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Mostrando postagens de abril, 2020

Dica da semana: La Casa de Papel, parte 4, série, Netflix

Sequência entrega o que promete: suspense, humor e ação  A Netflix liberou um documentário excepcional sobre La Casa de Papel, maior fenômeno mundial de audiência do canal de streaming, e vale a pena assistir, mas apenas após terminar a parte 4 da série, porque o documentário contém muitas passagens desta última sequência, atualmente disponível aos seus assinantes. O fato é que La Casa de Papel não terminou nesta parte 4, haverá pelo menos mais uma para fechar a história em curso e, sem spoilers aqui, é possível dizer que noves fora a primeira, em que os personagens são apresentados, há o efeito surpresa e o enredo do fantástico primeiro roubo é apresentado, esta é a melhor parte já filmada. O próprio documentário ajuda a entender: depois que a Netflix comprou os direitos de produzir a série, o orçamento mudou de patamar e, ao menos neste caso, dinheiro não é tudo mas ajuda bastante. E La Casa de Papel de fato entrega o que prometeu, desde o primeiro episódio da primeira temporada:

Um governo à beira do colapso

O presidente Jair Bolsonaro conseguiu uma proeza nas últimas duas semanas: em plena crise do Covid-19, seus atos de demitir o ministro da Saúde e o diretor-geral da Polícia Federal conseguiram tirar das manchetes dos jornais e portais noticiosos a crise na saúde. Mais ainda, a saída de Maurício Valeixo da PF teve como consequência o pedido de demissão de Sérgio Moro do ministério da Justiça, colocando em xeque a credibilidade do presidente e seu governo, pois Moro não caiu calado, ao contrário, acusou o presidente de ações que podem ser caracterizadas como crimes de responsabilidade, o que abre caminho para um processo de impeachment de Bolsonaro. Não deixa de ser irônico que a maior crise política da atual gestão tenha sido provocada pelo próprio presidente e seu entorno, em especial os filhos de Bolsonaro, dois dos quais diretamente envolvidos em investigações da Polícia Federal. Foi para protegê-los que o presidente quis mexer na PF, encontrando o obstáculo do ministro da Justiça a

Piauí: os novos crimes de Bolsonaro

De aparelhamento da Polícia Federal a falsidade ideológica, Moro listou irregularidades cometidas pelo presidente – mas também tem de se explicar pelos segredos que guardou, escreve Rafael Mafei Rabelo Queiroz no site da revista Piauí, em artigo publicado na sexta, 24/4, horas após a demissão de Moro. Vale a leitura para entendimento dos aspectos jurídicos da questão. Ao deixar o cargo nesta sexta-feira (24), Sergio Moro desfruta de um prestígio ecumênico: seu ato final, mais combativo que a despedida carinhosa de Mandetta, é elogiado à direita e à esquerda, entre os antigos críticos e os apoiadores de sempre, dentro e fora do núcleo duro do bolsonarismo. João Doria e Wilson Witzel, seus potenciais adversários em 2022, o aplaudem publicamente. Do além, é provável que udenistas o contemplem com suspiros de admiração: é o homem que fará desmoronar duas presidências, além de uma candidatura. Seu pronunciamento revela pontos importantes. O bom e velho juiz da Lava Jato ergueria as sobra

Larry Rohter: batalha contra o obscurantismo

Trump fala de uma guerra contra “um inimigo invisível”, e aquele inimigo é justamente o vírus da ignorância e do desconhecimento que ele e seu amigão Bolsonaro estão propagando, escreve o jornalista norte americano em artigo publicado em 24/4 no site da revista Época. Abaixo, na íntegra. Pela primeira vez desde que irrompeu a pandemia de coronavírus, estou com medo. Muito medo. Não me preocupo tanto com minha própria segurança física, embora, como toda pessoa sensata neste momento de perigo mundial, eu esteja atuando com prudência. Mas temo, sim, pelo futuro de meu país, assolado não apenas pelo vírus, mas também por um surto de comportamento irracional e atitudes completamente sem lógica. É inexplicável. Os Estados Unidos são o país mais rico na história. Temos um sistema educacional que é a inveja do mundo, nossa taxa de alfabetização também é uma das mais altas, e temos meios de comunicação que permeiam nosso cotidiano com informações precisas sobre medicina e ciência. Não somos

Pensadores que planejam futuros possíveis

Tatiana Salem Levy escreve no Valor uma interessante matéria sobre os tempos pós-pandemia. Saiu na sexta, 24/4, e vale a leitura. Na íntegra, abaixo. As semanas passam e continuamos com a terrível sensação de medo. Queremos acreditar que há uma luz no fim do túnel - e deve haver -, mas o tempo suspenso, a vida interrompida dificultam uma visão de futuro. Há quem diga que o mundo mudará para melhor após essa experiência, que será impossível retomarmos a vida como antes, com o mesmo consumo de petróleo, com o mesmo desrespeito à natureza. Há quem diga, ao contrário, que, esquecida a tragédia, voltaremos ao capitalismo predatório, talvez ainda pior. Por ora, tudo é especulação. Faz parte da estratégia de sobrevivência do homem imaginar o que virá a seguir. Sem uma ideia de mundo melhor, nos tornamos apáticos. E, de fato, há muita apatia por aí. Inevitável. Mas há também vários pensadores que, mal a pandemia começou, se puseram a planejar futuros possíveis. Faço aqui uma pequena seleção

André Lara Resende: Quem vai pagar essa conta?

O dogmatismo fiscal não ameaça só a economia: é hora de parar de repetir chavões anacrônicos e de repensar, senão quem pagará é a democracia, diz o economista em artigo publicado sexta, 24/4, no jornal Valor Econômico e reproduzido abaixo, na íntegra. Uma excelente reflexão, vale a leitura. Até os mais empedernidos defensores do equilíbrio fiscal - e no Brasil de hoje eles dão as cartas - reconhecem que diante da crise é preciso que o Estado gaste para evitar uma verdadeira catástrofe humanitária. Mas como foram pegos no contrapé, no meio de uma cruzada para equilibrar as contas públicas, para salvar o Tesouro do cerco dos infiéis, perderam o rumo. Não apenas a agenda do ministro Paulo Guedes, mas também o discurso da esmagadora maioria dos analistas, tinha se transformado em samba de uma nota só: eliminar o déficit. Tudo mais seria irrelevante ou viria como consequência. Investimentos em saneamento, segurança, saúde, educação e infraestrutura? Impossível, não há como financiá-los.

El País: Bella Ciao, a história por trás do hino da liberdade e da resistência

A Itália comemora em 25/4 o 75o aniversário da libertação do fascismo. A canção se transformou num símbolo, cujo verdadeiro significado é muitas vezes desconhecido, escreve Alessandro Leone diretamente de Cupello (Itália). A matéria, publicada hoje no site do jornal espanhol, segue abaixo, na íntegra. Bella Ciao (traduzida popularmente em português como Querida, Adeus) é uma canção anônima, e não existe nenhum dado que esclareça definitivamente sua procedência. Há apenas semelhanças textuais e musicais com antigas composições. Ela é o resultado de uma longa jornada, que foi definindo este hino à liberdade até a versão conhecida por todos e entoada em cerca de 40 idiomas. Na Itália, seus acordes não ecoam apenas nas manifestações das “sardinhas”, o grupo heterogêneo que até há poucos meses protestava nas praças do país inteiro sobretudo contra a retórica de Matteo Salvini; também marcam presença cada 25 de abril, o dia em que se comemora a libertação do fascismo em 1945. “É um hino d

Dica da Semana: Stalker, de Lars Kepler, livro

Um romance policial contemporâneo e eletrizante Muita gente acha que a palavra stalker surgiu recentemente, com a emergência das as redes sociais, mas na verdade, como explica o prefácio do livro de Lars Kepler, ela existe desde do século 18. Originalmente, significava rastreador ou caçador ilegal. Em 1921, o psiquiatra francês De Clérambault publicou a primera análise moderna de um stalker, o estudo de um paciente que sofria de erotomania. Hoje, stalker é alguém que padece de fixação obsessiva em monitorar as atividades de outra pessoa. No romance de Kepler, que na verdade é o pseudônimo de Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril, um casal sueco que escreve em conjunto, a polícia de Estocolmo recebe um vídeo de uma mulher, filmado de fora da casa dela, em uma situação claramente voyeurista e com conteúdo de apelo sexual. Minutos depois, a mulher é esfaqueada brutalmente, seu rosto é desfigurado e ela é deixada em uma posição específica que será a marca deste serial killer.

Gregório Duvivier: assim vou lhe chamar: lá ia o Moraes Moreira, descendo a ladeira

Outro obituário muito bem escrito saiu na Folha na quarta, 15 de abril. Moraes Moreira se foi deixando muita saudades e Duvivier escreveu um lindo texto, na íntegra, abaixo. “Eu sou o Carnaval de cada esquina do seu coração”, dizia um dos seus versos mais bonitos, e todo dia, quase todo dia, via Moraes Moreira naquela esquina —óculos escuros, pernas compridas, braços intermináveis. Para mim aquela esquina tinha que chamar Moraes Moreira, aquela do encontro da rua das Acácias, que por acaso só tem oitis, com a rua dos Oitis, que por acaso só tem acácias. Lá vai o Moraes descendo a ladeira, quase todo dia, em direção à padaria Gávea Shop, cujo nome acabo de descobrir no Google, porque para mim sempre foi a padaria do Moraes Moreira. Meu pai me escrevia “te pego às 17h na Moraes Moreira” —e estava entendido: era a padaria. “Gávea Shop” —que decepção de nome. Tinham que batizar de Moraes Moreira, Pães e Sonhos - Panificadora Ilimitada. Assim vou lhe chamar, assim você vai ser. Aprendi

Memória: Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de livros sobre Copacabana noir

Mateus Baldi escreveu na Folha na quinta-feira, 15/4, um belo obituário do escritor de policiais e psicanalista Luiz Alfredo Garcia-Roza, um dos autores preferidos do autor deste blog. Espinosa, seu detetive, é realmente especial e a obra de Garcia-Roza vale ser lida e relida. Que descanse em paz. Internado desde o ano passado, depois de sofrer um acidente vascular-cerebral, o psicanalista e escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, um dos mais celebrados autores policiais do país, morreu nesta quinta-feira (16), no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada por sua agente literária, Lúcia Riff. Seu livro mais recente havia sido "A Última Mulher", publicado no ano passado, depois que o autor já estava no hospital. O livro também trazia o detetive Espinosa, principal personagem de suas obras. Dono de uma voz grave, Garcia-Roza era um homem elegantemente afetuoso. Durante o tempo em que lecionou filosofia e psicanálise na Universidade Federal do Rio de Jan

Ressignificar a privacidade é preciso

Evane Beiguelman Kramer e Giselle Beiguelman escreveram na Folha um ótimo artigo sobre a questão da privacidade de dados em tempos de pandemia. Saiu na quinta, 16/4, vai abaixo, na íntegra. A Covid-19 aflora, com destaque, a interferência das plataformas digitais e das funcionalidades da inteligência artificial no combate à pandemia e na vida cotidiana. A ação governamental do estado de São Paulo, por exemplo, se apoia em um sistema que combina dados estatísticos e a geolocalização de telefones celulares, que permite identificar quantas pessoas estão cumprindo as recomendações de isolamento social. Essa não é uma prática isolada no Brasil, mas presente no mundo todo. Se é certo que tais processos de monitoramento de dados não são exclusivos das políticas públicas de combate ao coronavírus ou “invenção” da Covid-19, a propulsão da pandemia popularizou a discussão sobre a dimensão e alcance individual da digitalização de dados. O isolamento social sem precedentes da Covid-19 importa

O futuro chegou: uma leitura de Rubem Fonseca no país de Bolsonaro

Alejandro Chacoff escreve um belo texto sobre o escritor Rubem Fonseca, talvez o autor brasileiro mais importante que estava vivo no país até falecer na terça-feira, 14/4.  A resenha foi publicada no site da revista Piauí e vai abaixo, na íntegra. Em “A coleira do cão” – conto da coletânea homônima de Rubem Fonseca, publicada em 1965 –, o policial carioca Washington se irrita com o bom-mocismo de seu chefe, o delegado. “A polícia está ficando mole”, Washington diz. “E o resultado é este que o senhor está vendo: o número de assaltos e furtos aumenta dia a dia. Eu fiz o curso de detetive da escola. Lá não tem um stand de tiro, mas em compensação ensinam psicologia e direito constitucional. He, he.” O narrador de “O inimigo”, um conto anterior, se irrita com a seriedade vagamente pomposa de um ex-amigo de infância, e brada: “Só porque você deu um golpe do baú com êxito, casou com uma loura, herdou Gobelin do sogro, assiste aula de história da filosofia, dada por um professor de titica q

Valor: para especialista em desigualdade, covid-19 pode causar colapso social

Diego Viana escreve no Valor sobre os efeitos sociais da crise provocada pela pandemia do coronavírus, outro bom artigo que vale a leitura. Abaixo, na íntegra. Este é um ano de máquinas paradas e trabalhadores isolados em casa. Como a economia vai se recuperar ainda é incerto, mas uma constatação sobre o século XXI segue intocada. O capitalismo triunfou: é praticamente o único sistema econômico do mundo e está espalhado por todo o planeta. Em “Capitalism, Alone” (Capitalismo, Sozinho), lançado nos Estados Unidos, o economista sérvio Branko Milanovic, de 66 anos, conta a história desse triunfo e mostra que o domínio completo do modo capitalista de produção também é uma faca de dois gumes. O livro é uma obra de escopo mais amplo do que os anteriores de Milanovic. Professor da City University de Nova York (Cuny), Milanovic passou 20 anos como economista do Departamento de Pesquisa do Banco Mundial. No período, tornou-se conhecido como um dos maiores especialistas em desigualdade no mu