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Vacinação está acima do indivíduo, diz diretor do Instituto Butantan

Se nada inesperado acontecer, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, se apresentará à CPI da Covid do Senado depois de ter feito sua reza e a meditação matinal baseada na leitura de alguns textos filosóficos, que não envolvem assuntos políticos ou terrenos. É um ritual diário. “Manter a virtude viva no meio do caos é uma tarefa difícil se não examinamos nossa consciência diariamente para lembrarmos e corrigimos nossas ações”, diz. Médico hematologista, professor e pesquisador, ele diz acreditar ter resolvido o dilema que, com frequência, opõe ciência e religião. Depois de ter sido ateu e leitor de Karl Marx (1918-1883) e Sigmund Freud (1856-1939), tornou-se um católico fervoroso. Covas está tranquilo à espera da hora de depor. Tem acompanhado a CPI pelos meios de comunicação e vê sua convocação como testemunha como consequência do papel central do Butantan na vacinação contra a covid. Os fatos são públicos e ele os repete: “O Brasil não planejou adequadamente a compra das vacinas em 2020. O Butantan fez a primeira oferta ao Ministério da Saúde em julho de 2020 e foi contratado apenas em 7 de janeiro de 2021. Outros fornecedores também ofertaram vacinas e não foram contratados no momento em que tinham condições de vendê-las. Quando, enfim, foram contratados, a produção programada já estava destinada a outros países. É assim que funciona a indústria farmacêutica, com planejamento anual. Era esperada a escassez de vacinas que enfrentamos”, escreve Maria da Paz Trefaut para o Valor, em reportagem publicada  dia 21/5 no jornal.


Ele diz que tem ficado evidente que declarações recentes de autoridades federais afetam a relação Brasil-China e, consequentemente, podem ter reflexos na disponibilidade de vacinas, como demonstrou a necessidade do Butantan de paralisar a produção da Coronavac por falta de insumos. “As duas vacinas disponíveis em maior volume hoje, a produzida pelo Butantan e a produzida pela Fiocruz, dependem de insumos chineses. Mesmo não sendo especialista em relações internacionais, o senso comum indica que criticar o seu principal fornecedor pode beneficiar os outros países que se declaram agradecidos pelos insumos. Isso me parece muito óbvio no cenário de escassez de vacinas que vivemos no momento.”


Ainda que seja parceiro do governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele ressalta não ter adotado uma postura contrária ao chefe da nação. “Assumi uma atitude favorável ao que é cientificamente determinado. As vacinas, sem dúvida, foram um grande avanço para a humanidade. Isso não é de agora, é de quase dois séculos. A vacina mudou a perspectiva de vida do homem. Ela ampliou a sobrevida das populações. Vacinas erradicaram doenças. Veja a varíola. Minha atitude não é contra A, B ou C. É a favor dos fatos científicos”, diz.

Para ele, o maior problema é que o governo federal desconsiderou a pandemia e seu potencial destrutivo. “Nossas autoridades não se preveniram em função dos possíveis cenários que poderiam vir. Neste momento, está claro que todas as previsões que eles fizeram estavam erradas. A vacina está em primeiro plano e, tardiamente, eles quiseram dar uma guinada, um cavalo de pau.”

Aos 64 anos, visivelmente mais magro desde o início da pandemia, Covas conta que sua vida mudou muito no último ano, embora o ritmo normal do Instituto Butantan, que acaba de completar 120 anos, sempre tenha sido acelerado. O laboratório foi fundado em 1901, na Fazenda Butantan, que se situava em uma área quase agrária da zona oeste de São Paulo e teve como primeiro diretor o médico sanitarista Vital Brazil (1865-1950).

Covas, que também é professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, está à frente do instituto desde 2017. Com uma carga de trabalho que varia entre 13 e 14 horas diárias, costuma chegar cedo ao Butantan.

Embora tenha sido montada uma mesa de café da manhã com ingredientes escolhidos por sua secretária, Daniela, e enviados pela padaria St. Chico, ele se apresenta para este “À Mesa com o Valor” por Zoom no computador de sua sala e não se alimenta durante a entrevista. Tomou café antes e já meditou, como todos os dias. Às vezes começa a meditar na cama. Outras, ouvindo cantos gregorianos, faz a leitura de um tema específico que serve de base para o seu dia. “Medito para atingir uma melhor compreensão do meu papel neste momento.”

A ideia de que estava preparado para assumir a liderança que lhe foi confiada é consequência de sua trajetória e formação, avalia. “Sempre fui um empreendedor na área pública, minha carreira é na área pública. Por onde passei sempre tive essa característica de dar uma dinâmica às instituições. Então, me senti muito tranquilo”, afirma. “A grande incógnita é a pandemia, as suas características e a sua gravidade. Nunca imaginei que iria enfrentar uma mortandade como essa, uma calamidade como essa. E, também, nunca imaginei que nós, como país, responderíamos tão mal, tão mal, a essa situação.”

Quando começou o surto epidêmico, lembra, não era uma pandemia ainda, “os países sérios” tomaram medidas de proteção: restrição de entrada nos aeroportos, controle das fronteiras. Aqui, isso não ocorreu, diz. “O país foi uma porteira aberta para o vírus, que entrou de forma quase imperceptível, e, quando se percebeu, já estava disseminado. Houve absoluta imprevidência, absoluto despreparo do país para enfrentar a pandemia atual ou qualquer outra. Não há uma estratégia nacional.”

O descrédito do governo com relação à vacina e o incentivo à pessoa não se vacinar foram outros problemas. “Como se não se vacinar fosse um direito! Isso é de uma ignorância enorme!”, diz, quase exaltado.

“Vacinação é um instrumento de proteção social e está acima do indivíduo. É a mesma coisa que a lei. A lei está acima dos indivíduos exatamente para garantir a proteção social. Quando vacinamos estamos protegendo a população. Vacinamos a pessoa, mas no fundo o objetivo é a proteção coletiva. Não existe direito individual à vacinação. Quer dizer, se o indivíduo não quiser se vacinar, ele não é um membro da sociedade, pode ir para uma ilha... Mas, se ele quer trabalhar, frequentar escolas, tem que proteger o coletivo. Se ele não se protege, o coletivo está sob risco.”

Sem mencionar nomes, Covas diz que não foi apenas o boicote à vacina que ocorreu e critica o incentivo a práticas absolutamente anticientíficas. E cita a questão da utilização de máscaras. “Ela já foi usada na gripe espanhola. Não é uma opinião usar ou não usar. É um fato, diminui a transmissão. Outra coisa: o estímulo a usar medicamentos sem nenhuma comprovação científica também revelou uma ciência ao contrário, baseada na opinião de algumas pessoas. O governo embarca numa coisa dessas, gasta milhões e milhões sabendo que não é cientificamente comprovado? E deixa as medidas cientificamente comprovadas de lado, ou as combate?”, pergunta, já como se estivesse dando seu depoimento à CPI.

Sua conclusão é de que vivemos um momento de obscurantismo. “Nestes anos todos não conhecíamos essa face obscurantista, principalmente na esfera pública. Se existia, não era aparente. Um momento de crise como este, de guerra contra o vírus, mostrou essa fragilidade e revela a necessidade de o país investir em educação, porque reflete, no fundo, uma falta absoluta de educação, de compreensão de fatos fundamentais da vida, da saúde. Nós estamos falhando como sociedade.”

“Vamos falar do futuro/ Porque o presente me decepciona/ Vamos falar de otimismo e garra/ Porque o dia a dia me entristece/ Vamos falar de novas luzes.” Estes versos, que estão no livro “Alguma Poesia”, de 2013, foram escritos por Covas na adolescência. É um pequeno volume disponível na Amazon, que contém alguns poemas de sua coleção enorme de poesias guardadas, escritas em papeizinhos ou em cadernos, desde os 12 anos. Entre seus hobbies, que incluem a pesca, escrever é o maior. “São coisas que, num determinado momento, eu tinha tempo para fazer, agora não tenho mais. Gosto de escrever e já tentei ser um escritor de outros estilos que não o científico. Na área científica sou muito prolífico, tenho uma grande quantidade de escritos.”

Uma dessas publicações, “Células-tronco - A Nova Fronteira da Medicina”, escrito em coautoria com o colega Marco Antonio Zago, levou o Pêmio Jabuti em 2013. Outros escritos de Covas estão guardados em cadernos desordenados “que você tem que abrir para saber o que tem dentro”. Ele se confessa meio antiquado, porque prefere escrever com caneta-tinteiro. “Às vezes, gosto de fazer manuscritos em letra gótica, são os pequenos prazeres da vida.”

Ele vive sozinho em um apartamento no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, e diz ter, praticamente, uma vida de monge. Sua mulher, a biomédica Claudia, com quem está casado há 24 anos, continua morando em Batatais, cidade do interior paulista onde nasceu e cresceu e para onde vai uma vez por semana. A família de Covas - que não tem parentesco com o ex-governador Mário Covas (1930-2001) e o ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas (1980-2021) - é de imigrantes italianos que foram trabalhar nas plantações de café em Batatais.

É nessa cidade do interior paulista que está a filha, Giulia, de 17 anos. O filho, Lorenzo, de 24 anos, cursa a Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Os dois se veem quase diariamente. “Minha rotina é trabalhar, orar, refletir. Sou uma pessoa muito simples, bastante espartana, não sou dado a ambientes de convivência social intensa, jantares ou reuniões. Sou mais recluso.”

No Butantan, ele comanda uma equipe de 2,6 mil funcionários, que têm muitas outras atividades, além de produzir a Coronavac. Só da gripe são 80 milhões de doses anuais. A Butanvac está sendo desenvolvida em parceria com vários institutos de pesquisa internacionais. “Estamos produzindo 6 milhões de doses e pedindo autorização da Anvisa para início dos testes clínicos. Se tudo correr bem, teremos a vacina disponível para uso no último trimestre deste ano e, portanto, não é alternativa ao programa de vacinação neste momento.”

Alvo de críticas por omitir a participação de outros laboratórios no lançamento da Butanvac, Covas defende-se: “Não existem desenvolvimentos, hoje, que sejam absolutamente nacionais. Os desenvolvimentos modernos sempre têm a contribuição de muitas pessoas e de muitas instituições. Não havia intenção de negar. Ela é fruto de um consórcio internacional, há mais de oito parceiros, inclusive alguns como o Vietnã e a Indonésia já estão produzindo a vacina, que em cada país tem suas características”.

A Butanvac, acentua, é parte de um esforço internacional para criar uma segunda geração de vacinas de custo baixo para permitir que seja universal. “O grande problema das vacinas que existem hoje é que são caríssimas e de tecnologia proprietária. Ninguém falou ainda: ‘Olha, a minha será a vacina do mundo, vou dar para o mundo todo’. São todas vacinas que tiveram um grande aporte de recursos e que, em algum momento, serão ressarcidas.”

No caso da Coronavac, faz questão de frisar, além dos investimentos financeiros de R$ 500 milhões entre desenvolvimento, matéria-prima e estudos clínicos, há outros, quase intangíveis, em recursos humanos, treinamento, capacitação.

“Isso é diferente das grandes companhias, que receberam um fluxo de bilhões de dólares para fazer esse desenvolvimento”, afirma. “O Butantan não recebeu um tostão. Tentamos com o Ministério da Saúde por meio de uma negociação como foi feita com a Fiocruz, que recebeu R$ 2 bilhões de investimento direto. Não recebemos nada do governo federal. A vacina foi vetada. Ela continuaria vetada não fosse quase a única disponível. A realidade se impôs.”

É com preocupação que Covas vê o recente corte de 87% das bolsas de doutorado e pós-doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para ele, a ciência nunca foi prioridade de governos, o que é um engano. “Fosse prioridade, o Brasil seria uma potência. O que temos aqui de gente qualificada, de universidades, de institutos de pesquisa. As economias desenvolvidas atingiram o estágio que atingiram com base no conhecimento científico. Isso é inegável”, avalia. Mesmo agora, no curso de uma pandemia, a ciência “não só não é apoiada, mas tem sido negada”. “O cientista ainda continua sendo visto aqui como um sujeito exótico e, muitas vezes, desconectado da realidade. É o contrário.”

Em sua perspectiva, a pandemia veio mostrar a fragilidade do Brasil nesse sentido. Diz que não é um problema restrito a vacinas, “que é aguda porque estão morrendo muitas pessoas”, mas existem outras crises. Cita a de medicamentos oncológicos, de tratamentos para “doenças negligenciadas”, além de outras, que são menores em volume de pessoas atingidas, mas que estão aí há muito tempo sem serem resolvidas.

“Espero que seja um momento de reflexão para o país e que se veja claramente que a indústria nacional, principalmente a indústria de biotecnologia que é muito fraca, possa se apoiar no desenvolvimento da ciência e possa ser incentivada. Biotecnologia é a medicina do futuro. Esta crise é a primeira de outras que virão.”

Esse prognóstico, aliás, feito pelos epidemiologistas do mundo todo, o faz lembrar de que tivemos uma epidemia recente de zika, vivemos uma de dengue continuamente e isso não chama a atenção porque as pessoas se acostumaram.

O momento, diz acreditar, é uma oportunidade para o Brasil se reposicionar estrategicamente com relação à ciência, a sua importância na sociedade e como fator econômico. “A ciência é fundamental, não teremos nunca uma indústria de ponta, que possa ser compatível com o tamanho da economia do país, se nós não olharmos para essas questões. É o momento, sim, de pensar, de refletir, de nos prepararmos para não termos daqui uns anos crises iguais a esta.”

Na juventude, Covas foi estudioso de Freud e queria ser psiquiatra. No quarto ano, porém, nas primeiras aulas de psiquiatria, teve uma grande decepção. “Naquela época, me descobri iludido. Percebi que não era toda aquela maravilha que eu achava quando lia Freud. Abandonei a ideia de ser psiquiatra e voltei para minha biologia. Sempre fui apaixonado por biologia, tanto é que, de todas a carreiras médicas, a hematologia é a que mais trabalha próxima da biologia.”

O conflito entre ciência e religião, para ele, é página virada. Foi ateu durante muito tempo e foi da descrença total à percepção de que não encontraria todas as respostas na ciência. “É muito difícil para um cientista lidar com a possibilidade de transcendência. Isso ocorre por uma certa limitação do conhecimento. Eu achei, num determinado momento, que a ciência era o suprassumo de tudo. É um engano profundo. A ciência é um pequeno tijolinho numa imensidão de possibilidades, de conhecimentos, de realidades, e a realidade observável é muito restrita. Quando você chega a essa conclusão e entra mais profundamente na própria ciência discutindo suas bases, você chega ao transcendente, à ideia de Deus - e as ideias de Deus são múltiplas.”

Pessoalmente, diz ter chegado a Deus quase que por dedução, seguindo os passos do religioso e filósofo italiano São Tomás de Aquino (1225-1274). “A hora em que descobri São Tomás e suas reflexões, comecei a observar mais profundamente a realidade do ser humano e percebi que é inescapável a admissão do transcendente. Do absoluto. E cheguei aqui, me confortei muito, e isso tem dado muito sentido à minha vida.”

Como a ciência não demonstra o transcendente, ele diz que as primeiras manifestações que teve surgiram quando passou a admiti-lo. “Nós temos que crer, crer com a fé, mas também com a razão. Usar a razão para poder chegar a suportar as crenças que a fé nos leva. Quando isso acontece, você se abre para ver a manifestação do transcendente. E vai sentir, vai perceber, em muitos momentos da vida, a presença de Deus junto de você. Acredito na entidade superior que é Deus e que nós somos criaturas divinas.”

A necessidade de buscar explicações para questões fundamentais como a origem da vida e do universo o levaram a esse caminho. “Você chega a um determinado ponto e sempre fica faltando o seguinte. Olha, antes do ‘big bang’ ninguém sabe o que existia. São Tomás resume de uma maneira muito prática os argumentos que eu estava procurando do ponto de vista científico. Se você acredita em ciência, se acredita no poder da demonstração da lógica, se acredita na razão, tem que necessariamente acreditar em Deus. Senão você está em contradição. Então, todo o cientista que se preze, se ele quer ser, de fato, cientista, tem que percorrer esse caminho. Senão, estará sendo parcial.”

Essa crença o conforta. A profissão de médico também. Medo de morrer ou de sofrer com os efeitos colaterais da covid? Não. Já se vacinou e até desconfia que teve, pois quando fez o teste o resultado foi positivo no contato com o vírus. Provavelmente foi assintomático.

“Receio de morrer, tenho, mas, medo, pavor, não. Sou médico, e a gente lida com a morte a vida inteira: se expõe a riscos sempre. Trabalhei com HIV numa época em que ainda não se sabia o que era, com hepatite, com vários agentes infecciosos. Eu me expus muito. Agora é hora do Brasil se unir de forma racional, científica, para combater essa epidemia, que ainda vai durar um longo período.”





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