Criticado por Bolsonaro, ministro da Saúde ganha popularidade nas redes durante epidemia e sinaliza força de candidatos médicos nas próximas eleições, escrevem Thais Bilenky e Luiza Ferraz em matéria publicada na terça, 7/3, no site da revista Piauí. Vale a leitura, abaixo, na íntegra.
Todas as dúvidas e incertezas em torno da pandemia do coronavírus contribuem ao menos com um diagnóstico político-eleitoral: a crise sanitária ajudará a impulsionar candidaturas de médicos nas eleições municipais de 2020 e possivelmente no pleito marcado para 2022, estadual e nacional. Dirigentes e assessores partidários já anteveem que as chances de autoridades da saúde aumentam com a consolidação da epidemia entre as prioridades mais urgentes no debate eleitoral. “Medicina e ciência estão hoje em posição de relevo. O que tem de profissionais da saúde morrendo… Cai a ficha da população. Eles têm o reconhecimento da sociedade”, constata o presidente do PSD, Gilberto Kassab. “Considero politicamente correto os partidos políticos porem essa realidade em relevo.” Em outros partidos, como PSDB e MDB, a avaliação é semelhante, embora cautelosa. “Médico sempre teve muito apelo com a população”, diz o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB. Ele pondera, contudo, que até a eleição o cenário estará diferente e os impactos da crise no debate ainda não estão claros. O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho, concorda e acrescenta uma questão. O prazo de filiação para candidatos de 2020 se esgotou no dia 4. “Muitos não tiveram tempo de atentar para esse cenário”, afirma o deputado.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, médico, acaba personificando, nas redes sociais e nas ruas, esse reconhecimento aos profissionais de saúde – evidenciado com as salvas de palmas que a população deu da janela de suas casas na quarentena e a disparada da popularidade do ministro. Pesquisa feita pelo Instituto Datafolha revelou que a parcela que aprova o trabalho de Mandetta subiu de 55% em março para 76% na semana passada. No mesmo período, a avaliação do desempenho do presidente Jair Bolsonaro se manteve estável (33%), segundo o levantamento, feito por telefone com 1.511 pessoas.
Ao mesmo tempo, a popularidade também coloca Mandetta na linha de tiro de Bolsonaro, que ameaçou demiti-lo. O ministro defende o isolamento social como forma de adiar o pico de infecções pelo vírus, posição a que o presidente se opõe temendo os efeitos recessivos que a quarentena causará na economia e, por tabela, em suas chances de reeleição. Nesta segunda-feira, dia 6, depois de sua demissão ter sido informada nos bastidores por assessores da Presidência a jornalistas, Mandetta disse que suas gavetas chegaram a ser esvaziadas – mas que fica no governo.
No Twitter, Mandetta saltou do posto de desconhecido para uma das figuras mais mencionadas do governo: de menos de 20 mil citações por mês, chegou a 1,9 milhão em março, patamar inédito para a pasta da Saúde, normalmente fora do debate político. As citações são, em sua maioria, positivas. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora desde o ano passado as citações a políticos ligados ao governo na rede social.
Terceiro mais citado no Twitter em março, Mandetta divide o pódio com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o que confirma o protagonismo do Congresso no debate político atual. O Zero Três do presidente se tornou, na verdade, o zero um. Em relação a fevereiro, Eduardo mais do que dobrou o seu número de menções na rede social no mês de março e chegou a 2,1 milhões. O embate com a China, em meados do mês, contribuiu para catapultar seu nome. No episódio, ele responsabilizou Pequim pela pandemia de covid-19 e comparou a situação com o acidente nuclear de Chernobil, na Ucrânia, em 1986. Na publicação, Eduardo Bolsonaro acusou o governo chinês de ter acobertado “algo grave” e que, por isso, a doença teria se espalhado para o restante do mundo.
Representantes da China no Brasil subiram o tom em resposta ao comentário do deputado federal no mesmo dia. O embaixador chinês no país, Yang Wanming, exigiu um pedido de desculpas do parlamentar. O perfil oficial da embaixada chinesa no Twitter reproduziu as publicações de Wanming e afirmou que o deputado, na viagem à Miami, teria contraído um “vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”.
Eduardo se tornou o principal polo agregador do discurso bolsonarista na rede social e é colocado na posição de porta-voz do governo. Tudo isso faz com que ele já tenha sido lembrado mais de 17 milhões de vezes. O número se refere à soma das menções de todos os meses desde janeiro de 2019. Entre os integrantes do governo federal, apenas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, consegue ultrapassá-lo – com um total de 37,4 milhões de citações. De janeiro de 2019 até março deste ano, um Moro era o equivalente a três Abraham Weintraub, ministro da Educação, e a quatro Paulo Guedes, ministro da Economia.
Quem tem dividido o posto de defensor do governo com Eduardo Bolsonaro é o irmão senador, Flavio (Republicanos). As menções ao senador voltaram a crescer em fevereiro, depois de uma queda em janeiro. Os números variam em razão da investigação contra ele sobre seu envolvimento em um esquema de “rachadinhas”, da época em que ainda era deputado estadual. A Justiça do Rio de Janeiro decidiu que a investigação do caso pelo Ministério Público estadual deveria continuar, o que aumentou o número de menções a Flávio em março para 1,6 milhão.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cada vez mais se consolida como mobilizador do debate antibolsonarista, e as menções a ele têm aumentado de maneira consistente e contínua. Em março, Maia alcançou 2 milhões de citações, seu recorde desde o início do levantamento. Ele entrou em rota de colisão com apoiadores do governo no início do ano, em meio ao imbróglio do “orçamento impositivo”, que se refere à parte do Orçamento da União definida por parlamentares e que não pode ser alterada pelo Executivo. Seu crescente protagonismo na plataforma tem ofuscado até mesmo Sergio Moro, que vem perdendo espaço apesar de continuar como foco importante tanto das críticas dos antibolsonaristas como de elogios dos apoiadores do governo. Em março, Maia tomou a frente na briga entre Eduardo Bolsonaro e o governo chinês. Em um tuíte no dia seguinte à publicação que causou todo o alvoroço, pediu desculpas pelas palavras do deputado e tentou tranquilizar os ânimos da relação entre os dois países.
O debate econômico em torno das consequências do novo coronavírus, principalmente com a aprovação no Senado da renda básica emergencial de até 1.200 reais para trabalhadores informais, não gerou reflexo no número de menções ao ministro da Economia. Paulo Guedes manteve o mesmo patamar do mês anterior, de 800 mil citações no Twitter.
Todas as dúvidas e incertezas em torno da pandemia do coronavírus contribuem ao menos com um diagnóstico político-eleitoral: a crise sanitária ajudará a impulsionar candidaturas de médicos nas eleições municipais de 2020 e possivelmente no pleito marcado para 2022, estadual e nacional. Dirigentes e assessores partidários já anteveem que as chances de autoridades da saúde aumentam com a consolidação da epidemia entre as prioridades mais urgentes no debate eleitoral. “Medicina e ciência estão hoje em posição de relevo. O que tem de profissionais da saúde morrendo… Cai a ficha da população. Eles têm o reconhecimento da sociedade”, constata o presidente do PSD, Gilberto Kassab. “Considero politicamente correto os partidos políticos porem essa realidade em relevo.” Em outros partidos, como PSDB e MDB, a avaliação é semelhante, embora cautelosa. “Médico sempre teve muito apelo com a população”, diz o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB. Ele pondera, contudo, que até a eleição o cenário estará diferente e os impactos da crise no debate ainda não estão claros. O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho, concorda e acrescenta uma questão. O prazo de filiação para candidatos de 2020 se esgotou no dia 4. “Muitos não tiveram tempo de atentar para esse cenário”, afirma o deputado.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, médico, acaba personificando, nas redes sociais e nas ruas, esse reconhecimento aos profissionais de saúde – evidenciado com as salvas de palmas que a população deu da janela de suas casas na quarentena e a disparada da popularidade do ministro. Pesquisa feita pelo Instituto Datafolha revelou que a parcela que aprova o trabalho de Mandetta subiu de 55% em março para 76% na semana passada. No mesmo período, a avaliação do desempenho do presidente Jair Bolsonaro se manteve estável (33%), segundo o levantamento, feito por telefone com 1.511 pessoas.
Ao mesmo tempo, a popularidade também coloca Mandetta na linha de tiro de Bolsonaro, que ameaçou demiti-lo. O ministro defende o isolamento social como forma de adiar o pico de infecções pelo vírus, posição a que o presidente se opõe temendo os efeitos recessivos que a quarentena causará na economia e, por tabela, em suas chances de reeleição. Nesta segunda-feira, dia 6, depois de sua demissão ter sido informada nos bastidores por assessores da Presidência a jornalistas, Mandetta disse que suas gavetas chegaram a ser esvaziadas – mas que fica no governo.
No Twitter, Mandetta saltou do posto de desconhecido para uma das figuras mais mencionadas do governo: de menos de 20 mil citações por mês, chegou a 1,9 milhão em março, patamar inédito para a pasta da Saúde, normalmente fora do debate político. As citações são, em sua maioria, positivas. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora desde o ano passado as citações a políticos ligados ao governo na rede social.
Terceiro mais citado no Twitter em março, Mandetta divide o pódio com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o que confirma o protagonismo do Congresso no debate político atual. O Zero Três do presidente se tornou, na verdade, o zero um. Em relação a fevereiro, Eduardo mais do que dobrou o seu número de menções na rede social no mês de março e chegou a 2,1 milhões. O embate com a China, em meados do mês, contribuiu para catapultar seu nome. No episódio, ele responsabilizou Pequim pela pandemia de covid-19 e comparou a situação com o acidente nuclear de Chernobil, na Ucrânia, em 1986. Na publicação, Eduardo Bolsonaro acusou o governo chinês de ter acobertado “algo grave” e que, por isso, a doença teria se espalhado para o restante do mundo.
Representantes da China no Brasil subiram o tom em resposta ao comentário do deputado federal no mesmo dia. O embaixador chinês no país, Yang Wanming, exigiu um pedido de desculpas do parlamentar. O perfil oficial da embaixada chinesa no Twitter reproduziu as publicações de Wanming e afirmou que o deputado, na viagem à Miami, teria contraído um “vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”.
Eduardo se tornou o principal polo agregador do discurso bolsonarista na rede social e é colocado na posição de porta-voz do governo. Tudo isso faz com que ele já tenha sido lembrado mais de 17 milhões de vezes. O número se refere à soma das menções de todos os meses desde janeiro de 2019. Entre os integrantes do governo federal, apenas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, consegue ultrapassá-lo – com um total de 37,4 milhões de citações. De janeiro de 2019 até março deste ano, um Moro era o equivalente a três Abraham Weintraub, ministro da Educação, e a quatro Paulo Guedes, ministro da Economia.
Quem tem dividido o posto de defensor do governo com Eduardo Bolsonaro é o irmão senador, Flavio (Republicanos). As menções ao senador voltaram a crescer em fevereiro, depois de uma queda em janeiro. Os números variam em razão da investigação contra ele sobre seu envolvimento em um esquema de “rachadinhas”, da época em que ainda era deputado estadual. A Justiça do Rio de Janeiro decidiu que a investigação do caso pelo Ministério Público estadual deveria continuar, o que aumentou o número de menções a Flávio em março para 1,6 milhão.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cada vez mais se consolida como mobilizador do debate antibolsonarista, e as menções a ele têm aumentado de maneira consistente e contínua. Em março, Maia alcançou 2 milhões de citações, seu recorde desde o início do levantamento. Ele entrou em rota de colisão com apoiadores do governo no início do ano, em meio ao imbróglio do “orçamento impositivo”, que se refere à parte do Orçamento da União definida por parlamentares e que não pode ser alterada pelo Executivo. Seu crescente protagonismo na plataforma tem ofuscado até mesmo Sergio Moro, que vem perdendo espaço apesar de continuar como foco importante tanto das críticas dos antibolsonaristas como de elogios dos apoiadores do governo. Em março, Maia tomou a frente na briga entre Eduardo Bolsonaro e o governo chinês. Em um tuíte no dia seguinte à publicação que causou todo o alvoroço, pediu desculpas pelas palavras do deputado e tentou tranquilizar os ânimos da relação entre os dois países.
O debate econômico em torno das consequências do novo coronavírus, principalmente com a aprovação no Senado da renda básica emergencial de até 1.200 reais para trabalhadores informais, não gerou reflexo no número de menções ao ministro da Economia. Paulo Guedes manteve o mesmo patamar do mês anterior, de 800 mil citações no Twitter.
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