população, não há nenhum outro nome capaz de preencher o vácuo criado pela inabilidade do presidente em lidar com a situação.
Do ponto de vista político, o governo agora conta com o apoio do chamado Centrão, o que lhe garante certa tranquilidade em um eventual processo no Congresso, porém a demissão do ministro da Justiça já rachou, e isto é perceptível nas redes sociais, a base de apoio popular do presidente. A reação contundente de apoio a Moro foi até maior do que a de Mandetta na semana passada e isto representa um isolamento ainda maior de Bolsonaro. Vários empresários que o apoiavam também manifestaram desagrado não apenas à saída do ex-juiz mas também em relação ao que parece ser um movimento da ala militar de afastar o ministro Paulo Guedes do centro das decisões sobre o plano de retomada do crescimento econômico após o pico da pandemia no Brasil.
Não passou despercebida, por sinal, a diferença da postura de Guedes na coletiva em que o presidente atacou Moro e o acusou de mentiroso: de meias e máscara, o “Posto Ipiranga” destoava e parecia mandar uma mensagem de não concordar com a orientação corrente de reabrir o país nas próximas semanas. Se Guedes também deixar o governo, Bolsonaro terá apenas o pilar militar, e mesmo assim, rachado, para se sustentar, além do Centrão, é claro, que neste caso terá todos os “motivos” para aumentar as suas “reivindicações” no Congresso. Onde passa boi, passa boiada, diz o velho ditado popular...
Tudo somado, ainda é cedo para saber que rumo o governo vai tomar, se o do enfrentamento em relação às denúncias de Moro ou de uma tentativa de recomposição política para trazer o mínimo de tranquilidade para a administração da crise. O fato é que o ex-juiz tem muita munição na manga, conforme já demonstrou ao passar para o Jornal Nacional trechos de conversas com o presidente no Whatsapp. E a questão de fundo, ou seja, as investigações sobre os filhos do presidente correm não apenas no âmbito da PF, mas também da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Supremo Tribunal Federal, que não investiga, é claro, mas está envolvido de diversas maneiras, inclusive já foi instado a se manifestar sobre as acusações do agora ex-ministro da Justiça. O cerco, portanto, vai se fechando no sentido de um isolamento ainda maior do presidente e qualquer desfecho hoje é imprevisível.
Meses atrás a jornalista Maria Cristina Fernandes escreveu no jornal Valor Econômico que estaria havendo uma negociação de bastidores para que Bolsonaro renunciasse em troca de alguma imunidade a seus filhos. É uma hipótese a ser levada em consideração, ainda mais em um momento de crise aguda como o que vivemos. Situações extraordinárias pedem soluções extraordinárias, não seria uma surpresa se o presidente passasse o cargo ao seu vice, seja renunciando em definitivo, seja em um afastamento temporário, por motivos de saúde, por exemplo. Agora, porém, tudo isto é uma enorme especulação, o que realmente importa é termos um governo que governe, o que, infelizmente, não parece ser verdade neste momento tão difícil para o Brasil. (Por Luiz Antonio Magalhães em 25/4/20)
Não deixa de ser irônico que a maior crise política da atual gestão tenha sido provocada pelo próprio presidente e seu entorno, em especial os filhos de Bolsonaro, dois dos quais diretamente envolvidos em investigações da Polícia Federal. Foi para protegê-los que o presidente quis mexer na PF, encontrando o obstáculo do ministro da Justiça ao movimento.
Ainda é cedo para vaticinar a queda do presidente, seja por impeachment ou renúncia (hipótese pouco provável a julgar pelo desastrado pronunciamento de Bolsonaro horas após a coletiva de Moro), mas o fato é que o governo perdeu com a saíde do ex-juiz da Lava Jato um de seus pilares mais sólidos até aqui. Moro contava com expressivo apoio no meio militar e na população, não há nenhum outro nome capaz de preencher o vácuo criado pela inabilidade do presidente em lidar com a situação.
Do ponto de vista político, o governo agora conta com o apoio do chamado Centrão, o que lhe garante certa tranquilidade em um eventual processo no Congresso, porém a demissão do ministro da Justiça já rachou, e isto é perceptível nas redes sociais, a base de apoio popular do presidente. A reação contundente de apoio a Moro foi até maior do que a de Mandetta na semana passada e isto representa um isolamento ainda maior de Bolsonaro. Vários empresários que o apoiavam também manifestaram desagrado não apenas à saída do ex-juiz mas também em relação ao que parece ser um movimento da ala militar de afastar o ministro Paulo Guedes do centro das decisões sobre o plano de retomada do crescimento econômico após o pico da pandemia no Brasil.
Não passou despercebida, por sinal, a diferença da postura de Guedes na coletiva em que o presidente atacou Moro e o acusou de mentiroso: de meias e máscara, o “Posto Ipiranga” destoava e parecia mandar uma mensagem de não concordar com a orientação corrente de reabrir o país nas próximas semanas. Se Guedes também deixar o governo, Bolsonaro terá apenas o pilar militar, e mesmo assim, rachado, para se sustentar, além do Centrão, é claro, que neste caso terá todos os “motivos” para aumentar as suas “reivindicações” no Congresso. Onde passa boi, passa boiada, diz o velho ditado popular...
Tudo somado, ainda é cedo para saber que rumo o governo vai tomar, se o do enfrentamento em relação às denúncias de Moro ou de uma tentativa de recomposição política para trazer o mínimo de tranquilidade para a administração da crise. O fato é que o ex-juiz tem muita munição na manga, conforme já demonstrou ao passar para o Jornal Nacional trechos de conversas com o presidente no Whatsapp. E a questão de fundo, ou seja, as investigações sobre os filhos do presidente correm não apenas no âmbito da PF, mas também da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Supremo Tribunal Federal, que não investiga, é claro, mas está envolvido de diversas maneiras, inclusive já foi instado a se manifestar sobre as acusações do agora ex-ministro da Justiça. O cerco, portanto, vai se fechando no sentido de um isolamento ainda maior do presidente e qualquer desfecho hoje é imprevisível.
Meses atrás a jornalista Maria Cristina Fernandes escreveu no jornal Valor Econômico que estaria havendo uma negociação de bastidores para que Bolsonaro renunciasse em troca de alguma imunidade a seus filhos. É uma hipótese a ser levada em consideração, ainda mais em um momento de crise aguda como o que vivemos. Situações extraordinárias pedem soluções extraordinárias, não seria uma surpresa se o presidente passasse o cargo ao seu vice, seja renunciando em definitivo, seja em um afastamento temporário, por motivos de saúde, por exemplo. Agora, porém, tudo isto é uma enorme especulação, o que realmente importa é termos um governo que governe, o que, infelizmente, não parece ser verdade neste momento tão difícil para o Brasil. (Por Luiz Antonio Magalhães em 25/4/20)
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