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Valor: biografia de Keynes oferece saídas para o mundo pós-pandemia

Era o início de agosto de 1914. As principais praças financeiras da Europa estavam em crise, com o choque provocado pelo estopim da Primeira Guerra (1914-1918). A onda de turbulência nos mercados teve início em Viena, mas rapidamente se espalhou para as outras capitais europeias. O clima de incerteza fazia com que os investidores resgatassem as suas aplicações financeiras. Para se protegerem, os bancos liquidavam posições e procuravam reforçar o caixa. O efeito dominó atingiu a City de Londres, então o mais importante centro financeiro do planeta. O pânico provocou uma corrida ao Banco da Inglaterra, o banco central britânico. Dois terços de suas reservas em ouro foram sacadas em apenas três dias, escreve Giuliano Guandalini em outro bom texto publicado no Valor em 11/6. Continua abaixo.

Em meio ao caos, entra em cena um acadêmico de Cambridge até então desconhecido: John Maynard Keynes, um matemático de 31 anos do King’s College, praticamente sem experiência na administração financeira. Convidado por um funcionário do Tesouro com o qual havia trabalhado no passado, Keynes tomou parte do time encarregado de imaginar saídas para a crise.
A sua sugestão foi enfrentar a pressão dos bancos ingleses e honrar apenas as solicitações dos saques dos depósitos em ouro feitos por governos e instituições internacionais. Os pedidos de saques dos ingleses, inclusive das instituições financeiras, não deveriam ser pagos em ouro, mas em um novo papel-moeda emitido. Dessa maneira, o Banco da Inglaterra preservaria as suas reservas para cobrir as suas obrigações internacionais. Funcionou. As reservas britânicas foram preservadas. Mais importante, como havia argumentado Keynes, Londres teve preservada a sua credibilidade internacional, da qual derivava em boa medida o poder político da Inglaterra.
“Keynes era um personagem improvável para ser levado às mais elevadas comissões estratégicas da Grande Guerra. A sua formação, em Cambridge, era em matemática, e não em economia, e ele preferia estar na companhia de artistas, e não de burocratas”, afirma o jornalista americano Zachary Carter, em seu elogiado livro “The Price of Peace: Money, Democracy and the Life of John Maynard Keynes”, que acaba de ser lançado em inglês pela Random House (R$ 50,59, via e-book Kindle).
Keynes gostava mesmo era de discutir arte, história e literatura com os seus amigos “moderninhos” do grupo Bloomsbury. Eram escritores, intelectuais e artistas, como a romancista Virginia Woolf (1882-1941) e o crítico Lytton Strachey (1880-1932): uma turma boêmia que gostava de se vestir de maneira extravagante, fofocar sobre trocas de parceiros e casamentos abertos e, em suma, desafiar o puritanismo vitoriano do início do século passado.
A partir de sua contribuição na crise de 1914, Keynes não sairia mais de cena. Foi o início de sua imensa contribuição para a economia e para as ciências sociais. “A experiência deixou uma impressão profunda em Keynes”, afirma Carter na biografia do economista. “Ele descobriu que os mercados financeiros eram bem diferentes das entidades organizadas que os economistas apresentavam nos livros.”
As flutuações nos preços não refletiam necessariamente o conhecimento acumulado por agentes movidos de maneira racional, mas reagiam a julgamentos muitas vezes falhos feitos em um ambiente de profunda incerteza com relação ao futuro. A palavra-chave é “confiança”. Foi a ideia central que desenvolveria duas décadas depois, quando escreveu a sua principal obra, “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, de 1936, quando o mundo enfrentava uma outra crise impiedosa, a Grande Depressão.
Nossas tomadas de ações dependem do otimismo ou, como ele chamou, “do espírito animal - uma necessidade espontânea de agir em vez de não agir”, escreveu ele na “Teoria Geral”. “Se o espírito animal arrefece e se o otimismo espontâneo esmorece, o empreendedorismo vai enfraquecer e morrer.” Por isso o governo precisa agir nas crises de maneira anticíclica, de modo a mitigar as oscilações nos ânimos dos mercados, porque eles são fenômenos sociais, e não matemáticos.
No mesmo livro, ele falou da “armadilha da liquidez”. Sem confiança, nem mesmo taxas de juros baixas incentivam o “espírito animal” dos consumidores e dos empresários. Daí a importância da liderança política. Cabe ao governo o papel de coordenar as expectativas. Em termos práticos, uma ferramenta poderosa imaginada por Keynes seria o aumento dos gastos públicos. Os investimentos em obras e programas sociais deveriam compensar a retração na atividade do setor privado. O livro foi um ataque ao liberalismo dominante, regido pela convicção de que os mercados poderiam se autorregular.
Mais uma vez, o mundo está em crise. Mais uma vez, Keynes é chamado ao resgate. As ideias do economista inglês estão por trás de muitas das medidas que estão sendo colocadas em prática ou foram sugeridas nos últimos dias em razão dos desafios impostos pela covid-19. Por isso, embora escrita antes da pandemia, a nova biografia chega em um momento extremamente oportuno.
O livro traz uma reflexão sobre o trabalho de Keynes e avalia como se saíram, ao longo dos anos, as políticas desenvolvidas pelos seus discípulos e seguidores. Ajuda a entender o que deu certo no passado, os motivos de o keynesianismo ter perdido apelo a partir dos anos 1970 e como ele pode ser resgatado hoje para contribuir não apenas no enfrentamento da depressão (tanto psicológica como econômica), mas também para superar desafios contemporâneos como o aumento da desigualdade, a polarização política e as mudanças climáticas.
Zachary Carter, de 36 anos, escreve sobre economia e política no Huffington Post. Trata-se de um “millennial” que encontrou em Keynes um herói para iluminar e enfrentar os dilemas modernos. Para Carter, ele nos oferece a possibilidade de termos o melhor dos dois mundos: as virtudes do capitalismo com menos injustiça. E essa sempre foi a preocupação de Keynes (1883-1946), que procurou, como resume o seu biógrafo, equilibrar o tradicionalismo antirrevolucionário de Edmund Burke (1729-1797) com a democracia radical de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Em outras palavras, queria preservar toda a prosperidade oferecida pelo liberalismo, mas, ao mesmo tempo, mitigar injustiças. O grande dilema político da humanidade, escreveu Keynes, seria combinar a eficiência econômica, a justiça social e a liberdade individual. Foi a isso que ele dedicou toda a sua obra. Quis salvar o capitalismo do capitalismo. Carter vê um paralelo evidente com o mundo atual. Chegou a hora, argumenta, de domarmos o liberalismo e termos maior coesão social. É o “preço da paz”.
“O título do livro (O Preço da Paz: Dinheiro, Democracia e a Vida de John Maynard Keynes) é muito feliz, resume muito bem o pensamento de Keynes”, afirma o economista Antonio Delfim Netto. “Keynes entendeu claramente que era falsa a ideia de que a economia de mercado seria estabilizada automaticamente. Era necessário adicionar uma força para preservar o sistema. O Estado é parte essencial do equilíbrio.”
De acordo com Delfim, o economista inglês é um herdeiro de grandes nomes do iluminismo britânico, particularmente de John Stuart-Mill (1806-1873). “Todo o esforço desses intelectuais foi construir uma sociedade na qual o liberalismo fosse possível, onde a liberdade fosse possível e pudesse ser feita a correção de injustiças e de instabilidades da economia de mercado.”
Uma das maiores instabilidades é o desemprego. A forma clássica de ajuste da economia é o corte de trabalhadores pelos empresários. Por isso, esse sempre foi um dos centros de atenção de Keynes. “Os investimentos dependem do ‘espírito animal’ dos empresários. Portanto as decisões privadas estão sujeitas a grandes oscilações”, diz José Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Associação Keynesiana Brasileira.
“A maneira de reduzir a instabilidade de ânimos dos empresários é que uma parte significativa dos investimentos seja realizada por um agente menos suscetível a oscilações - no caso, o Estado. Keynes acreditava que, para o capitalismo ser bem-sucedido, deveria ocorrer uma socialização do investimento e assim haver um nível de emprego mais elevado. E o que era essa socialização do investimento? Basicamente, o investimento do governo em infraestrutura”, afirma Oreiro.
Segundo o economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/Ibre e autor do livro “Política Monetária - Ideias, Experiência e Evolução”, Keynes dedicou-se a estudar situações nas quais havia uma deficiência crônica na demanda.
“A atualidade do raciocínio de Keynes pode ser encontrada, por exemplo, no debate a respeito da tese de estagnação secular”, afirma Senna. “Voltamos a ter uma fase de deficiência crônica na demanda. Temos, no mundo atual - mesmo antes da pandemia -, muita gente querendo poupar e pouca gente querendo investir.” Um dos reflexos foi a queda histórica nas taxas de juros: ainda assim, os investimentos não crescem e a produtividade decepciona. “Isso é algo que vai persistir no pós-pandemia - e exatamente pelo motivo keynesiano, que é a insegurança, a incerteza”, diz Senna.
Desde a morte de Keynes, em 1946, o planeta não vivia um quadro tão desafiador. Da mesma maneira que não existem ateus em queda de avião, como diz a antiga piada, todos somos keynesianos diante de uma crise da dimensão atual - que está longe de ser apenas econômica e é também sanitária, psicológica e política.
Os governos pelo mundo anunciaram programas de investimentos bilionários, para proteger a saúde pública e sustentar as famílias e empresas mais frágeis. “Raros foram os economistas que analisaram com tanta argúcia como surge uma depressão e como enfrentá-la, e ninguém o fez de maneira tão brilhante como Keynes”, afirma o economista José Roberto Afonso, professor do Instituto de Direito Público (IDP) e autor do livro “Keynes, Crise e Política Fiscal”.
“Como o mundo está mergulhado em uma recessão, é natural que os governos e os economistas recorram aos ensinamentos de Keynes. Ainda que as razões atuais sejam outras, o mal é o mesmo.” Para o economista, vivemos uma situação excepcional, que requer uma ação de guerra e muita criatividade.
O Brasil, apesar das restrições orçamentárias, tem se esforçado para ampliar os gastos públicos, seguindo a cartilha keynesiana. O ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou de lado provisoriamente as suas credenciais de adepto do liberalismo clássico da Universidade de Chicago, onde fez o seu doutorado e de onde saiu Milton Friedman (1912-2006). Este e tantos outros contribuíram para defender o monetarismo e o livre mercado como antídoto à estagflação da década de 1970 - crise que, para muitos, foi produto do exagero nas políticas aplicadas por discípulos de Keynes que haviam formado a corrente dominante no período posterior à Segunda Guerra (1939-1945).
Guedes fez questão de ressaltar, na reunião ministerial do dia 22 de abril, que leu a “Teoria Geral” de Keynes três vezes (“no original”) antes de chegar a Chicago. “Então, para mim, não tem música, não tem dogma, não tem blá-blá-blá. Tem estudo sobre todas essas ocasiões. E nós demos uma demonstração disso quando nós estávamos indo numa direção Norte, com as reformas estruturantes, e, de repente, em três semanas e meia, nós fomos para o Sul”, afirmou o ministro. Keynes aplaudiria a atitude. Afinal, o inglês, quando foi criticado certa vez por ter mudado de opinião, respondeu: “Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião. E o senhor, o que faz?”.
Uma ala do governo chegou a surgir com a ideia de o país se lançar num programa ambicioso de investimento público em obras. Mas, na avaliação do economista Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, o país não dispõe de recursos para projetos do tipo.
“É hora de fazermos escolhas, eleger prioridades. Não temos dinheiro para um programa inspirado no Plano Marshall. Devemos priorizar a saúde das pessoas e fazer com que a liquidez financeira chegue às empresas, para que elas possam rolar as suas dívidas”, afirma Goldfajn. “Precisamos de uma ponte para atravessar a crise. Depois, mais para o fim do ano, podemos pensar em ações para incentivar a economia. A crise sanitária está longe de ser resolvida, e sem resolver a crise sanitária não há como sanar a crise na economia.”
De acordo com o economista, políticas fiscais e monetárias serão mais efetivas apenas quando houver mais confiança. “Poderemos pensar em ações mais para o fim do ano, quando as pessoas voltarem a consumir e as empresas retomarem os seus investimentos”, afirma Goldfajn.
O economista José Júlio Senna também avalia que o momento é de “controle de danos” e não de aumentar os investimentos públicos. “Seria como dar murro em ponto de faca”, avalia. “Não devemos pensar no estímulo keynesiano típico. Precisamos aumentar o gasto público sim, mas não com o objetivo de impulsionar a economia. A questão é de sobrevivência.” Por isso, os esforços devem ser no sentido de manter a saúde financeira das pessoas e das pequenas empresas, além de fazer chegar crédito a quem necessita.
Alguns economistas, contudo, dizem acreditar que a dimensão da crise exige uma ação mais agressiva do governo. “Não há como ampliar o crescimento sem aumentar o investimento público, principalmente em infraestrutura”, afirma José Oreiro. “Esse programa de ajuste fiscal sem crescimento não está surtindo efeito, é como enxugar gelo.”
Oreiro é do time que defende a derrubada do teto de gastos. Para ele, o aumento da dívida pública não preocupa e poderá ser financiada no futuro graças ao aumento do crescimento. Ilan Goldfajn discorda: “É ilusão que toda a dívida será financiada. Lá na frente teremos de fazer um superávit maior. O mais importante é gerar um ambiente de negócios que anime as pessoas a consumir e a investir. Existe um conjunto de reformas pouco comentadas que poderia contribuir com isso”.
A reforma tributária, a independência do Banco Central: são várias reformas que aumentam a produtividade, segundo o ex-presidente do BC. Para ele, um dos caminhos será atrair empresas estrangeiras para investir em infraestrutura. “Mas a falta de coordenação no governo é o contrário do ‘espírito animal’ de Keynes”, afirma Goldfajn. “A imagem do Brasil está sendo destruída. Será difícil crescer assim.” Para Delfim Netto, mexer no teto agora seria “uma tragédia”: “Arrebentaria com todas as expectativas e traria ainda menos crescimento”. A instabilidade política torna a situação ainda mais complicada.
Debates fiscais à parte, o fundamental, como percebeu Keynes, é cultivar o otimismo para despertar o “espírito animal” dos empreendedores. Ele veria com preocupação a falta de cooperação internacional, neste momento de enfrentamento da pandemia e suas consequências. Mas também estaria imaginando como poderíamos superar as dificuldades.
“O keynesianismo, em sua essência, não é uma escola de pensamento econômico, mas um espírito de otimismo radical”, afirma Zachary Carter em seu livro. Na avaliação do jornalista, Keynes - o matemático que virou, meio por acaso, um dos maiores pensadores sociais de toda a história - teve insights que ajudam a imaginar um roteiro para enfrentar problemas como o avanço do autoritarismo e da disparidade social.
São iniciativas como a proposta de um New Deal verde, a discussão sobre os programas sociais e a reavaliação dos investimentos públicos. “Estamos de novo às voltas com Keynes, não porque déficits possam levar ao crescimento sustentável ou porque as taxas de juros sejam determinadas pela preferência pela liquidez, mas porque não temos outro destino a seguir que não seja o futuro”, diz Carter.



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