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Denzel Washington, o melhor ator do século XXI

Denzel Washington tem o que Hollywood chama de “star power”. Aos 66 anos, mais de 40 deles dedicados às telas, o astro mais conhecido por filmes que discutem questões raciais, sociais e políticas leva até hoje multidões às salas de cinema. E sem perder o prestígio aos olhos da crítica, mesmo no caso de a produção deixar a desejar do ponto de vista artístico. Seu nome figurou no topo da lista com os 25 maiores atores do século XXI até agora, publicada em novembro, pelo jornal “The New York Times”. Sempre imprimindo magnetismo em seus personagens, sejam heróis ou vilões, Washington exibe um dos históricos mais sólidos em termos de bilheteria na indústria do cinema. Sua última aparição nas telas, em “O Protetor 2”, arrecadou mais de US$ 190 milhões mundialmente, em 2018. “Se um filme seu faz sucesso, há sempre uma pressão para que o próximo também faça”, afirma Washington, de sua casa em Los Angeles, por videochamada, escreve Elaine Guerini no Valor, em resenha publicada dia 22/1. Continua a seguir.


Durante evento on-line, na última edição do Festival de Toronto, que teve cobertura do Valor, Washington contou que inicialmente pensou em seguir carreira na medicina. Mas acabou estudando jornalismo na Universidade Fordham, no Bronx, em Nova York, onde jogava basquete universitário - o que, na sua cabeça, também poderia ser uma opção profissional.

“No fim, a atuação me escolheu”, diz. O ator conta que a vocação se manifestou durante um workshop de teatro, quando ele trabalhava em um acampamento de verão. “O meu primeiro papel foi para atuar em um musical. Mas aí percebi que não podia cantar. É preciso reconhecer suas limitações”, recorda Washington, rindo.

Desde então, já são cerca de 60 trabalhos no cinema e na televisão e nove nos palcos. O próximo título a se aproveitar de sua forte presença em cena é “Os Pequenos Vestígios”, thriller psicológico previsto para chegar às telas nacionais no dia 28. A Warner Bros. do Brasil aposta no poder de Washington para atrair o público mesmo em tempos de pandemia, com a frequência das salas em queda.

Dirigido por John Lee Hancock (de “Um Sonho Possível”, que rendeu o Oscar de melhor atriz a Sandra Bullock em 2010), Denzel Washington encarna um xerife do condado de Kern que ajuda um jovem sargento de Los Angeles (Rami Malek) no caso de um assassino serial (Jared Leto).

Durante a investigação, no entanto, surgem segredos perturbadores do passado do xerife, conhecido por empregar métodos da velha-guarda, que contrastam com os procedimentos policiais mais atualizados. Washington impõe autoridade naturalmente, o que não o impede de expressar a vulnerabilidade do personagem (Joe “Deke” Deacon), acrescentando uma camada a mais de complexidade à performance.

E como Washington escolhe seus papéis? Qual é a fórmula para construir uma carreira equilibrando reconhecimento artístico com êxito comercial? “O meu próximo trabalho sempre depende do que acabei de fazer”, afirma o ator, que busca contrastes para evitar se repetir nas telas. Ainda assim, há uma tendência em sua filmografia: interpretar policiais, criminosos, agentes do FBI ou da CIA, treinadores ou advogados.

Antes de viver o xerife de “Os Pequenos Vestígios”, Washington passou meses nos palcos da Broadway interpretando Theodore Hickman, em “The Iceman Cometh” (A Vinda do Homem de Gelo), do dramaturgo Eugene O’Neill (1888-1953). Enquanto vivia o caixeiro-viajante traído pela mulher, ele também atuava como produtor de “A Voz Suprema do Blues”, lançado na Netflix em dezembro, uma cinebiografia sobre Ma Rainey (1886-1939), a “mãe do blues”, interpretada por Viola Davis.

Outro exemplo é o filme que o ator escolheu após “O Voo” (2012), no papel do piloto de avião que cai em desgraça devido à dependência do álcool e da cocaína. “Depois de um trabalho tão pesado, rodei ‘Dose Dupla’, com Mark Wahlberg, por querer um filme mais bobo”, diz, referindo-se à comédia policial sobre dois agentes disfarçados, que somou bilheteria de US$ 132 milhões, em 2013.

Washington é um dos poucos atores que sai de produções inexpressivas com a reputação intacta. O fato de ter conquistado duas estatuetas do Oscar provavelmente o ajuda. Ele foi premiado pela Academia como melhor ator por “Dia de Treinamento’’ (2001), filme de ação que denuncia a corrupção na polícia de Los Angeles, e como coadjuvante por “Tempo de Glória’’ (1989), épico sobre a Guerra de Secessão (1861-1865) que relembra a trajetória do primeiro regimento negro.

São muitos os sucessos de público de sua carreira, principalmente na pele de personagens que estão do lado da lei ou contra ela. Seu filme mais rentável até hoje foi “O Gângster” (2007), que faturou mais de US$ 266 milhões mundialmente, trazendo o ator no papel de Frank Lucas (1930-2019). O chefão do tráfico em Nova York ficou conhecido por transportar drogas para os EUA em caixões de soldados americanos mortos no Vietnã.

Seu segundo título de maior bilheteria é “Protegendo o Inimigo” (2012), com o ator interpretando um ex-agente da CIA acusado de traição. O filme foi responsável pela renda global de US$ 208 milhões. No terceiro lugar, entre as produções mais lucrativas do ator, está “Filadélfia” (1993), um dos primeiros filmes a abordar em Hollywood um assunto espinhoso, a aids. No drama, que arrecadou mais de US$ 206 milhões, o ator encarnou o advogado que precisa superar o próprio preconceito para defender um homem soropositivo demitido por discriminação.

“Nunca quis atuar nos filmes que dirigi, mas não teria conseguido viabilizá-los se não estivesse no elenco”, diz Washington, ao comentar sobre o status de ator “bankable” (financiável) que recebeu, por causa dos sucessos que estrelou. Curiosamente, as produções em que exerceu as duas funções estão entre as que deram menos dinheiro.

“Voltando a Viver” (2002) somou a renda de US$ 23,4 milhões ao contar a história de um oficial da Marinha briguento forçado a fazer terapia. Responsável por bilheteria de US$ 30,2 milhões, “O Grande Debate” (2007) presta homenagem a um professor negro que incentivou os debates universitários inter-raciais, apesar da segregação nos anos 1930. Em “Um Limite Entre Nós” (2016), que arrecadou US$ 64,4 milhões, a vida de um coletor de lixo ajuda a ilustrar as cicatrizes do racismo.

As rendas mais modestas aparentemente não incomodaram o astro, que já prepara o seu quarto filme como diretor. “É um romance sobre amor e perda”, afirma ele, sem dar mais detalhes. Washington só adianta que deve colocar em prática um conselho que recebeu do cineasta Joel Coen, com quem acaba de rodar uma adaptação de “Macbeth”, em que faz o papel-título - a peça de William Shakespeare (1564-1616) trata do nobre que assassina o rei para tomar o trono.

“Quando perguntei sobre roubar (ideias) de outros diretores, Joel disse que todo mundo rouba, por tudo já ter sido feito. Ele só me aconselhou a roubar sempre do melhor. Então eu perguntei: ‘Tudo bem se eu roubar de você, Joel?’”, conta o ator, rindo.



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