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Mostrando postagens de abril, 2021

O clima está mudando

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação. O presidente Jair Bolsonaro parece ter levado a sério a frase do compositor Chico Buarque, em outro contexto, que dizia que o governo brasileiro falava grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos. Em discurso na quinta-feira (22) na Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente brasileiro recuou em tudo que dizia sobre o tema e prometeu adotar medidas que reduzam as emissões de gases do efeito estufa. Falou fino, e não deixa de ser irônico que o presidente norte-americano Joe Biden tenha deixado a reunião justamente no momento em que Bolsonaro iria falar.  Biden não é bobo, sabe perfeitamente do alinhamento do atual governo brasileiro com o de seu antecessor, Donald Trump, e talvez por este motivo não tenha prestigiado o discurso. Mas o mais importante não foi o recuo, precedido de uma “costelada”, almoço em solidariedade ao ministro Ricardo Salles, que tem sido muito criticado na gestão do Meio Ambiente, em especial por conta do aumento

Cúpula do Clima revelou que o Brasil encolheu

Em dezembro de 2005, o mundo se reunia em Hong Kong para uma conferência sobre o comércio. Ali, regras seriam negociadas para permitir a construção de um sistema internacional mais equilibrado e uma base mais favorável para o desenvolvimento das economias em desenvolvimento. Os olhos do mundo estavam fixados numa aliança improvável de países emergentes, o G-20, que insistia que as placas tectônicas do planeta precisavam começar a se mover. Nunca contei essa história. Mas descobri que os principais ministros do grupo se reuniriam antes da conferência dar início para costurar uma estratégia. A meta era frear eventuais gestos da Europa e EUA para tentar manter seus indecentes subsídios agrícolas. Também descobri que a sala reservada para a reunião tinha paredes extremamente finas e pensei que, se ocupasse uma sala ao lado e permanecesse em absoluto silêncio, poderia ouvir o que aquela reunião traria. Funcionou, escreve Jamil Chade no El País, em matéria publicada dia 23/4. Continua abaixo

Rodrigo Pacheco, o equilibrista

Em 21 de fevereiro, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sentou-se à cabeceira da mesa de jantar retangular da residência oficial do Senado, em Brasília, acompanhado de dois parlamentares de campos opostos. À direita de Pacheco, estava Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho primogênito do presidente Jair Bolsonaro. À sua esquerda, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição e crítico ferrenho do Palácio do Planalto. O convite para esse encontro surgira alguns dias antes. “Randolfe, sei como é a sua relação com Flávio, mas aceitaria ir a um jantar com ele na residência oficial para discutirmos detalhes do projeto (que alterava as regras de aquisição das vacinas)?”, sugeriu o presidente do Senado, numa ligação telefônica. “Contanto que você não queira que eu beba vinho com ele, é claro que aceito”, respondeu o parlamentar da Rede, visto como um adversário intragável pela família Bolsonaro. A reunião entre os dois desafetos políticos, regada a café, água, suco e pão

Caso George Floyd: um veredito em favor do antirracismo

O julgamento do ex-policial Derek Chauvin, ocorrido na penúltima semana de abril, entra para a história como um marco no movimento negro nos Estados Unidos e no mundo. O agente foi considerado culpado pelo assassinato do ex-segurança George Floyd, sufocado com o joelho no dia 25 de maio de 2020 durante uma abordagem policial. O processo ainda deve ganhar novos capítulos, pois o condenado pode recorrer da decisão. Além disso, o tempo de prisão será determinado pela Justiça em até oito semanas. Estima-se que Chauvin pegue até 40 anos de cadeia, mas o fato de ser réu primário pode atenuar esse prazo. A promotoria, por outro lado, briga para que o tempo de detenção do homem de 45 anos seja mais longo, por causa de agravantes do caso. Durante o julgamento, cujas audiências começaram em 29 de março, Chauvin preferiu não prestar depoimento e apenas se declarou inocente. O júri o considerou culpado em três categorias diferentes de homicídio existentes na lei dos Estados Unidos: em segundo grau

Ler nos faz mais conscientes, afirma Gabriela Prioli

Comentarista política e popular nas redes, a advogada paulistana, 35, investe em clube de leitura e dá sua receita para lidar com os haters na internet, escreve Eduardo F. Filho na Veja desta semana. Abaixo, a íntegra da entrevista.  Após a criação de seu clube do livro, você está lançando uma nova iniciativa na área ao lado do historiador Leandro Karnal, pela editora Planeta. Como descobriu o poder da leitura?  Perdi meu pai em um acidente de carro aos 6 anos. Percebi meu contato com os livros na adolescência, ao encontrar os clássicos dele espalhados pela casa, como Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, e O Príncipe, de Maquiavel. Li todos no intuito de conhecer um pouco mais sobre meu pai. Ainda tenho a maioria, mas guardo um em especial: o Germinal, do Émile Zola. Num sonho, meu pai dizia que todas as respostas às minhas dúvidas estavam nesse livro. Qual é o seu critério na hora de recomendar uma obra?  Um livro bem escrito e alicerçado em boa pesquisa é o que recomendo a meus s

Possibilidade de contrair Covid ao tocar superfície ou objeto é muito rara

Caríssimo leitor, se você tiver paciência para ler até o final a coluna de hoje, vai se lembrar dela muitas vezes. No início da pandemia, eu passava horas na pia para lavar tudo o que chegava do supermercado. Ficava até tonto de tanto jogar álcool nos sacos plásticos, ensaboava, um por um, os tomates, as maçãs, o mamão, as peras, as jabuticabas. Depois, enxaguava e enxugava antes de guardar na geladeira. A depender do volume de compras, a operação durava meia hora ou mais, período em que eu lastimava o desperdício de um tempo que me faltava para responder os malditos emails e mensagens no WhatsApp que se acumulam em moto-contínuo, ler um trabalho científico, escrever ou exercer qualquer atividade capaz de tirar meus neurônios do modo letárgico. Esses cuidados tinham origem num estudo laboratorial publicado em março de 2020, que revelara a presença do coronavírus por vários dias em plásticos e superfícies metálicas. Os achados reforçavam a afirmação da Organização Mundial da Saúde, divu

Plágio improvável

Eleição, reza do dito confirmado pelos fatos, não se ganha de véspera. Tampouco se definem resultados com tal antecedência, e nossa história recente mostra isso. Nenhum dos três presidentes que disputaram, e ganharam, um segundo mandato em 1998, 2006 e 2014 estava com a vida ganha no ano anterior ao do pleito. Senão, vejamos: em 1997, Fernando Henrique Cardoso enfrentava uma das cinco crises econômicas mundiais que atingiram seu governo e via Luiz Inácio da Silva lhe roçar os calcanhares nas pesquisas eleitorais; em 2005, Lula estava enrolado até o pescoço no escândalo do mensalão e só não sofreu um processo de impeachment porque a oposição optou por vê-lo “sangrar”; Dilma Rousseff, em 2013, atordoava-se sem saber para onde ir em meio às “jornadas de junho”. Apesar desses pesares, FH, Lula e Dilma conseguiram se reeleger. Boa notícia para Bolsonaro? Não necessariamente, porque comparado aos três é o que maiores dificuldades tem pela frente. Nas vitórias dos antecessores entre outros fa

Michel Laub: Como escrever sobre o Brasil de hoje?

1. Como escrever sobre o horror? A pergunta atravessa “Guerra Aérea e Literatura”, livro que reúne palestras dadas pelo grande ficcionista alemão W. G. Sebald em Zurique, em 1997, tendo como tema os romances produzidos em seu país logo depois do fim do nazismo (Companhia das Letras, 132 págs., tradução de Carlos Abbensteth e Frederico Figueiredo). O conjunto forma um ensaio rigoroso, no qual o autor é implacável com a geração que lhe precedeu. Para ele, a literatura alemã dos anos 1940 e 1950 começa a fracassar em virtude de um constrangimento histórico: o sentimento de culpa e humilhação do povo que pouco tempo antes havia posto Hitler no poder. Afinal, o empenho em fazer um retrato honesto de ações como os bombardeios aliados no fim da guerra, que reduziram cidades a pó sem diferenciar alvos civis e militares, poderia se confundir com algum tipo de denúncia relativista - ou, mais grave, de lamento pela sorte do III Reich no conflito. Mas Sebald vai além da hipótese psicológica. A ori

Amigos e familiares revelam segredos de García Márquez

Após um ano de penúria, quando a família já tinha penhorado ou vendido praticamente tudo que tinha de valor para que o escritor pudesse fazer seu livro sem precisar trabalhar, a mulher brinca com o marido após eles gastarem os últimos tostões no correio para enviar os originais à editora que supostamente publicaria a obra: “Só falta esse romance ser uma m...”. A mulher se chamava Mercedes, o marido era Gabriel García Márquez e o romance, “Cem Anos de Solidão”, lhe daria a fama internacional depois coroada com um Prêmio Nobel de Literatura em 1982. A história é contada por Guillermo Angulo, fotógrafo colombiano e amigo do escritor desde os tempos de juventude. Angulo, que era chamado por García Márquez (1927-2014) de Maestro Angulo, é um dos entrevistados pela escritora e jornalista colombiana Silvana Paternostro em “Solidão e Companhia - A Vida de Gabriel García Márquez Contada por Amigos, Familiares e Personagens de Cem Anos de Solidão”, escreve Marcus Lopes em resenha para o Valor, p

Obsessão em atar as mãos do Estado paralisa o Brasil há três décadas

Neste EU& Fim de Semana, de 16 de abril, José Júlio Senna faz uma crítica ao meu artigo “A quem interessa a alta dos juros”, também aqui publicado. O artigo de José Júlio merece um elogio logo na partida pois, coisa rara no debate econômico de hoje, é uma resposta civilizada e racional. Dito isso, passo a expor por que discordo dos seus argumentos e os considero um exemplo dos problemas da retórica dos economistas. José Júlio concorda que não há hoje pressão de demanda sobre os preços. Discorda que a alta dos preços internacionais das commodities, associada à desvalorização do real, seja o principal fator por trás do aumento da inflação. Atribui a alta mais aos gargalos de oferta criados pela pandemia do que à pressão das commodities. Sustenta que a pandemia desorganizou a oferta, o que é incontestável, e que houve um desvio da demanda de serviços para bens, o que é uma mera conjectura. De toda forma, o ponto central de seu argumento não depende disso. Reconhece que o núcleo da inf

Pesquisa mostra que eleitor ainda não tem alternativa a Bolsonaro e Lula na eleição de 2022

Com dois polos bem definidos, tanto à esquerda, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como à direita, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quais as chances de sucesso de uma candidatura de centro nas eleições presidenciais de 2022? Esta, observam os analistas do ramo, é a pergunta de US$ 1 milhão da política nacional na atualidade. Pois algumas pistas para dirimir tal dúvida estão presentes em uma pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o Valor. A enquete constatou que, sim, em tese, há espaço para um nome de centro na disputa. Por dois motivos: a grande massa de eleitores que ainda não definiu seu voto e, paralelamente, a alta rejeição a Bolsonaro e Lula. Hoje, aponta a sondagem, a lista dos mais cotados é encabeçada pelo ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, seguido por Ciro Gomes (PDT), o ex-governador do Ceará. A relação inclui ainda o apresentador e empresário Luciano Huck, o governador paulista João Doria (PSDB), o

Dica da Semana: A moça da lata, Prato Cheio, Podcast

Conquistar pelo estômago: como a genialidade de uma marca mudou nosso paladar É sabido que muitas das tecnologias que existem hoje foram inventadas para as guerras. Em contexto bélico, toda criatividade é benvinda. Mas uma dessas mudanças é latente para nós, brasileiros. E tenho certeza de que ela está no seu armário da cozinha ou na despensa nesse momento: o leite condensado. Ou, como é popularmente conhecido, o “leite moça”. E é disso que se trata o episódio A moça da lata do podcast Prato Cheio, produzido por O joio e o trigo.  O leite condensado foi inventado pela Nestlé para que os soldados pudessem ter todos os nutrientes do leite fresco mesmo nas trincheiras. Quando a guerra acabou, a marca teve que redirecionar sua produção para outro público. Inicialmente, pode parecer chocante, mas o leite condensado era vendido em farmácias, para bebês. Sim, bebês! Essa investida não deu muito certo e é aí que começa a virada na história do paladar e nas receitas brasileiras.  Narrado por Ma

Fome, o efeito mais nefasto da pandemia

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação.  Um dos efeitos mais cruéis da pandemia da Covid-19 no Brasil é o recrudescimento de um fenômeno que havia sido minimizado por políticas públicas desde a gestão FHC: a fome. Quem anda pelas metrópoles brasileira já consegue identificar o aumento de pedintes nas ruas, muitos com cartazes reportando estar sem emprego e renda, precisando de ajuda para comer. No ano passado, o auxílio emergencial de R$ 600 mensais garantiu alimentação para muitos brasileiros e a redução do valor neste ano está deixando uma parcela relevante da população a ter dificuldades para sobreviver. Ainda que a economia venha a se recuperar com o retorno das atividades, a situação já gerou o lançamento de alguns movimentos de arrecadação de recursos e comida, como o liderado pela ONG Gerando Falcões, que lida com a situação em favelas e já conseguiu mais de R$ 15 milhões em poucas semanas de campanha. O Brasil é um país complexo e muito desigual. Quase 15 milhões de pessoas

A ditadura é uma rua de um só sentido, diz o historiador Yuval Harari

O historiador israelense Yuval Noah Harari, um dos mais populares pensadores da atualidade, diz que a pandemia de covid-19 mostrou a necessidade de maior cooperação global para que se evitem os problemas que podem ser causados pela mudança climática. Ele também vê riscos à democracia no excessivo controle de dados que algumas empresas e governos vêm obtendo sobre as pessoas e na polarização política que passou a dominar tantos países. Harari, que participou da Softys Innovation Week 2021, evento promovido pela Softys, empresa do grupo chileno CPMC na área de produtos de higiene e cuidados pessoais, respondeu a perguntas dos organizadores. “A ditadura é uma rua de um só sentido, pode-se entrar facilmente, mas é extremamente difícil sair”, disse. Matéria publicada no site do Valor no sábado, 17/4, vale a leitura.   A seguir, uma síntese dos principais temas abordados por Harari. Capitalismo de vigilância - O que acontece quando uma empresa sabe sobre mim muito mais do que eu sei sobre eu