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Jovem grávida morta em tiroteio no Lins sonhava ser a 'Gisele Bündchen carioca'

Foi às 18h53m, do dia dia 3 de outubro de 1996, uma quinta-feira, que nasceu, no Hospital do Andaraí, no bairro de mesmo nome na Zona Norte do Rio, a pequena Kathlen de Oliveira Romeu, filha única da administradora Jackeline de Oliveira Lopes, que, à época, tinha 15 anos, e de Luciano Gonçalves. Horas após o nascimento da bebezinha, os pais e avós a levaram para uma casa na comunidade do Lins de Vasconcelos, também na Zona Norte. Os anos foram passando e, quando Kethlen completou 6, foi colocada pelos pais na Escola municipal Bento Ribeiro, no Méier, bairro vizinho. Lá ela cursou até o 8º ano do ensino fundamental. Em seguida, a menina foi transferida para o Colégio estadual Visconde de Cairu, também no Méier, onde fez o ensino médio. Muito dedicada aos estudos, Kathlen decidiu que iria entrar para a faculdade. Em 2017, logo após completar 19 anos, ela se matriculou no curdo de Design de Interiores na Universidade Estácio de Sá, na unidade da Praça XI, no Centro do Rio, escreve Rafael Nascimento de Souza na revista Época desta semana. Continua a seguir.


Após completar a maioridade, Kathlen conseguiu um emprego em uma loja de roupas, em Ipanema, na Zona Sul. A rotina da jovem era trabalhar durante o dia para pagar as contas e à noite seguir para a faculdade. Em outubro de 2020 ela se formou.

No tempo livre, Kathlen fazia fotos para agências de modelos. Ainda quando criança ela fez um curso de modelo, no Cachambi, na Zona Norte. Seu sonho era ser a "Gisele Bündchen carioca". Nas redes sociais é possível ver seus ensaios. Ao longo dos anos, Kathlen fez vários trabalhos para lojas de biquínis.

Há pouco menos de três anos a jovem conheceu o designer gráfico Marcelo Ramos, com quem passou a dividir a vida. Eles eram colegas de faculdade quando se conheceram.

Há cerca de um mês e meio, os pais da jovem, para dar mais conforto para a família, decidiram sair do Lins e foram morar no Engenho Novo, vizinho da comunidade. Dias depois, Kathlen descobriu que estava grávida. Num primeiro momento, a família ficou preocupada, mas logo a alegria tomou conta de todos.

Durante os dias em que morou no Engenho Novo, Kathlen não deixou de ter contato com a avó materna, a aposentada Saionara Fátima Queiroz de Oliveira. Nesta terça-feira, a jovem foi à comunidade do Lins. Encontrou a avó e iria almoçar na casa de uma tia que mora na favela. Mas não conseguiu chegar: Kathlen acabou sendo atingida por uma bala perdida durante um confronto entre policiais militares e bandidos e morreu, aos 24 anos.

— Eu podia ter morrido, ela não. Ela era linda, maravilhosa, tinha uma luz que eu não sei mensurar. A minha filha era grande fisicamente e espiritualmente. Ela foi lá para visitar a avó. Há um mês e 15 dias havíamos saindo de lá. Queríamos ter uma vida mais digna e mais tranquila. Mas tudo foi muito rápido. Mudamos, ela descobriu que estava grávida e foi assassinada. Os PMs são treinados. Se eles vissem alguém passando na rua, que parassem (de atirar). Os bandidos correram e não revidaram. A minha mãe disse isso. Toda vez é isso — disse Jackeline, quando esteve no Instituto Médico-Legal (IML) para liberar o corpo de Kathlen.



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