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Rogério Ceni: Segredos para revolucionar um time de futebol

Com dedicação total ao trabalho e fama de centralizador, ídolo são-paulino diz ter feito legado como treinador e hoje revoluciona o Fortaleza, escreve o jornalista Tom Cardoso, de Fortaleza, para a coluna Valor à Mesa, do jornal econômico. Vale muito a leitura do perfil deste que é o verdadeiro “mito” do futebol brasileiro. Melhor goleiro que este blogueiro viu jogar, treinador diferenciado, Rogério Ceni é realmente brilhante. Na íntegra, abaixo.

Rogério Ceni sente menos os efeitos do isolamento social. Menos do que os dirigentes do Fortaleza Esporte Clube, que desde o início da quarentena vêm virando noites para reequilibrar as contas do clube e mitigar os efeitos do novo coronavírus. Não que Ceni esteja imune aos seus efeitos colaterais. Assim como os jogadores e integrantes da diretoria, ele aceitou redução de 25% em seu salário. Mas ficar confinado não é necessariamente um problema para ele, que, em condições normais, tem seu foco total no trabalho e dá pouca atenção ao mundo fora do campo.
É por isso que Ceni tem inspirado dois sentimentos na comissão técnica do Fortaleza: medo e admiração. Uma reação está ligada à outra. É difícil encontrar outro funcionário na história do clube que se mostrou tão vocacionado ao trabalho e tão atento aos detalhes quanto o ex-goleiro e hoje treinador do time cearense. Nada escapa do olhar atento de Ceni, que controla desde o crescimento da grama dos campos do centro de treinamento à quantidade de legumes que devem compor o cardápio nutricional dos atletas.
O treinador recebeu a reportagem para este “À Mesa com o Valor” à véspera do início do isolamento social em Fortaleza - o prefeito da cidade, Roberto Cláudio (PDT), de 44 anos, foi um dos primeiros a ser infectado. Assessores haviam montado uma mesa com um lanche da tarde, com pães, queijo, presunto, pães de queijo, suco de laranja e café. Hoje solteiro, ele passa boa parte de seu tempo no clube. Está acostumado a comer no centro de treinamento (CT). Ceni foi casado por 14 anos com Sandra, com quem teve as gêmeas Beatriz e Clara, de 13 anos.
Em Fortaleza, ele não é visto em restaurantes. Não há tempo a perder. Se preciso for, está pronto para dormir no CT, como fazia o seu mestre e treinador no São Paulo, Telê Santana (1931-2006). Tem sido assim desde a chegada ao Fortaleza. Nas primeiras semanas, Ceni passou praticamente o dia inteiro grudado ao telefone, fazendo ligações para jogadores, tentando convencê-los a ir para o clube do Nordeste, que na época estava na Série B e ainda era visto como um time com chances remotas de subir para a elite do futebol.
O treinador falou com mais de cem jogadores, função que normalmente seria feita pelo diretor de futebol ou por agentes ligados aos atletas, mas que ele fez questão de assumir com tantas outras atividades ligadas diretamente ou indiretamente ao departamento de futebol. Ele admite o estilo centralizador e a obsessão por tudo relacionado ao clube. “Eu sei que não deveria ser assim, mas o trabalho é o meu único lazer”, afirma.
O simples aviso de que Ceni havia chegado ao CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú, região metropolitana da capital cearense, promoveu um corre-corre entre os funcionários, preocupados em checar se havia algo fora do lugar - o que poderia render uma repreensão do treinador. A despeito da fama de “general quatro estrelas”, ele parece ser querido no clube, tido como um dos responsáveis por levar o Fortaleza a outro patamar dentro e fora de campo.
Desde a chegada do técnico, em novembro de 2017, o Fortaleza conquistou o acesso à elite do futebol brasileiro, ao ser campeão, em 2018, da Série B; ganhou uma Copa do Nordeste, no ano passado (a primeira de sua história), e um estadual, também em 2019, além de ficar entre os dez primeiros da Série A. Uma proeza para um time que até há pouco tempo tinha como meta sair da Série C - foram oito anos habitando a terceira divisão do futebol brasileiro.
Ceni não se limitou a dar ordens dentro de campo e promoveu mudanças radicais no departamento de futebol, reformulando o centro de treinamento, escolhendo a melhor grama para o campo, os aparelhos ideais da academia de ginástica e quantos cozinheiros deveriam ser contratados no setor de nutrição. Um nível de ingerência raro entre treinadores de futebol, mas muito bem-aceito por todos os profissionais envolvidos na rotina do time.
A maioria parece consciente de que Ceni vestiu a camisa do clube e foi muito além de suas obrigações diárias. Saiu do bolso do treinador, por vontade própria, parte da verba necessária para as obras de conclusão do novo Centro de Excelência do Fortaleza, no estádio do Pici, sede do clube. Após a doação de Ceni, que desembolsou R$ 100 mil, milhares de torcedores fizeram o mesmo, doando quantias bem mais modestas, mas participando em massa da vaquinha promovida pela direção. Os R$ 400 mil necessários para a reforma foram arrecadados em poucos dias.
Essa entrega total de Ceni ao clube explica a movimentação, antes da quarentena por causa da pandemia, de fãs na portaria do CT à espera de um autógrafo não dos jogadores - o que seria o habitual -, mas do treinador, o “Mito”, que virou celebridade na cidade. O técnico chegou ao centro de treinamento usando camiseta do clube, short e chinelo, figurino que faz dele o “chinelinho” (termo usado no mundo do futebol para designar jogadores relapsos e descompromissados) menos “chinelinho” do futebol brasileiro.
Ceni preferiu não conceder esta entrevista na sua sala, um espaço mais charmoso, decorado com fotos e objetos que remetem à sua carreira esportiva (“é meu local de trabalho”, justificou), optando por uma das salas reservadas para reuniões, improvisada para este “À Mesa com o Valor”.
Aos 47 anos, antes do isolamento, ele se permitia raros momentos fora da rotina do clube, como jogar tênis algumas vezes por semana. Aliás, na verdade, não pode ser chamado de “período de relaxamento”. O comportamento como tenista não difere muito do apresentado à beira do campo durante os jogos. “Eu quero ganhar sempre. Os meus parceiros de tênis sabem disso. Sou insuportavelmente competitivo, não tem jeito.”
Paranaense de Pato Branco, o ex-goleiro completa neste ano três décadas dedicadas ao futebol. No São Paulo, como jogador, bateu todos os recordes possíveis. Disputou 1.237 partidas, superando Pelé (1.116 jogos pelo Santos) e entrou para a história do futebol mundial como o atleta que mais disputou partidas por um só clube. Consagrou-se mesmo como goleiro-artilheiro, marcando 131 gols na carreira, sendo 61 de falta, mais do que o dobro do paraguaio José Luis Chilavert, o primeiro arqueiro a se aventurar a fazer gols.
Ceni credita todos os feitos profissionais à dedicação integral ao trabalho. É consenso entre os especialistas da posição que ele pertence à galeria dos grandes goleiros da história do futebol brasileiro, mesmo sendo inferior tecnicamente a outros com o mesmo histórico e legado. O goleiro-artilheiro também não teria surgido se antes de cobrar a primeira falta num jogo oficial, em 1997, ele não tivesse treinado 3 mil cobranças de faltas por mês - até se sentir seguro e apto para cobrar a primeira valendo ponto.
Ceni tinha 17 anos quando deixou o Mato Grosso como campeão estadual pelo Sinop e se mudou para capital paulista, em 1990. Por algum tempo, morou no alojamento no estádio do Morumbi e chegou a passar dificuldades, até entrar para o elenco profissional do São Paulo. Em 2002 foi campeão da Copa do Mundo com a seleção brasileira e, em 2005, levou o São Paulo ao auge. Foi campeão estadual, da Libertadores e do Mundial. Foi o artilheiro do time no ano e o herói da histórica decisão, em Yokohama, no Japão, contra o Liverpool, quando a equipe tricolor conquistou o Mundial de Clubes pela terceira vez.
Ceni conta ter herdado do seu ex-treinador Telê Santana (outra lenda da história do São Paulo) a cartilha disciplinar que fez dele um dos maiores vitoriosos da história do clube (foram 18 títulos de Ceni pelo tricolor). “Quando alguém me compara ao Telê, eu sei que também é pelo nível de chatice. E é isso mesmo, sou chato pra c.”, brinca. Em um vídeo que viralizou na internet, o narrador Milton Leite, do SporTV, diz, sem saber que estava sendo gravado durante o intervalo de uma transmissão, que Rogério é “chato pra c”.
Ceni aplicou no Fortaleza o preceito que virou sua profissão de fé: “Seja o primeiro a chegar e o último a sair”. Lema que não faz a alegria dos atletas mais hedonistas. Estes não têm chance com o treinador, sem pudor em afastar os mais indolentes. Muitos estão na geladeira. Por outro lado, os que mostram força de vontade e dedicação ganham pontos com o treinador. O critério técnico é importante e será sempre levado em conta por alguém que tem no futebol ofensivo uma de suas marcas (outra herança de Telê). No entanto, jogador motivado e comprometido, que chega meia hora antes do treino, conquista o seu respeito. Todos precisam ser um pouco como Ceni.
A inquietude do treinador é evidenciada nas atitudes e nos gestos. Sentado na cadeira, balançando freneticamente as pernas, o treinador não relaxa em nenhum momento - o que fica claro nas espiadas de relance pela janela ao lado da mesa, que dá vista para o centro de treinamento, como se procurasse algo fora do lugar.
Ceni cita novamente Telê. “As pessoas que agradam muito a gente, que lhe convidam para tomar uma cervejinha, são muito legais naquele dia, mas não acrescentam nada em nossas vidas”, diz. “Os caras que eu mais lembro são sempre os mais chatos, que me cobraram e me fizeram crescer profissionalmente. Telê é um deles.”
Tanta dedicação também tem seu preço. Ao sofrer uma isquemia cerebral em 1996, no auge da carreira, Telê se viu obrigado a abandonar o futebol. Na época, muito se falou do excesso de entrega do treinador ao São Paulo, um estresse que ele talvez pudesse evitar caso se permitisse abrir espaço para outras atividades fora do ambiente do futebol. Por muitos anos, Telê dormiu no próprio centro de treinamento do São Paulo, na Barra Funda, longe dos amigos e familiares. Também nunca desligava.
Recentemente, outro discípulo de Telê e ex-treinador de Ceni no São Paulo, Muricy Ramalho, decidiu deixar a carreira de treinador para virar comentarista de televisão, após ter problemas de saúde por conta da dedicação integral ao futebol. Não há registros de que tenha se arrependido.
Em entrevistas, Muricy afirma que estaria morto se não tivesse deixado o futebol. Ceni, que goza de plena saúde, sabe que um dia o futebol lhe cobrará a conta pelo excesso de trabalho, mas não pensa em diminuir o ritmo. “Enquanto tiver saúde, vou fazer as coisas do único jeito que sei: de forma intensa. Não saberia fazer diferente.”
As suas escolhas nem sempre se mostraram acertadas. Ceni, tão austero nos posicionamentos, foi duramente criticado pela imprensa especializada por ter tomado decisões impulsivas, que prejudicaram a curta carreira de treinador. A primeira delas, em 2016, um ano após a aposentadoria como jogador, foi a de aceitar dirigir seu clube do coração, o São Paulo, desafio considerado por alguns como desproporcional para as pretensões de um treinador novato. Ceni, demitido, durou poucos meses no cargo.
O segundo grande erro apontado teria sido aceitar sair do Fortaleza, no meio do Campeonato Brasileiro do ano passado, para dirigir o Cruzeiro, em grave crise financeira. Ceni se indispôs com os jogadores e com parte da diretoria e ficou apenas seis semanas no clube de Belo Horizonte. Demitido, voltou ao Fortaleza, que o recebeu novamente de braços abertos.
Ceni só faz uma mea-culpa em relação à saída do Fortaleza. Mesmo assim, diz ter sido induzido ao erro. “Eu não sabia dos problemas financeiros do Cruzeiro”, afirma. “E acho que nem foi esse o problema. Eles têm realmente uma estrutura para se trabalhar fantástica, uma das melhores que eu já vi. Os problemas foram gerados por conta de algumas pessoas, que só atrapalhavam”, diz, sem entrar em detalhes. Na passagem pelo clube mineiro, Ceni se indispôs, principalmente, com Thiago Neves, uma das estrelas do elenco cruzeirense.
No Cruzeiro, ele foi mais Rogério Ceni do que nunca. Logo no início do trabalho, sabendo dos desafios que teria pela frente, como cuidar de uma imensa reformulação no time e no departamento de futebol e ainda livrar a equipe do rebaixamento, o treinador decidiu morar no CT. “Passei 21 dias sem sair de lá. Três semanas sem arredar o pé de lá. Era a única forma que eu tinha para conhecer as pessoas, os jogadores”, lembra. “Sai uma vez só para jantar em Belo Horizonte - uma só. Falta de trabalho não foi.”
Sobre a saída do São Paulo, Ceni não tem dúvida: não errou ao escolher o clube para iniciar a carreira e deixou um legado como treinador na meteórica passagem por lá. “Treinar o São Paulo foi o maior acerto que eu fiz. Foi o maior acerto puxar 23 jogadores novos para o time, principalmente sendo que 12 deles pertenciam à categoria de base. Foi o maior acerto ter conseguido promover esses jovens jogadores e valorizá-los no exterior, a ponto de botar R$ 180 milhões no cofre do clube só com a venda dessas revelações.”
Ceni não se arrepende de ter aceitado dirigir o São Paulo e tampouco acha que a falta de experiência como treinador não o credenciava a dirigir um gigante do futebol brasileiro. “Essa escolha pelo São Paulo que me permitiu receber, por exemplo, a proposta de outro time grande, como o Cruzeiro. Não acho que queimei etapas. Faria de novo.”
O ídolo são-paulino e hoje treinador nunca se deu bem com o atual presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, também conhecido como Leco.
A carreira de treinador pode ser mais longa do que a de jogador. Atual técnico do Santos, o português Jesualdo Ferreira tem 73 anos. Outro decano dos gramados, Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras, tem 67. A longevidade profissional talvez permita que alguns preceitos futebolísticos fiquem pelo caminho, como o que impede um ídolo tão fortemente enraizado com o clube de coração trabalhar no maior rival. Será possível ver, daqui a algumas décadas, um Rogério Ceni treinando o Corinthians?
Antes de responder, Ceni corrige o repórter. “Daqui ‘a algumas décadas’? Não me queira tão mal assim, minha carreira não vai ser tão longa desse jeito, pelo menos eu espero”, brinca. Ele passa a falar seriamente. “Eu não diria que impossível, pois nada é impossível nesta vida - virar técnico do Corinthians ou do Palmeiras-, mas acho muito pouco provável”, afirma.
“Muito do respeito que eu conquistei com o torcedor são-paulino se deve à rivalidade de 25 anos que tive com esses clubes. Não pretendo jogar fora isso, até porque existem muitos outros grandes clubes no Brasil”, diz Ceni, que marcou o centésimo gol de sua carreira contra o Corinthians, de falta, numa tarde em Barueri, no dia 27 de março de 2011.
Se dependesse da vontade de Ceni, ele não cometeria o mesmo erro do ano passado e ficaria longo anos no Fortaleza. Porém, ele sabe, por experiência, que a profissão de treinador não permite grandes projeções sobre o futuro. “É como a bolsa de valores, com mais volatilidade ainda. Quem está em alta hoje é bem provável que esteja em baixa amanhã”, diz. “Mas gosto cada vez mais de morar aqui. Jogo tênis a 100m da praia, não tenho do que reclamar.” No fim do ano passado, Ceni recusou uma tentadora proposta do Athletico Paranaense, um dos emergentes do futebol brasileiro.
Como passa a maior parte do tempo no trabalho - com apenas algumas horas de lazer dedicadas ao tênis, sua segunda paixão -, Ceni raramente é visto passeando pela cidade. Isso não impediu o treinador de estabelecer uma relação forte com o torcedor local, dentro das quatro linhas. “A torcida do Fortaleza é realmente especial. A festa que eles fazem dentro do estádio é fantástica, algo extremamente prazeroso para mim”, diz. “Não preciso ir ao shopping da cidade para sentir esse afeto.”
Ceni não tem conta no Instagram, no Facebook ou no Twitter e usa WhatsApp como ferramenta de trabalho e para se comunicar com as filhas e o filho Henrique, de 7 anos, que vivem em São Paulo. Ele também se recusa a seguir uma tendência que cerca o mundo do futebol, avaliar a qualidade dos treinadores pelo número de cursos feitos no exterior. A procura por certificados e cursos internacionais virou febre entre técnicos.
Isso se deve sobretudo à ascensão do técnico Jorge Jesus, que levou o Flamengo ao título de Campeão Brasileiro e da Libertadores em 2019. Comandado pelo português, o time exibiu um futebol intenso e dinâmico, com variações táticas que evidenciaram a falta de renovação dos treinadores locais. Questionados e considerados obsoletos, muitos deles buscaram por iniciativa própria uma reciclagem profissional. Isso aumentou a busca por cursos no exterior, a maioria deles de curta-duração, uma vez que o apertado calendário brasileiro não permite grandes ousadias.
O próprio Ceni, após se aposentar como jogador, passou uma temporada estudando em Londres, na Federação Inglesa de Futebol (FA), onde adquiriu certificados para os níveis 1 e 2 de técnico de futebol. O ex-goleiro também aproveitou a viagem para visitar os principais times europeus e acompanhar treinos de técnicos como Jorge Sampaoli, Pep Guardiola, Jürgen Klopp e Carlo Ancelotti.
O atual técnico do Fortaleza reconhece a importância de buscar conhecimento teórico e de dialogar com treinadores de ponta do futebol europeu, mas não acha que o número de certificados e de cursos vão determinar bagagem e experiência de um treinador. “Quero deixar bem claro que não foi o fato de ficar seis meses na Inglaterra fazendo cursos que vai fazer de mim um bom profissional”, diz. “Eles são importantes, claro, como toda busca por conhecimento. Mas, se um dia eu me tornar um grande treinador, será pelos anos dedicados ao futebol, pelos 1,6 mil jogos que eu participei como jogador e técnico.”
Ceni praticamente não tocou no lanche da tarde. Com 1,80m, não está mais com o físico típico de um atleta, mas tem que dar exemplo para os jogadores e para o departamento de nutrição, que ele controla com mãos de ferro.
Comumente chamado de “Mito” pelos fãs, ele brinca com o fato de seu epíteto estar hoje muito mais associado à figura do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). “Fico aliviado por ele ter se apropriado do termo, a responsabilidade agora está com ele. Eu sigo fazendo o meu trabalho.”



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