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Mostrando postagens de julho, 2020

Bolsonaro segue forte, mas advertência de Collor faz sentido

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação desta semana A revista Veja apresentou nesta semana uma ampla pesquisa sobre o cenário para as eleições presidenciais de 2022. E o que se vê ali é um candidato imbatível hoje, o presidente Jair Bolsonaro, atualmente sem partido. Em todas as simulações ele vence, no primeiro e no segundo turno. O ex-presidente Lula, inelegível neste momento, é o mais competitivo dos rivais, seguido do ex-ministro Sérgio Moro. É claro que 2022 está muito longe, ainda mais considerando um cenário de constantes mudanças, não apenas em função da pandemia de Covid-19, mas também – e ainda mais importante – da crise econômica que se avizinha. Como temos escrito aqui, o tsunami ainda não bateu na praia. Curiosamente, na mesma Veja, o ex-presidente Fernando Collor adverte, em entrevista nas páginas amarelas, que se Bolsonaro continuar governando da forma como vem conduzindo politicamente sua gestão, não terminará o mandato. Collor entende do riscado, sofreu um impea

Dica da Semana: Coisa Mais Linda, série, Netflix

Uma série para ver e ouvir Foi por (muita, realmente muita) insistência de Mariana Spezia, Diretora Executiva da LAM Comunicação, que o autor desta resenha assistiu a série Coisa Mais Linda, da Netflix. Deveria ter seguido a dica logo, porque é daquelas que vale maratonar. E, depois, ouvir a trilha sonora seguidamente (no Spotfy em https://spoti.fi/30GYKas), porque ambas, série e trilha, são maravilhosas. É preciso ouvir a trilha, que começa com The Girl From Ipanema cantada por Amy Winehouse, versão espetacular, porque é de Bossa Nova que estamos falando. A série aborda a ascensão do mais inovador estilo musical brasileiro e trata também do sofrido processo de empoderamento feminino nos anos 1960. Lançada em março do ano passado, foi criada por Giuliano Cedroni e Heather Roth, com colaboração de texto de Léo Moreira, Luna Grimberg e Patricia Corso, sob a produção de Beto Gauss e Francesco Civita, direção de Caíto Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende. Sim, a história é inspirada, mas

Estado Zero retrata crise migratória

Luciano Buarque de Holanda escreve no Valor sobre a minissérie australiana criada e coproduzida por Cate Blanchett. Íntegra a seguir. “Estado Zero” visita um tema urgente, raramente visto na ficção da TV: os dramáticos trâmites da migração, neste caso na Austrália, onde milhares de refugiados aguardam vistos de permanência no país, confinados em campos de detenção. Embora a maioria deles venha do Oriente Médio, quem assume certo protagonismo é a personagem de Yvonne Strahovski (a Serena Joy de “The Handmaid’s Tale”), livremente baseada no caso real de Cornelia Rau - rebatizada em “Estado Zero” como Sofie Werner. Alemã de cidadania australiana, Sofie passa 11 meses detida num centro de refugiados no deserto, confundida como imigrante ilegal. O equívoco resulta num escândalo nacional, escancarando de vez as falhas do sistema migratório australiano, alvo de críticas. Sofie é um caso complicado. Diagnosticada com transtorno esquizoafetivo, misto de bipolaridade e esquizofreni

José de Souza Martins: Florestan Fernandes e o Brasil

Obra do maior nome das ciências sociais do país trata da complicada trama de contradições e bloqueios de uma sociedade marcada por possibilidades não realizadas, resenha Martins no Valor, em artigo publicado no dia 24/7. O dia 22 de julho, centenário do nascimento de Florestan Fernandes, o maior nome de nossas ciências sociais, é ocasião de justas homenagens a um dos grandes e inovadores intérpretes do Brasil. Sua obra trata da nossa rica diversidade social e cultural, da complicada trama de suas contradições e bloqueios, os de uma sociedade marcada por possibilidades históricas e sociais não realizadas. Núcleo de uma sociologia crítica, não conformista, a de busca dos enigmas da realidade, derivada do confronto investigativo e científico entre o que somos e o que se oculta nas profundezas de nossa história social inconclusa. A de um país que carece mais do que recebe daqueles que dele se aproveitam. Filho de uma lavadeira pobre, órfão de pai, começou a trabalhar aos 7 anos de idad

Pensamento heterodoxo de Celso Furtado, que completaria 100 anos, permanece atual

Defesa do desenvolvimentismo neste tempo de crise mundial reaquece o pensamento do economista que completaria 100 anos, escrevem Cristian Klein e Gabriel Vasconcelos no Valor, em reportagem publicada 247/ no caderno Eu&Fim de Semana. Vale a leitura. “Aos meus 14 anos sofri a minha primeira crise espiritual - crise de angústia cósmica. Então, eu senti pela primeira vez que a vida de cada homem era uma obra a ser realizada em função de um fim. Olhei abismado para o futuro e chorei apavorado ante a ideia de que talvez não pudesse atingir aquele fim.” Aos 24 anos, era assim que o jovem aspirante a oficial Celso Monteiro Furtado descrevia de forma precoce suas memórias no diário, a bordo do navio General Meigs, que o levava para a guerra na Itália, em 18 de fevereiro de 1945. O oficial de ligação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) com o 5º Exército dos Estados Unidos não tinha medo da morte. “Pelo contrário, a configuração desse sentimento desperta-me logo um estado de repulsa”

A difícil vida de Britney Spears, que ainda fatura milhões, mas vive com 1.500 dólares por semana

Javier Cabellero escreve um texto muito interessante sobre Britney e, de certa maneira, sobre este estranho mundo das celebridades e sub-celebridades. Publicado dia 23/7 no El País. Longo, mas vale a leitura. “Leave Britney alone!”. Estávamos no ano de 2007. Em fevereiro, a Princesa do Pop havia raspado o cabelo diante da estupefação dos paparazzi, que lutavam para conseguir a melhor imagem do momento. O assédio à cantora havia atingido alturas inimagináveis, comparáveis somente a de rostos como Lady Di e Whitney Houston. Muito antes do que a conscientização sobre as doenças mentais imperasse, a imprensa tratou o ocorrido quase como uma brincadeira. Entre tanta confusão, na plataforma YouTube apareceu um vídeo em setembro de um fã desesperado exigindo que a deixassem em paz. Seu aspecto enfermiço e seu cabelo tingido (outro motivo, o físico, do que sabemos, por fim, de que não devemos rir), unido a um dramatismo exacerbado em seu pedido, lhe transformaram na piada do mês. Seu grito,

Calligaris: nunca pensei que estátuas estivessem entre nós para homenagear quem fosse

Entendo perfeitamente que, num dia de ira, a gente fique a fim de demolir uma estátua. Ou seja, no dia em que, numa enésima violência racista, um policial esmaga e sufoca um negro, a gente pode jogar num rio um bronze que representa um antigo mercante de escravos ou pode cobrir de tinta vermelha a cara de outro bronze representando aquele rei da Bélgica que fez do Congo sua colônia pessoal. Agora, uma vez passado o dia de ira, será que queremos aperfeiçoar a tarefa e demolir ou remover todas as estátuas que prestariam homenagem a personagens de nosso passado que, por alguma razão (legítima), não queremos mais homenagear, questiona Contardo Calligaris em sua sempre excelente coluna na Folha. Texto publicado quarta, 23/7, continua a seguir. Para mim, é difícil responder a essa pergunta porque, de fato, durante toda a minha infância, nunca pensei que, apesar de seus pedestais, as estátuas estivessem presentes entre nós para homenagear quem quer que fosse. Explico. Nasci e cresci na Itá

Bode na sala ou salame fatiado, reforma tributária de Guedes cria confusão

Como era previsível, a primeira fatia do salame tributário oferecida pelo governo federal não caiu bem. Paulo Guedes propôs trocar o PIS/Cofins por uma Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS). Se fosse alteração isolada, causaria a confusão habitual de rediscussões de impostos, de quem paga mais ou menos, motivo que emperra a mudança desse imposto desde 2014. O plano Guedes causa mais tumulto porque, se a ideia é fazer reforma “ampla”, não dá para discutir PIS/Cofins sem tratar do peso de outros impostos sobre as empresas, escreve Vinicius Torres Freire em sua coluna semanal na Folha, publicada na quarta, 22/7. Continua a seguir. Há quem diga que a CBS com alíquota alta é um bode na sala, a ser trocado por uma CPMF. O bode de Guedes, no entanto, já mastiga o sofá e faz sujeira sobre o tapete. Antes de prosseguir, convém lembrar que: quem recolhe o imposto não é quem o paga. Quanto mais um bem ou serviço for de difícil substituição, mais fácil repassar o aumento de tributaçã

Azevedo: os porões da Lava Jato se agitam; esqueletos buscam a luz

Ou o lavajatismo dá um golpe de vez nas instituições, com o consequente fim do devido processo legal e do Estado de Direito, ou, então, os valentes terão de responder por sua obra. Ainda dispõem de poder de retaliação e têm guardadas bombas de fragmentação.Vamos ver, escreve Reinaldo Azevedo em sua coluna semanal na Folha, publicada sexta, 24/7. Vale a leitura, continua abaixo. Estão de parabéns os respectivos presidentes do Senado e do Supremo, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Dias Toffoli, por terem impedido não a busca e apreensão no gabinete do tucano José Serra, mas a invasão do Senado pela polícia. Até a ditadura foi mais contida. Minha opinião a respeito não é nova: até onde sei, fui o único na imprensa a criticar duramente, em setembro do ano passado, a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, que autorizou a PF a invadir —sim, escolho esse verbo!— os respectivos gabinetes do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e do deputado Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM-PE)

Amália Rodrigues, o fado da resistência

Luís Vasconcelos e  Felipe Sánchez, de Lisboa, escrevem uma excelente resenha sobre Amália, em reportagem publicada no El País em 23/7, vale a leitura, íntegra a seguir. Um juiz de semblante impassível ordena ao tribunal que escute “uma das provas que constituem matéria de acusação contra Amália Rodrigues”. Trata-se de uma canção, Erros meus, que a rainha do fado gravara em 1965 com versos de Luís de Camões, o poeta nacional português, e música de Alain Oulman. A artista aguarda com expressão contrariada. “Acredita que esta música exprime a alma nacional?”, interroga o juiz. O cenário é o estúdio de um programa humorístico, mas a farsa se torna tensa. “Nunca tive a pretensão de exprimir a alma nacional. Exprimo a minha. A alma nacional é uma carga muito pesada para mim.” Cem anos depois do nascimento de uma das melhores cantoras da história, celebrados neste 23 de julho, Amália da Piedade Rebordão Rodrigues (Lisboa, 1920-1999) dá a impressão de ter deixado para trás as vãs discussõe

Conti: como não era um Ivan Ilitch, Sérgio Ricardo teve vida reta, limpa, ímpar

São tantos os mortos pela peste que eles se tornam cifras, abstrações: 635 mil no mundo, 85 mil só no Brasil. Impalpáveis, os números obscurecem a percepção de que cada pessoa que se foi era única. E que cada uma delas passou pela agonia solitária e definitiva. Um pavoroso relato do que é morrer acaba de sair, a nova edição de “A Morte de Ivan Ilitch”, de Tolstói, traduzida por Lucas Simone para a Antofágica. Como é um livro que percorre a feia frieza do fim, uma versão com ilustrações de gelar a espinha é cabível. Ainda mais agora, escreve Mario Sergio Conti em sua coluna semanal na Folha, publicada aos sábados. Continua a seguir. A novela começa com a notícia da morte de Ivan Ilitch chegando à repartição judicial onde trabalhava. Era benquisto ali, mas a interrupção de sua vida provoca duas reações entre os colegas. Primeiro alívio: antes ele do que eu. Depois cobiça: quem herdará o seu posto e o belo salário? Seguem-se as velas, gemidos, incenso, lágrimas e soluços do velório. A

Demétrio Magnoli: partido da Lava Jato precisa ser extinto para se preservar um sistema judicial apolítico

O mundo dá voltas. No auge da Lava Jato, entre o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, os porta-vozes informais da operação exigiam a cassação do registro do PT. Hoje, o cerco que se fecha em torno de Deltan Dallagnol sinaliza a cassação do registro inexistente do Partido da Lava Jato (PLJ). Nem a ascensão de Luiz (In) Fux (we trust) à presidência do STF parece capaz de evitar o desenlace. O primeiro ato significaria uma violação dos direitos políticos de milhões de eleitores. O segundo é um imperativo democrático e, ainda, um pressuposto indispensável para o combate à corrupção, escreve o colunista em artigo publicado sábado, 25/7, na Folha de São Paulo. Continua a seguir. O PLJ tem candidato presidencial —Sergio Moro— e conserva uma sombra de sua antiga aura em setores políticos como o PSL, o Podemos e o Novo. Mas sua estrutura orgânica é o “Partido dos Procuradores” —isto é, a corrente liderada por Dallagnol que organiza uma parcela do Ministério Público e exerce influência dif

De Anitta a Drauzio Varella, o cancelamento destrói reputações nas redes

Entre Cristóvão Colombo e Anitta há uma distância de cinco séculos, e muitas léguas marítimas. Também não há conexão óbvia entre a princesa Isabel e a escritora inglesa J.K. Rowling. Ainda que por vias tortas, os tempos atuais deram um jeitinho de unir o descobridor da América, a cantora funk, a signatária da Lei Áurea e a criadora de Harry Potter: todos são vítimas da “cultura do cancelamento”. Onipresente nas redes sociais, a expressão está na boca do povo: segundo o Google, as buscas pelo tema cresceram 1 200% nos últimos três meses. Não se engane, porém: “cancelar” qualquer pessoa, anônima ou famosa, é um evento implacável e violento — mesmo que amparado em razões teoricamente justas. Woody Allen foi acusado de abusar da filha? Está cancelado. A atriz Alessandra Negrini se fantasiou de índia no Carnaval, irritando quem condena a “apropriação cultural” de povos e minorias? Canceladíssima. A fúria atinge os vivos, como Anitta (“traidora”) e J.K. (“transfóbica”), mas nem os mortos esc