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O dia em que bebi com Jânio

Texto antigo, de 2010, mas muito saboroso, vale a leitura. Augusto Nunes enfrentou a fera e o resultado está abaixo. De todos os presidentes, JQ é o mais parecido com o atual, JB. Não pelo gosto pelo hábito de consumir bebidas de alta graduação alcoólica, mas pelo temperamento.

Parte 1
A fera do Guarujá
─ Eu não disse? ─ ouvi meu pai dizendo em outubro de 1960.
Depois daquele comício em que Jânio Quadros comeu um sanduíche de mortadela no palanque, o prefeito Adail Nunes da Silva tinha dito que o homem seria presidente da República. E repetiu nos dois anos seguintes a profecia que acabara de ser confirmada pelas urnas.
─ Eu não disse? ─ ouvi minha mãe dizendo em agosto de 1961.
Depois daquele jantar em que Jânio lhe pediu um sanduíche de mortadela depois da sobremesa, dona Biloca tinha dito que o homem era maluco. E repetiu durante os sete meses de governo o diagnóstico que, disso ela não tinha dúvida, a renúncia à Presidência acabara de ratificar.
─ Eu não disse? ─ ouvi o repórter Jomar Morais dizendo em maio de 1980, sentado no banco traseiro do fusca que subia a Via Anchieta.
Em companhia de Jânio desde a madrugada, ele estava no jardim da casa de praia no Guarujá quando cheguei com o fotógrafo Pedro Martinelli, no começo da tarde, para a segunda etapa da reportagem de capa da edição 613 de VEJA.
─ Esse é do ramo ─ disse Jomar com voz baixa e cara de espanto. ─ Está tomando todas desde cedo e continua inteiraço. É fera.
Devia ter entendido o aviso, penitenciei-me em silêncio ao lado de Jomar no carro, com Pedrão no banco do co-piloto,  que escalava a Serra do Mar à noitinha de volta a São Paulo.  Que o homem era bom de copo eu sabia desde 1958, quando o vi derrubar mais de meia garrafa de conhaque enquanto jantava em Taquaritinga. Mas achei que o tempo conspirara a meu favor. Quase 22 anos depois da aparição lá em casa, ele já tinha 63 e eu, pouco mais de 30. Dá pra encarar, acreditei naquele 28 de maio de 1980. Foi o dia em que bebi com Jânio Quadros.
Jomar soube com quem estava lidando  logo depois de apresentar-se a Jânio em São Sebastião, última escala da rota percorrida pelo cargueiro norueguês que o trazia da temporada de dois meses na Europa. O viajante resolveu descer para  passear na cidade deserta às sete da manhã. Ele já fez o aquecimento no navio, deduziu o repórter ao ver o candidato a homem da capa de VEJA beijar com a mesma animação uma septuagenária vestida decorosamente e uma jovem de biquíni, traje que havia banido por decreto tão logo assumiu a Presidência.
Entre São Sebastião e Santos, enquanto Jomar bebia água mineral, Jânio traçou 20 latas de cerveja dinamarquesa. Era só o começo, mostraria durante o almoço. Entre garfadas no prato com arroz, feijão, bife e batatas fritas, o anfitrião derrubou seis copos americanos de caipirinha sem interromper a entrevista, sem perder em nenhum momento o ritmo e o rumo. “Quem bebe caipirinha enquanto come é craque”, observou Pedro Martinelli ao ouvir a informação sussurrada no jardim. E então  Jânio Quadros apareceu na porta da casa. Vestia um slack preto.
E continuava alegre, avisou o sorriso. Continuava loquaz, avisou a discurseira durante os cumprimentos. E continuava sedento, avisou a pergunta formulada tão logo se acomodou por trás da mesa do escritório:
─ O que os senhores jornalistas vão beber?, quis saber, estendendo a mão para a garrafa de vinho do Porto na estante.
Pedrão já estava do lado de fora da casa, testando lentes e ângulos perto da janela da sala.  Jomar pediu mais um copo de água mineral.
─ Uísque ─ caprichei na voz de frequentador de saloon.
O duelo do Guarujá iria começar.
O estilo do campeão
─ Uísque com gelo, só gelo ─ esclareço enquanto ecoam três batidas enérgicas na porta da casa no Guarujá.
─ Sou eu ─ identifica-se o deputado federal Gastone Righi sem dizer o nome, o vozeirão de ex-locutor de parque de diversões vale como documento.
O ex-presidente Jânio Quadros se alegra ao saber quem chegou. Deposita cuidadosamente na mesa a garrafa de vinho do Porto que acabou de abrir, vai atender e volta de braços dados com a figura imponente: solidamente gordo, cabelos fartos e longos, o rosto emoldurado pela barba espessa, Gastone Righi lembra um caminhoneiro de longo curso que faz bicos em programas de luta-livre.
─ Chegou na hora, meu bem, vai beber o quê?
─ Jânio fica meio meloso quando já decolou, meu pai tinha me contado há muito tempo.
Uísque, responde, depois de um possante “boa tarde!”, o deputado nascido em Santos e janista desde vidas passadas. O anfitrião pede que providencie água mineral e o material de combate: uma garrafa de Chivas, dois copos para uísque (baixos), balde de gelo e um copo de vinho.
─ Dos grandes ─ especifica.
─ Eloá está na cozinha, ela sabe onde encontrar essas coisas.
Sabe mas não quer contar, informam frases truncadas que chegam da cozinha: “…bebeu demais…”, “…tem limite…, ”…’é o fim do mundo…” Gastone insiste e dois minutos depois reaparece com a encomenda nos braços. Todos se servem. O deputado senta-se num sofá branco, Jomar e eu ocupamos as duas poltronas pretas. O ex-presidente acomoda-se na cadeira por trás da mesa sobre a qual se equilibram um busto de Abraham Lincoln, uma estatueta de Abraham Lincoln, um dicionário de Português, um cinzeiro com meio charuto apagado, pilhas de jornais ainda em sacos plásticos, um capacete de revolucionário de 1932 e, agora, um cálice de vinho. Dos grandes.
Jânio já tinha liquidado o primeiro em dois goles. Noto que está de tênis. Tiro o paletó, afrouxo a gravata e ataco o Chivas. A primeira dose desce redonda. Três da tarde, confiro no relógio. A conversa deve ir até as cinco. O regulamento é sucinto e claro: perde quem fica grogue mais cedo, e o intervalo entre cada gole não pode passar de cinco minutos. Com seis copos ganho essa parada, calculo. Com oito, mando o homem à lona. Ninguém aguenta tanto. Nem ele.
Ele toma a iniciativa com um gancho no fígado do governador Paulo Maluf, que não aprecia a idéia de transmitir o cargo ao ex-presidente.
─ Deus me deu um Adhemar de Barros com correção monetária ─ Jânio surpreende Jomar com a brusca mudança de opinião sobre a figura que havia elogiado de manhã e agora, no quarto cálice, está comparando ao velho inimigo que transformou em sinônimo de corrupto.
Ainda não decidiu se será candidato a governador, fico sabendo no fim do segundo copo.
─ Se o for, considero-me imbatível ─ solta a famosa combinação próclise-ênclise.
Gira pelo palco da luta sem sinais de cansaço. Trata de temas variados ─ governo militar, inflação, Leonel Brizola, problemas domésticos ou planetários, biquíni, Alberto Pasqualini, briga de galo, Winston Churchill ─ sem embaralhar o raciocínio nem claudicar no falatório. Termina o quinto cálice. Já vai derrubando o sexto entre comentários sobre governos fortes e governos fracos quando vislumbra um vulto na janela. Interrompe a discurseira, gira a cabeça para a direita, abre um sorriso e ergue a voz:
─ Olha! Parece um capuchinho!
O capuchinho é Pedro Martinelli, que segue disparando flashes como se não tivesse ouvido nada. Corpulento, barba e cabeleira compridas e ruivas, rosto rubro de nascença avermelhado pelo sol do Guarujá, Pedrão parece mesmo um capuchinho, concordo em silêncio. Somos amigos há séculos. Como é que nunca percebi o que Jânio enxergou com tanta nitidez mesmo estando pra lá de Bagdá? E a poucos metros de Marrakesh, deduzo ao ouvir o que está dizendo sem que ninguém tenha feito alguma pergunta sobre o tema.
─ Os Estados Unidos estão em franca decadência. Para substituí-los, está emergindo a China, que aposentará o marxismo e será a grande potência do próximo século.
Coisa de profeta, saberei menos de 30 anos depois. Coisa de maluco, achei naquele instante.
─ Acham que sou louco ─ desconfio de que ele adivinhou o que estou pensando.
─ Responsabilizam-me até pelas calmarias que trouxeram Pedro Álvares Cabral a esta terra.
Termina o oitavo cálice. Começa o quarto copo. Dona Eloá aparece na porta do escritório com um talão de cheques na mão, destaca uma folha e pede ao marido que coloque data e assinatura. A quantia ela vai preencher no supermercado, explica.
─ Você precisa disto para quê? ─ Jânio confirma a fama de sovina.
─ O que é que você acha? Esta casa ficou vazia dois meses e meio─ a paciência de dona Eloá não tem fim.
Ele atende à solicitação e devolve o cheque.
─ Você assinou na data e datou a assinatura ─ a paciência de dona Eloá está perto do fim. ─ Assine outro cheque.
─ Eles aceitam assim mesmo ─ encerra o assunto Jânio.
É agora, decido. Quem confunde data e assinatura não está bem. Empunho o quinto copo grávido de otimismo. Ele empunha o nono cálice com a expressão de quem flutua sobre nuvens profundamente azuis. É a bebedeira, imagino. É a autoconfiança que identifica um grande campeão, descobriria em meia hora.
Era tarde demais.
O golpe de misericórdia
Ele cambaleou, exulto ao ouvir Eloá repreendendo o marido por ter assinado o cheque na linha da data e preenchido o espaço da assinatura com o dia, o mês e o ano do duelo em curso no Guarujá. Resolvo acelerar o ritmo dos goles e partir para a contra-ofensiva infiltrando na conversa temas que costumam irritar Jânio Quadros. A história da renúncia, por exemplo. Meio mundo ainda não entendeu aquilo, provoco. Está arrependido do que fez?
─  Não, não e não ─  três esquivas antes do contragolpe. ─  Neste país, não se renuncia sequer ao cargo de síndico. É natural que poucos entendam gestos de grandeza e desprendimento.
Gastone enche gentilmente meu copo. Ataco pelo flanco com miudezas que o ex-presidente sempre achou excessivamente fúteis, mesquinhas demais para merecerem tempo e atenção de um estadista. Gosta das novelas da Globo? Prefere qual horário? Continua apreciando faroeste americano? Jânio vai respondendo com tiradas de repentista e imagens amalucadas. Nada abala o humor do meu oponente. Nem ouvir o editor de Política da revista Veja, que deveria estar lá para tratar de coisas sérias, querendo saber se ele sabe dançar.
─ Não, não sei… ─ simula um tom nostálgico para, em seguida, espantar quem espera ouvir reminiscências da juventude com a comparação absurda. ─  Sinto-me uma centopéia de 98 pernas.
Por que não arredondou para 100?, fico intrigado. Vai ver uma centopéia tem exatamente 98 pernas. Chega de dança, interrompo-me. Agora quero saber se acredita em disco-voador.
─ Sim, acredito. Eloá até já viu um em Cubatão.
Esqueço o desfile de irrelevâncias e fico procurando, calado, táticas mais eficazes. Jânio continua extraordinariamente loquaz. No fim do nono cálice, está falando das cinco cadelas que moram naquela casa quando Eloá aparece na porta vindo da direção de quem entra. Como não retoma o assunto do cheque preenchido pelo avesso, presumo que o dono do supermercado achou prudente aceitá-lo.
O marido não vê quem acabou de chegar. Ela estende lentamente o braço até alcançar o lado esquerdo da mesa, pega a garrafa de vinho do Porto, recolhe com cuidado o objeto do sequestro e desaparece. Acompanho a manobra com o canto dos olhos e cara de paisagem. Dois minutos depois, enquanto explica por que a cadela Quinta-Feira é a preferida, Jânio vê que o cálice está no fim, avança a mão esquerda e, ao chegar lá, não acha nada. Interrompe a frase no meio e olha para o espaço subitamente vazio. Parece confuso.
─  Onde está a garrafa? ─ murmura com jeito de criança perdida no supermercado.
Não conto o que vi nem sob tortura, decido. Vou ganhar por desistência, quem diria? Não importa se levaram o vinho sem o homem perceber, nem a identidade de quem levou. O motivo é irrelevante: se parar de beber, perdeu. A regra é clara. Jânio faz um minuto de silêncio pelo desaparecimento do vinho e repete a pergunta, agora com voz estridente e destinatário definido.
─ Onde está a garrafa, Gastone?
O deputado aponta a cozinha com o polegar.
─ Vá buscá-la ─ ordena a primeira ênclise.  ─ E trate de trazê-la ─ ameaça a segunda.
Gastone sai para cumprir outra missão. Logo voltam a ecoar frases truncadas mas muito esclarecedoras:  “não vou devolver”, “é o fim do mundo”, “chega uma hora que tem que parar”, “os moços estão bêbados também”.  Torço pela eterna primeira-dama. Pedro Martinelli ressurge na janela. Jânio desta vez nem olha para o capuchinho que segue fotografando, só tem cabeça para o vinho que sumiu. Gastone reaparece com a garrafa sobre a cabeça e o mesmo sorriso de Bellini, Mauro e Carlos Alberto erguendo a taça Jules Rimet.
Jânio cumprimenta o aliado efusivamente. Pela primeira talagada, vai comemorar o resgate derrubando o décimo cálice. Está animadíssimo. Olhando para Jomar, pede ao “senhor jornalista”  que anote e começa a a ditar:
─ O presidente Jânio Quadros vírgula depois de examinar detidamente o quadro partidário vírgula optou pelo PTB por ter feito uma constatação indesmentível dois pontos o PMDB é uma arca de Noé vírgula sem Noé ponto…
Único sóbrio no recinto, Jomar está anotando aplicadamente o que Jânio diz. Gastone continua bebendo quieto.  Jânio faz uma pausa no ditado para providenciar o 11° cálice. Paro ou continuo?, hesito. Era hora de jogar a toalha. Mas encho o copo de novo. No primeiro gole, o Lincoln da estatueta e o Lincoln do busto me olham com ar de deboche. Percebo que ultrapassei o ponto de não-retorno. Jânio ergue o cálice como se estivesse brindando. Sorri como um campeão mirando o adversário nocauteado em pé.
Meu erro foi o sexto copo.
PANCADAS ABAIXO DA CINTURA
Meu erro foi o sexto copo, expliquei ao ouvir o humilhante “Eu não disse?” dito por Jomar Moraes na subida da Anchieta. Nunca a estrada de Santos teve tantas curvas. Lembrava que tinha capitulado na metade do copo. Jânio deu mais um gole. Lembrava vagamente que me despedi de Jânio e Gastone com voz pastosa e caminhei para o fusca com a dignidade possível. Dona Eloá estava  na cozinha.
─ Sexto ou sétimo copo, tanto faz ─ disse Jomar. ─ Teu erro foi encarar a fera.
O sorriso superior de Pedrão Martinelli avalizou o parecer. Eu só queria que a Serra do Mar parasse de girar ao meu redor, chegar em casa e dormir. No dia seguinte, fui para prédio da Abril na Marginal do Tietê. José Roberto Guzzo, diretor de redação, estava fora naquela semana. Entrei na sala do diretor-adjunto Elio Gaspari tentando disfarçar a ressaca. Ele quis saber se tinha assunto para uma reportagem de capa. Tinha de sobra, respondi. E soltei o comentário como quem não quer nada.
─ O que o homem está bebendo é uma grandeza.
─ É mesmo? ─ Gaspari ficou curioso.
Contei o que Jânio tinha bebido, ele não acreditou. Sugeri que conferisse com Jomar. Achei irrelevante falar sobre os tragos que tomei. Jornalista não é notícia, tinha ouvido várias vezes na Veja. Gaspari resumiu num trecho da Carta ao Leitor a performance do campeão: 20 latas de cerveja, 6 copos de caipirinha e 11 cálices (dos grandes) de vinho do Porto. A reportagem ficou boa. A Carta ao Leitor repercutiu ainda mais. Fiquei sabendo que Jânio se irritou. Estava vingado.
Quero ver como ele vai se virar na quarta-feira, pensei. Era o dia do programa que tinha na TV Record. Falava o que queria. Mas vai ter de comentar o que a Veja publicou, calculei. Foi o que Jânio fez no primeiro minuto do primeiro bloco. Com um exemplar da revista na mão, queixou-se de que fora vítima de jornalistas irresponsáveis. E entrou na questão alcoólica disposto a golpear abaixo da linha da cintura.
─  Dizem que bebi! ─ escandiu as sílabas. ─ Pois não bebi, até por prescrição médica! Quem bebeu foram os jornalistas!
Fiquei espantado. Não é possível que ele estivesse desmentindo o desempenho admirável. Fez pior. Abriu a revista na página da Carta ao Leitor, a câmera fechou a lente, Jânio pôs o dedo indicador na foto e desfechou o golpe de misericórdia.
─ Vejam isto! Vejam quem está bebendo!
Para sorte de Jânio e para meu infortúnio, a foto que ilustrava a página era uma das que Pedro Martinelli fizera quando dona Eloá acabou de confiscar a garrafa de vinho e Gastone ainda não fora buscá-la. O cálice estava atrás do Lincoln do busto. Só aparecia o copo de uísque, circundado em vermelho pelo artista.
─  Aqui está o senhor jornalista com seu copo ─ desferiu o pontapé nas partes baixas. ─  Cadê a minha bebida?
Foi o segundo nocaute consecutivo. Perdi feio. Mas fui derrotado por um campeão.



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