Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2020

A corrida da incerteza à Casa Branca

Circunstâncias extraordinárias nas eleições americanas deste ano impedem qualquer prognóstico sobre quem estará na Casa Branca em 2021, mesmo com o favoritismo de Joe Biden, escreve Carlos Eduardo Lins da Silva no Valor, em matéria publicada dia 30/11 no Valor.  Vale a leitura, íntegra a seguir. É grande a possibilidade de que o resultado da eleição presidencial americana desta terça-feira só venha a ser conhecido após alguns dias ou até semanas. Há precedentes. Em 2000, apenas em 12 de dezembro confirmou-se a vitória de George W. Bush sobre Al Gore, após decisão da Suprema Corte. Para demora similar não ocorrer neste ano seria preciso que o favorito, Joe Biden, conseguisse vitórias acachapantes em número suficiente de Estados para passar com folga dos 270 votos no Colégio Eleitoral que garantem a eleição de um dos candidatos à Presidência. Em 2000, como em 2016, o eleito obteve menos votos populares do que seu adversário, mas venceu numa combinação de Estados que lhe garantiu o êxito

Memento mori, Guedes! Chamem Dedé para o Ministério da Economia

Oba! Paulo Guedes viveu nesta quinta-feira (29) mais um “patético momento”, com o perdão de Cecília Meireles, em audiência pública no Congresso. Falou a verdade ou só promoveu guerrilha interna ao afirmar que o governo abriga um ministro financiado pela Febraban, a federação de bancos? É claro que se referia a Rogério Marinho, escreve Reinaldo Azevedo em texto publicado dia 30/1 em sua coluna, na Folha de São Paulo. Sendo verdade, é grave, e o lobista tem de ser demitido. Sendo mentira, demita-se o acusador. O chilique é apanágio de incompetentes. Temos um governo de destrambelhados. A desorientação da gestão de Jair Bolsonaro deixou o terreno do debate administrativo e virou pastelão. O decreto que punha as Unidades Básicas de Saúde no escopo do programa de concessões e privatizações parece ter sido redigido por Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo, em parceria com o Mussum de porre. Esqueceram de chamar Dedé e Zacarias. Teriam alguma reserva de bom senso: “Melhor não!”. O

Politizar a vacina, uma estratégia de Bolsonaro

Abre da News da LAM Comunicação desta semana. Boa leitura a todos. Agora a crise é a vacina: o presidente Jair Bolsonaro, pressionado pela sua base de apoio, declarou nesta semana que não vai autorizar a compra de doses da vacina chinesa, que havia sido autorizada na véspera pelo governador João Doria, de São Paulo, e pelo terceiro ministro da Saúde de seu governo. No fundo, Bolsonaro sabe que mais tarde ou mais cedo os brasileiros serão vacinados, está apenas jogando para sua galera, aplicando a si uma vacina política, qual seja a de marcar posição sobre a obrigatoriedade de sua aplicação no país. Bolsonaro precisa ser compreendido pelo que é, não pelo que gostaríamos que ele fosse. Ao se posicionar contra a vacina, o que parece ser um absurdo lógico, algo como ser contra luz elétrica e água encanada, ele está na verdade se diferenciando de Doria e todos os demais políticos que serão possíveis adversários em 2022. Não é uma bravata, uma frase de efeito tirada do nada, mas uma estratég

Dica da Semana: Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, Marçal Aquino, livro

Esperança saindo pela culatra A dica da semana é o potente Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Marçal Aquino, da Companhia das Letras. O palco desse romance é uma pequena cidade do Pará, tomada pela mineração, onde um fotógrafo, Cauby, vai trabalhar registrando as imagens da prostituição local. Em um ambiente cercado por tensões políticas e violência, Cauby acaba se apaixonando por uma jovem bastante peculiar, Lavínia.  A personagem da moça é a figura encarnada do duplo: em oscilações de humor que beiram a bipolaridade ou até mesmo a esquizofrenia, hora Lavínia é uma adulta sensual e fervorosa, dona de seu próprio corpo e desejo, hora se assemelha a uma criança indefesa, que busca uma figura de autoridade para decidir por seu futuro. Já não bastasse o humor complexo da personagem, o relacionamento dos dois ainda é abalado pelo fato de Lavínia ser casada com o pastor da igreja evangélica da cidade, instituição que se mostra mais presente a cada página do romance. 

A Bolívia recupera a democracia e o Chile abre caminho para o futuro

A América Latina tem uma economia extrativista baseada na exportação de grãos, vegetais, minerais e petróleo. Produz umas mercadorias mequetrefes, fabricadas por mão de obra barata. Também faz drogas e tem um setor de serviços hipertrofiado: somos servis, sim sinhô. Tal economia gera periferias maltrapilhas e poluídas, grotões prostrados, serviços públicos em pandarecos. A batuta e o filé da sociedade ficam com exploradores cúpidos, que, nativos, agem como ocupantes alienígenas. São nações ocupadas, as repúblicas bananeiras, escreve Mario Sergio Conti na Folha, em artigo publicado sábado, 24/10. Continua a seguir. O centro de gravidade da Terra do Evangelho esteve desde sempre alhures. Importa e dá uma garibada em ideias, sistemas de governo, costumes, formas artísticas, tecnologias. Na fórmula famosa, somos desterrados na nossa própria terra. A América Latina vem mudando, ora veja. Em 195 anos de independência, a Bolívia teve seu 190º golpe há um ano. A polícia insuflou e o Exército e

Piauí: engarrafamento de candidatos

Nascida e criada em Iguatu, no Ceará, a 364 km de Fortaleza, a comerciante Régia Ferreira, 56, sabe de cor os acontecimentos mais importantes do último meio século na cidade. Era criança na enchente de 1974, quando as águas do Rio Jaguaribe inundaram a cidade e sua família teve de se abrigar numa oficina. Ela se lembra da visita à cidade do candidato à Presidência Mário Covas, em 1989, e acompanhou bem a greve dos professores em 2014. Mas não se lembra de uma eleição municipal com tantos candidatos a prefeito como esta de 2020. Iguatu tem pouco mais de 65 mil eleitores, e a eleição começou com um número recorde de chapas para prefeito: são nove no total. É mais que o dobro das chapas registradas nas eleições de 2012 e 2016, quando apenas três candidatos disputaram o comando do município. Uma das candidaturas foi indeferida, e Iguatu, no Centro-Sul cearense, com seus oito candidatos, vive intensamente o reflexo do aumento de 16% nas candidaturas para prefeito em todo o Brasil. Nas cidad

Mito da conspiração mundial sempre andou junto com a extrema direita

 Na sua reta final, a campanha de Donald Trump à reeleição entrelaça-se ao culto online QAnon. O fenômeno inscreve-se numa longa história e descortina as tendências evolutivas do discurso da extrema direta, nos EUA e mundo afora, escreve o colunista Demétrio Magnolli na Folha, em coluna publicada sábado, 24/10. Íntegra a seguir. O QAnon nasceu como narrativa conspiratória singular. Segundo ela, o Partido Democrata americano é o núcleo de um complô de líderes pedófilos que organiza o sequestro de crianças para escravizá-las a redes de exploração sexual. Sob o comando de figuras como Joe Biden, Hillary Clinton e Barack Obama, operam Angela Merkel, Emmanuel Macron, Xi Jinping e outros “globalistas” engajados no negócio diabólico da pedofilia. Nessa moldura, Trump ocuparia o papel de salvador providencial das famílias, o derradeiro escudo protetor da cristandade ameaçada. O mito da conspiração mundial sempre andou junto com a extrema direita. A estrutura gramatical do QAnon recupera e atua

Bolsonaro arrasta Anvisa para o centro da disputa ideológica sobre vacinas da covid-19

A contaminação ideológica na corrida por uma vacina contra o coronavírus no Brasil colocou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no centro de questionamentos sobre uma possível interferência política no único órgão que pode conceder o registro para distribuir uma vacina no país. Na mesma semana em que anunciou que o Governo cancelaria o acordo de intenção de compra da vacina do laboratório chinês Sinovac, o presidente Jair Bolsonaro aprovou no Senado quatro indicados para a cúpula da agência. À hipótese de maior controle do ultradireitista sobre a agência, somou-se a queixa do laboratório de que a Anvisa estaria demorando para autorizar a importação de insumos necessários para a produção do medicamento rejeitado pelo presidente, escreve Beatriz Jucá no site do El País em matéria publicada na sexta, 23/10. Continua a seguir. No país onde o presidente elevou a cloroquina ao status de remédio prioritário mesmo sem comprovação, instalou-se o receio de que a posição ideológica

Época: cientistas políticos discutem a televisão nas eleições

Uma boa entrevista dupla sobre o cenário eleitoral deste ano, publicada na edição desta semana da revista semanal da Globo, íntegra a seguir.  SÉRGIO BRAGA, 54 anos, alagoano O que faz e o que fez: cientista político, é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital. Especialista em esfera política e uso de tecnologias digitais, tem mestrado e doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) FELIPE BORBA, 45 anos, fluminense O que faz e o que fez: professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), é especialista em campanha política, horário eleitoral e propaganda negativa. Tem doutorado em ciência política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e foi pesquisador visitante na Universidade da Califórnia em San Diego Em especial nas eleições de 2018, vimos candidatos com maior tempo de TV com baixo desempenho nas urnas. A propaganda na TV deixou de

Pelé, 80 anos: longa vida ao rei

Fábio Altman escreve uma bela homenagem ao Rei do Futebol na edição desta semana da Veja, vale, muito, a leitura. Íntegra a seguir. Em 1968, o ano que nunca terminou, o artista plástico americano Andy Warhol (1928-1987) cunhou uma de suas mais conhecidas frases, estampada no catálogo de uma exposição em Estocolmo: “No futuro, todo mundo será famoso por quinze minutos”. Em 1977, dias antes de Pelé pendurar as chuteiras com a camisa verde do Cosmos de Nova York, o gênio da pop art reescreveu a máxima depois de apontar sua inseparável Polaroid Long Shot para o rei, base para uma coleção de serigrafias: “Pelé é um dos poucos craques que contrariam minha tese. Em vez de quinze minutos de fama, terá quinze séculos”. Nesta sexta-feira, 23, Edson Arantes do Nascimento completará 80 anos — pouco ainda diante do túnel de eternidade que tem pela frente. Instado por VEJA a dizer o que o Pelé de 80 anos diria ao Pelé de 17, revelado pelo Santos e descoberto pelo mundo na Copa de 1958, ele imagina o

O Nobel de Economia e a invenção de uma nova língua

A citação do Prêmio Nobel de Economia deste ano faz menção “à invenção de novos formatos de leilões” por parte de Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson. De fato, os mercados que desenharam geraram dezenas de bilhões de dólares de receitas a governos ao redor do mundo e, mais importante, garantiram o melhor uso para ativos de infraestrutura escassos, com enormes ganhos de bem-estar. Este artigo, no entanto, discute outras contribuições, também merecedoras de um Prêmio Nobel, que esses enormes intelectuais deram à teoria econômica e que serviram de fundação para a construção de mercados no mundo real. Pelo caminho, traça relações entre o mundo que inventaram e os de tantos outros gigantes da ciência lúgubre, escreve Vinicius Carrasco para o Valor, em texto publicado na sexta, 23/10. Vale a leitura, continua a seguir.  Em artigo seminal, Friedrich Hayek (agraciado com o Nobel em 1974) sugeriu que preços em mercados competitivos constituíam a forma mais eficiente (isto é, menos demandante em

Fernando Abrucio: polarização parece não ser a tônica da eleição de 2020

A lógica da polarização parece não ser a tônica da eleição de 2020, e se isso se confirmar, as estratégias políticas para daqui a dois anos podem ser fortemente afetadas, escreve o colunista do Valor na edição de sexta, 23/10, do jornal. Íntegra abaixo. Toda eleição tem uma história própria, determinada por sua dinâmica territorial, pelo regramento institucional vigente e pelos elementos conjunturais que a influenciam. A disputa municipal de 2020 pode, até o momento, ser compreendida por cinco aspectos que delimitam sua peculiaridade: a redução do debate eleitoral, o choque entre as inovações e a força da política tradicional, os imensos desafios que aguardam os prefeitos eleitos, a percepção cada vez maior do mosaico que caracteriza os pleitos locais e, por fim, um cenário político nos grandes centros que não é o mais favorável às duas grandes forças eleitorais do país - o bolsonarismo e o petismo. O primeiro aspecto a ressaltar não é alvissareiro à democracia: nunca houve tão pouco d