Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2020

Acabou 2020, começou a corrida por 2022

Abre da Newsletter da LAM Comunicação Depois de uma eleição realizada em plena segunda onda da pandemia de Covid-19 no Brasil – até mesmo o candidato Guilherme Boulos (PSOL) testou positivo na semana decisiva -, todos os olhos começam a se voltar para o futuro, precisamente para 2022, quando o Brasil terá eleições gerais.  Olhando os resultados finais das eleições municipais, é possível dizer que os dois extremos não foram bem. O presidente Jair Bolsonaro foi um péssimo cabo eleitoral, os candidatos que apoiou, em sua maioria, foram derrotados nas urnas. O ex-presidente Lula também amargou uma derrota significativa, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhuma capital será administrada por um petista. Por outro lado, não há vencedores claros neste ano estranho. O DEM pode ser apontado como partido de performance surpreendente, o que dá ainda mais força para o projeto político do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, hoje a maior liderança do partido ao lado de ACM Neto, que por si

Dica da Semana: Garotas mortas, Todavia, livro

Da Newsletter da LAM Comunicação. Selva Almada retrata o feminicídio sem romantização  Não são Vidas Perdidas, não são Rosas Arrancadas ou Mulheres Interrompidas. O título Garotas Mortas causa, de início, um desconforto pela ausência de eufemismo - figura de linguagem tão utilizada para confortar-nos de tabus sociais. Sem metáforas e sem rodeios, o título abre o tom que alinhava toda a construção narrativa da autora argentina.  Selva Almada é uma das escritoras mais proeminentes da literatura latina contemporânea, tanto nos gêneros de ficção como de não ficção. Em Garotas Mortas, realiza uma investigação jornalística sobre três casos de feminicídio ocorridos no interior da Argentina durante a década de 80. Apesar de ser considerada uma obra de não-ficção, existem traços de subjetividade da autora, que justifica de certa forma o porquê de ter iniciado essa investigação: segundo Almada, a sua percepção acerca da condição de ser mulher na sociedade se deu quando ainda era adolescente, no

Parente é serpente

Semanas depois de romper com Eduardo Campos, seu primo, em plena campanha presidencial de 2014, Marília Arraes soube que havia sido ridicularizada no comitê de campanha do PSB em Pernambuco. Uma cadela vira-lata fora batizada com o seu nome, e políticos fizeram a zombaria chegar até a então vereadora de 30 anos. Seis anos depois, a história é lembrada por amigos quando querem demonstrar que ela é calejada para a briga com os Campos. Eduardo morreu naquela campanha em um acidente aéreo, e seu filho João hoje é o adversário da petista na acirrada eleição para a Prefeitura do Recife. A disputa política na família faz as agressões recíprocas, que já não são leves, se amplificarem. E uma outra mulher é apontada por aliados e adversários como figura central no racha do clã mais importante da política pernambucana, escreve Thais Bilenky na Piauí, em matéria publicada na quinta, 26/11, antes da vitória de João Campos no domingo, 29/11. Continua a seguir. Viúva de Eduardo e mãe de João, Renata

Vai ser diferente

Muito mais importante que o resultado do segundo turno das eleições municipais deste domingo para definir posições e articulações preparatórias ao embate nacional de 2022 é a escolha dos presidentes da Câmara e do Senado. Na verdade, o mundo político considera importante mesmo a escolha dos deputados, porque em fevereiro eles definirão quem será a pessoa com poder de vida ou de morte sobre pedidos de impeachment contra o presidente da República, escreve Dora Kramer em sua coluna na Veja. Continua a seguir. Um presidente da Câmara fidelíssimo ao Palácio do Planalto tende a arquivar os pedidos, enquanto outro não alinhado se inclina a deixar essas solicitações na prateleira, ou “sentar em cima”, no jargão algo vulgar corrente no Parlamento. Assim fez Rodrigo Maia, em cuja gaveta se acumulam mais de cinquenta contra Jair Bolsonaro. Já Lula e FH contaram com aliados para levar semelhantes intenções e ideias ao arquivo. Essa é a chave do início da corrida. Não porque haja no horizonte dos o

Triste como um tango: a morte de Maradona

Diego Armando Maradona era uma metáfora da Argentina. Nasceu pobre na cidade de Lanús, num hospital chamado Evita Perón. Já milionário, com a arrogância autorizada apenas aos gênios que vieram muito de baixo, chegou a recusar uma Ferrari vermelha dada de presente pelos dirigentes de seu clube, o Napoli, avaliada em 400 000 dólares, apenas porque não tinha mudança de marcha. Não sabia dirigir carros automáticos. Em poucos dias, um novo veículo foi estacionado na porta de sua casa. Tal qual a Argentina, país de destinos trágicos como o de Evita, derrotada pelo câncer aos 33 anos, e de Carlos Gardel, morto aos 44 anos num acidente de avião, ele brincava com a morte e, paradoxalmente, não descia da torre de marfim. Nisso também era um argentino da gema, e a história ajuda a entender a postura autossuficiente que, se não é de todos, evidentemente, é palpável. Por volta de 1930, diante do espantoso PIB à margem do Rio da Prata, então o sétimo mais elevado do mundo, havia uma frase em francês

O que promete o primeiro escalão de Joe Biden

Janet Yellen, Alejandro Mayorkas, Avril D. Haines, Linda Thomas-Greenfield... A maioria dos nomes anunciados até agora pelo presidente eleito americano, Joe Biden, para compor seu primeiro escalão mostra que, já na largada, o novo governo terá como característica a diversidade. Yellen será a primeira mulher a assumir o Tesouro. O mesmo vale para Haines na área de inteligência. Mayorkas, escalado para ser o chefe do Departamento de Segurança Interna, que, entre outras coisas, cuida de imigração, nasceu em Cuba e foi para os Estados Unidos com os pais depois da tomada de poder por parte de Fidel Castro. Thomas-Greenfield, uma diplomata negra, será embaixadora nas Nações Unidas, escreve Filipe Barini na Época desta semana. Vale a leitura, continua a seguir. Todos os nomes apresentados são de profissionais experientes e reconhecidos em suas áreas. Yellen, casada com o ganhador do Nobel de Economia George Akerlof, é uma economista com brilho próprio, respeitada por uma produtiva carreira ac

Bolsonaro cumpre promessa e desconstrói o Brasil

O governo de Jair Bolsonaro acaba de comprar mais um conflito estúpido com a China; ainda não reconheceu a eleição de Joe Biden nos EUA; acusou recentemente países europeus de comprar madeira ilegal do Brasil —o que os tornaria, quando menos, corresponsáveis pelo desmatamento— e é hostil à Argentina, um dos principais clientes, ainda que em declínio, da combalida indústria brasileira. O festejado acordo UE-Mercosul é agora só miragem, e o ingresso do país na OCDE vai ficando mais distante. Bolsonaro é hoje um dos líderes mais isolados no planeta. Em seu rosto, percebem-se laivos de nanico orgulhoso, que não se dobra à grande conspiração contra os homens justos. Não é sem razão que suas honras viris mereceram o reconhecimento de Vladimir Putin, escreve Reinaldo Azevedo em sua coluna na Folha de S. Paulo, publicada sexta, 27/11. Continua a seguir. Em nota oficial, a embaixada da China reagiu, em termos apropriadamente duros, à acusação feita por Eduardo Bolsonaro —filho de Jair e preside

Renato Janine Ribeiro: O povo que clama por um tutor

“Como a extrema-direita chegou ao poder” é a pergunta (e subtítulo) do inteligente livro de Wilson Gomes, “Crônica de Uma Tragédia Anunciada”. Há dois pontos em que este livro é talvez inédito. Primeiro, reúne ensaios publicados no Facebook entre 2014 e 2018: raro é o livro que vem da rede social mais popular. São posts refletidos, maduros, acompanhando a degradação de nossa cena social e política. Segundo, doutor em filosofia e referência dos estudos de comunicação no Brasil, Gomes analisa o desastre brasileiro não como os analistas e cientistas políticos, mas como especialista em comunicação política, escreve Janine para o Valor, em resenha publicada dia 27/11 no jornal. Continua a seguir. É verdade que ele compartilha com os cientistas políticos a convicção na importância das instituições. Aqui temos uma pequena discordância de ênfase. A política moderna se abre em duas vertentes, uma que prioriza a ação inovadora, outra a instituição. No limite, ação é revolução, instituição é Esta

GPT-3, “a máquina de imitação mais impressionante jamais produzida”

Ele pode produzir e-mails, códigos de computador, anúncios na internet, enredos para videogames, “riffs” de guitarra e sugestões para fantasias de Halloween. Pode escrever poemas desconcertantemente plausíveis, no espírito de Emily Dickson, prosa ao estilo de Ernest Hemingway e até, se for instruído, uma conversa imaginária entre Dickinson e Hemingway. As possibilidades parecem quase infinitas. Quando tive a oportunidade de interagir com o GPT-3, modelo de geração de linguagem que causa sensação no mundo da Inteligência Artificial (IA), recrutei sua ajuda na redação de uma nova biografia inoculada com o espírito de Luke Skywalker, o herói de “Star Wars”. Treinado em praticamente todos os textos acessíveis na internet, o GPT-3 é admirável por sua velocidade, escala e versatilidade. Eis o que produziu: “John Thornhill já era um herói de guerra condecorado quando se uniu à Aliança Rebelde. Era perito em explosivos e intuitivo na arte da guerra, mas seu dom era a maneira como lidava com o

José de Souza Martins: Racismo, uma das manifestações mais radicais de preconceito

Ficaram aquém do historicamente correto as interpretações que do racismo fizeram o vice-presidente da República e o presidente a propósito do assassinato, por asfixia, de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos de idade, trabalhador, pobre e negro. Foi ele espancado até a morte por dois seguranças de um supermercado em Porto Alegre. O general Mourão declarou: “Para mim, não existe racismo no Brasil. É uma coisa que querem importar, mas aqui não existe”. Bolsonaro falou que o caso indica “importação” de ideias e ações de quem quer dividir o país e tomar o governo. É velho argumento do autoritarismo brasileiro, escreve Martins em texto publicado no Valor Econômico na sexta, 27/11. O racismo é uma das manifestações mais radicais do preconceito. O preconceito está na estigmatização da diferença representada por traços de personalidade, traços físicos, cor, costumes, apresentação pessoal, nos atributos identitários de alguém. O racismo é o preconceito ativo contra alguém em decorrência de

A barbárie em um estacionamento de supermercado

Não é preciso relatar aqui o que aconteceu em uma loja do Carrefour em Porto Alegre na semana passada, a do feriado da Consciência Negra, o Brasil inteiro assistiu, perplexo, as imagens reproduzidas inicialmente nas redes sociais e depois em todos os noticiários televisivos do país. Não foi o primeiro e não será o último “acidente” com viés racista no Brasil. Não terá sido o primeiro e não será o último assassinato de uma pessoa negra por conta de sua cor.  Os números estão aí escancarando o racismo estrutural que existe no Brasil, negado pelas autoridades que por ora ocupam o poder no governo federal e por boa parte da elite, que procuram sempre apontar outros fatores para casos lamentáveis como o que vitimou João Alberto Freitas. Pouco importa se ele começou uma briga, se estava fora de si, pouco importa até mesmo a cor dos seus algozes, porque também há muita morte de negros provocada por policiais negros, as estatísticas também mostram isto.  Não há outra maneira de enfrentar a que

Dica da Semana: O Gambito da Rainha, Netflix, série

Da Newsletter da LAM Comunicação. Vida de enxadrista se torna fenômeno de público em minisssérie  Não dá para não maratonar com O Gambito da Rainha. O autor desta coluna passou a madrugada de sábado assistindo os sete episódios da minissérie, encantado com a história de Beth Harmon, a protagonista, interpretada de forma sensacional por Anya Taylor, Isla Johnston, que faz o papel da enxadrista quando jovem e Annabeth Kelly, a Beth criança. A rigor, todos os atores e atrizes que atuam na série, lançada no final de outubro pela Netflix, estão muito bem, em especial Bill Camp como Mr. Shaibel, Moses Ingram como Jolene e Christiane Seidel como Helen Deardoff.  Baseada no livro homônimo do escritor norte-americano Walter Tevis, já falecido, a série acompanha a história de Elizabeth desde pequena, quando fica órfã após o falecimento da mãe em um acidente de automóvel a que milagrosamente sobrevive. Levada a uma espécie de orfanato apenas para meninas, se torna viciada nas “vitaminas” dadas pe

O horizonte da extrema-direita após o baque das eleições municipais

O sábado 14, um dia antes do primeiro turno das eleições municipais, foi quando o presidente Jair Bolsonaro caiu em si. Apesar de ter passado a última semana fazendo lives em prol dos candidatos que apoiaria no dia seguinte, já sabia que o desfecho que se desenhava não era promissor. Suas principais apostas, Celso Russomanno, em São Paulo, e Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, amargavam números desanimadores, segundo as últimas pesquisas. Sem muita modéstia, atrelou o mau resultado dos aliados a sua própria ausência da corrida eleitoral — já que suas lives se tornaram frequentes apenas às vésperas do pleito. Mas reconheceu estar preocupado mesmo com outra coisa: o desempenho de seu filho Carlos Bolsonaro, candidato à reeleição para vereador no Rio de Janeiro, por Natália Portinari e Naira Trindade, de Brasília, e Gustavo Schmitt e Guilherme Caetano, de São Paulo Não se tratava, obviamente, do medo de que o zero dois não se elegesse. Carlos tinha sido o vereador com mais votos em 2016,

Quem era o homem negro da vila de Elis Regina morto ao lado de casa num supermercado

Para os amigos, incluindo sua turma do futebol, ele era o Nego Beto ou João Beto. Morava na Vila do IAPI, um conjunto habitacional de relevância histórica, mas decadente e lembrado até então como residência na infância da cantora Elis Regina, em um apartamento da rua Rio Pardo. Só que desde a sexta-feira, 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra, a Vila do IAPI, no bairro Passo d’Areia, em Porto Alegre, também será sempre lembrada como o lugar onde morava João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, o João Beto, escreem Fabio Brisolla e Alfredo Mergulhão na Época desta semana, vale ler. Ele morreu nessa data, a 300 metros de distância de casa, no estacionamento do supermercado Carrefour Passo d’Areia, vítima de uma sequência de agressões dos seguranças do estabelecimento. Foi ao local fazer compras com sua mulher. Hábito, aliás, que era corriqueiro na rotina de João Alberto. “Nunca nos sentimos ameaçados no supermercado. Nunca ofendemos ninguém. Íamos lá, brincávamos com o pessoal,