Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2020

E se Paulo Guedes sair?

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação Os sucessivos discursos do presidente Jair Bolsonaro desautorizando seu ministro da Economia em diversos temas, principalmente no tocante ao novo benefício que ampliará o Bolsa Família, suscitou no mercado a dúvida sobre a continuidade do Posto Ipiranga na condução da política econômica nacional. Alguns analistas avaliaram que uma eventual saída de Guedes do governo poderia fragilizar Bolsonaro, que perderia o apoio da Faria Lima e Leblon. Bobagem, se o ministro deixar o cargo, não vai acontecer absolutamente nada, salvo algum movimento na Bolsa quando e se o fato ocorrer, o que seria até natural. E por que não faz mais a menor diferença a permanência de Guedes no cargo? Primeiro, porque ele já está realizando uma gestão completamente diferente daquela esperada pelo mercado financeiro, em função da pandemia e das ordens de seu chefe. A agenda ultraliberal foi abandonada, não houve qualquer privatização relevante desde a posse do novo governo

Dica da Semana: O Estrangeiro, de Albert Camus, livro

Indiferença, falta de empatia e de valores morais de um personagem inviável  Como no jogo de cubo mágico, em que cada jogador observa a peça, interpreta seus eixos e combinações até decifrá-la, ordenando as faces a seu próprio modo, também pode ser visto assim O Estrangeiro, principal obra do filósofo e escritor franco-argelino Albert Camus, publicada pela primeira vez em 1942. História breve, 80 páginas, e narrativa simples, até hoje o título provoca discussões filosóficas em torno de seu personagem central e o destino a que é conduzido. Mesmo conhecendo sua história, bastante comentada em publicações, o atrativo da leitura de O Estrangeiro se mantém para checar impressões e formar opinião pessoal sobre o intrigante Meursault. Um ano após seu lançamento, o romance foi objeto de uma análise publicada sob o título “Explicação de O Estrangeiro”, escrita por um filósofo francês, amigo de Albert Camus:  Jean-Paul Sartre. “O Estrangeiro não é um livro que explica: o homem absurdo não ex

A solidão de Rambo

Vale reler o texto de Allan de Abreu para a revista Piauí, publicado na edição de julho, perfil sensacional do governador afastado do Rio de Janeiro.  Ao receber a notícia de que seu impeachment tomava corpo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel (PSC) passou a enfrentar a mesma desorientação daquele verão longínquo quando se perdeu no meio do mato. Tinha 23 anos e acabara de chegar à Zona da Mata de Minas Gerais, onde o Batalhão de Artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro  faria um exercício militar que o jovem segundo-tenente adorava: simular um combate na selva. Seus superiores o chamavam de “tenente Uítzel”, mas, entre os praças, seu apelido era “Rambo”, pelo seu hábito de levar uma faca presa na panturrilha. Seriam quatro dias exaustivos e excitantes, mas o tenente, encarregado de liderar um dos grupos, saiu de lá enlameado e humilhado, e no ano seguinte sua carreira militar estava encerrada. No segundo dia dos exercícios, a eq

BC dos EUA toma decisão histórica e que pode ajudar até o Brasil

O Banco Central dos Estados Unidos tomou uma decisão que pode dar uma mãozinha para o Brasil e para o controle da nossa dívida pública. Trocando em miúdos, quer dizer que as taxas de juros por aqui talvez também possam ficar mais baixas por mais tempo, tudo mais constante. Como é historicamente óbvio, sempre podemos nos arrebentar por vontade própria, não importa o ambiente econômico mundial. Mas é uma ajuda, escreve Vinicius Torres Freira na Folha de São Paulo, em artigo publicado sexta, 28/8. Continua a seguir. A decisão do Fed é uma providência candidata a entrar para os livros de história econômica. Altera ou talvez enterre a política de metas de inflação tal como a conhecemos, ideia que dominou a teoria e prática de política monetária no último quarto de século. No que tem de essencial e mais simples, a decisão é uma formalização de providências que vêm sendo adotadas pelo menos desde 2019. O Fed agora afirma explicitamente que vai procurar atingir sua meta de inflação de modo

Tati Bernardi: Normal People

Um amigo me falou da série “Normal People”, inspirada no best-seller homônimo da autora irlandesa Sally Rooney. Disse que pirou tanto naquele amor puro e intenso, que ficou meio eufórico e um tanto deprê. Passei dias com suas palavras ecoando na cabeça. Vi frames do seriado quando procurei informações na internet e fiquei obcecada pelo corpo da garota, pelo olhar dela, escreve a colunista da Folha, em texto publicado na quinta, 27/8 no jornal. Continua a seguir. Acreditei que assistir à história seria como tomar um elixir da juventude. Ou entrar em uma cápsula do tempo. Eu poderia sentir tudo aquilo de novo? Talvez eu pudesse ser aquela garota muito magra, bastante masoquista e ultrassexualizada. Exatamente os três adjetivos —superlativos— que o antidepressivo tirou de mim. Que saudade deles, que horror de voltar para eles. O gelo de uma colher na minha língua era sentido até o dedão do meu pé. Isso fazia de mim uma perversa polimorfa maravilhosa. Isso fazia de mim um bebê tentando

Azevedo: Guedes e Bolsonaro são reacionários desiguais e combinados

Paulo Guedes salta na frigideira porque seu modo de ser reacionário não combina com o de seu chefe, Jair Bolsonaro. O tal "Big Bang" do ministro da Economia —o dito "plano econômico-social"— promove uma redistribuição da pobreza entre os pobres. Seu chefe achou a coisa explícita demais, com potencial eleitoral danoso, escreve Reinaldo Azevedo em sua coluna na Folha de S. Paulo, publicada sexta, 28/8. Continua a seguir. No universo recriado por Guedes, o Brasil continuará a ser o país em que, segundo o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, os 10% mais ricos ficam com 55% da renda. O problema não está aí. Ocorre que o 1% dos ricos de verdade —coisa de 1,4 milhão de adultos— ficam com mais da metade: 28,3%. Não fiz a conta. Talvez seja o caso de saber quanto detêm do tal bolo aqueles que formam o 0,1%, a "crème de la crème" da concentração de renda. Os liberais de fancaria que andam por aí a vomitar obscenidades logo vociferam:

Raj Sisodia: lucro não deve ser a única motivação de empresas

É de um romance de Charles Dickens de 1859 que o indiano Raj Sisodia se recorda para definir os paradoxos atuais do mundo dos negócios. A narrativa do inglês oscila entre o “melhor dos tempos” e o “pior dos tempos”, entre a “era da sabedoria” e a “era da tolice”, entre a “primavera da esperança” e o “inverno do desespero”. É “Um Conto de Duas Cidades”, construído em cima da Inglaterra do século XIX, que testemunhou a revolução da política e de valores ocorrida cem anos antes na França e tentava empreender a sua própria. Mas o conto também é sobre qual caminho seguir como país, e Sisodia defende que, passados mais de dois séculos daquela revolução, os negócios se veem diante de uma bifurcação similar. “Temos muitas coisas melhores do que já tivemos em toda a história em termos de expectativa de vida, recursos, tecnologias. Mas este é o pior tempo porque ainda não enfrentamos as maiores ameaças existenciais”, afirma Sisodia, de 62 anos. Barbara Bigarelli, no Valor de sexta, 28/8, escreve

Fernando Abrucio: Covid revela fragilidades das políticas públicas

A pandemia escancarou a desigualdade social existente no Brasil. Dessa verdade não conseguiremos nos livrar por um bom tempo. Mas a covid-19 revelou também, de forma cristalina, a real situação das políticas públicas do país. O exemplo que todos pensariam é o da saúde, pois o SUS nos salvou de uma tragédia que poderia ter sido pior, porém, as pessoas mais pobres, que não tiveram o privilégio da medicina privada da classe média e dos ricos, foram as que mais faleceram da doença. O caso da educação espelha uma fragilidade ainda maior do Estado brasileiro, algo que ficará bem claro com a volta às aulas, escreve o colunista do Valor em artigo publicado sexta, 28/8. Continua a seguir. O tema do retorno às atividades escolares é bastante complexo. Por um lado, os mais pobres são os mais prejudicados com a ausência de aulas presenciais e da falta da escola como lugar de aprendizado e proteção social. Basta lembrar que o ensino virtual não alcançou um pouco mais de 25% dos alunos das escolas