A Secretaria Especial da Cultura já informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o secretário Roberto Alvim foi demitido do cargo. Ainda assim, vale a pena ler o belo texto da colunista do jornal o Globo, em seu comentário para a rádio CBN. Escreve Míriam: "Há ações que não podemos aceitar. Há fronteiras que não podem ser transpostas. O secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, evocou a maior barbárie do século 20. O nazismo ficou marcado na historia da civilização mundial como aquilo que não se deve aceitar. Em vídeo, Alvim cita quase textualmente um discurso do ministro da Propaganda de Adolf Hitler."
Continua, na íntegra, abaixo:
Em 48 anos de jornalismo, nunca pensei que tivesse que comentar sobre Joseph Goebbels. Havia a certeza na minha geração, nascida na década seguinte à 2º Guerra Mundial, que o pesadelo nazista estivesse superado. Uma arma poderosa no controle da nação alemã foi justamente a propaganda de Goebbels, que levou o povo àquele momento absolutamente triste da História. O que houve ali é analisado com frequência para ser repudiado.
É inaceitável ouvir as palavras de um monstro como Goebbels na boca de uma autoridade brasileira.
Várias palavras se repetem em ordem diferente, mas no mesmo sentido. O que disse Goebbels: “a arte alemã da próxima década será heróica”. O que disse Alvim: “a arte brasileira da proxima década será heróica e será nacional”. Goebbels: “será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismos.” Agora, Alvim: “será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa.” Esses são alguns exemplos. Há outros. Goebbels: “será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante ou não será nada.” Alvim: “posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada.”
A postura, a música ao fundo e o discurso do execrável ministro nazista. Alvim subiu na hierarquia bolsonarista atacando a inatacável Fernanda Montenegro. Atacou um símbolo. Faz parte da estratégia. Fernanda dedicou uma vida à cultura.
O governo coleciona erros e grosserias. Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques a jornalistas em 2019, por exemplo. Na transmissão de ontem pela internet, o presidente falou em revisar livros didáticos. Todo o autoritarismo usa a ideia de reescrever livros históricos.
A intenção é rever as críticas à ditadura. Bate num pilar desse momento da História que começa após a ditadura. A democracia foi um pacto nacional, não se pode reescrever o que foi a ditadura. Aquele período tem que ser entendido como foi: um momento infeliz da nossa História. Ulysses Guimarães disse em discurso que “conhecemos o caminho maldito”. Elogiar e repetir a ditadura é isso, um caminho maldito.
Outro elemento do nazismo é a xenofobia. A jornalista Thais Oyama fez um livro sobre 2019 e foi atacada pelo presidente. Bolsonaro se referiu a ela como “essa japonesa” que “não sei o que está fazendo aqui”. O Brasil tem orgulho de contar com os descendentes de japoneses. O presidente Bolsonaro é descendente de italianos e todos o consideramos brasileiro. Somos todos assim. Temos raízes nos povos de vários países do mundo. Não se pode ter xenofobia.
Alvim usou no seu discurso, o presidente e outras autoridades também. Deus não é propriedade de um grupo político, pátria tampouco e família todos têm. Não é exclusividade de um grupo político. Eles têm manipulado usando Deus, pátria e família. Isso sempre foi feito, inclusive pelo nazismo. Não se cita um nazista.
Continua, na íntegra, abaixo:
Em 48 anos de jornalismo, nunca pensei que tivesse que comentar sobre Joseph Goebbels. Havia a certeza na minha geração, nascida na década seguinte à 2º Guerra Mundial, que o pesadelo nazista estivesse superado. Uma arma poderosa no controle da nação alemã foi justamente a propaganda de Goebbels, que levou o povo àquele momento absolutamente triste da História. O que houve ali é analisado com frequência para ser repudiado.
É inaceitável ouvir as palavras de um monstro como Goebbels na boca de uma autoridade brasileira.
Várias palavras se repetem em ordem diferente, mas no mesmo sentido. O que disse Goebbels: “a arte alemã da próxima década será heróica”. O que disse Alvim: “a arte brasileira da proxima década será heróica e será nacional”. Goebbels: “será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismos.” Agora, Alvim: “será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa.” Esses são alguns exemplos. Há outros. Goebbels: “será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante ou não será nada.” Alvim: “posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada.”
A postura, a música ao fundo e o discurso do execrável ministro nazista. Alvim subiu na hierarquia bolsonarista atacando a inatacável Fernanda Montenegro. Atacou um símbolo. Faz parte da estratégia. Fernanda dedicou uma vida à cultura.
O governo coleciona erros e grosserias. Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques a jornalistas em 2019, por exemplo. Na transmissão de ontem pela internet, o presidente falou em revisar livros didáticos. Todo o autoritarismo usa a ideia de reescrever livros históricos.
A intenção é rever as críticas à ditadura. Bate num pilar desse momento da História que começa após a ditadura. A democracia foi um pacto nacional, não se pode reescrever o que foi a ditadura. Aquele período tem que ser entendido como foi: um momento infeliz da nossa História. Ulysses Guimarães disse em discurso que “conhecemos o caminho maldito”. Elogiar e repetir a ditadura é isso, um caminho maldito.
Outro elemento do nazismo é a xenofobia. A jornalista Thais Oyama fez um livro sobre 2019 e foi atacada pelo presidente. Bolsonaro se referiu a ela como “essa japonesa” que “não sei o que está fazendo aqui”. O Brasil tem orgulho de contar com os descendentes de japoneses. O presidente Bolsonaro é descendente de italianos e todos o consideramos brasileiro. Somos todos assim. Temos raízes nos povos de vários países do mundo. Não se pode ter xenofobia.
Alvim usou no seu discurso, o presidente e outras autoridades também. Deus não é propriedade de um grupo político, pátria tampouco e família todos têm. Não é exclusividade de um grupo político. Eles têm manipulado usando Deus, pátria e família. Isso sempre foi feito, inclusive pelo nazismo. Não se cita um nazista.
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