Pular para o conteúdo principal

RIP Newton Carlos

Tive a honra de trabalhar por cinco anos com Newton Carlos. Ele jamais atrasou uma coluna, mandava sempre com antecedência e era impossível editar seus textos, chegavam redondinhos sempre, salvo uma ou outra palavra escrita nas regras antigas da ortografia. "Não tenho como acompanhar mais uma mudança", brincava ele. E era metódico - assistia o noticiário da CNN todos os dias, mandava a coluna na quarta-feira e me ligava na sequência para conversar sobre o tema do artigo. Tive a sorte de aprender como se faz jornalismo com ele, com Alberto Dines, Roberto Muller e Getúlio Bittencourt. Lucky me. Descanse em paz, Newton, você vai fazer falta por aqui.

Morre Newton Carlos, pioneiro do jornalismo internacional, aos 91
Jornalista foi referência em coberturas e análises políticas, especialmente de América Latina












Morreu nesta segunda-feira (30) no Rio de Janeiro o jornalista Newton Carlos de Figueiredo, pioneiro na cobertura internacional na imprensa brasileira, especialmente de notícias e análises sobre América Latina.
Ele estava hospitalizado desde a última sexta-feira (27) devido a uma pneumonia. Foi sua terceira internação neste ano.
Nascido em Macaé em 19 de novembro de 1927, Newton Carlos começou a carreira no extinto Correio da Manhã, foi chefe de reportagem da revista Manchete e o primeiro editor de internacional do Jornal do Brasil.
Foi colunista da Folha por 25 anos, comentarista da rádio e da TV Bandeirantes e, até o início deste ano, colaborava para o Correio Braziliense. Também escreveu para veículos internacionais em países como Itália, Argentina, Peru e México.
Ganhador do prêmio Rei da Espanha de jornalismo, escreveu diversos livros, entre eles “América Latina Dois Pontos”, “Bush e a Doutrina das Guerras sem Fim” e “A Conspiração”.
O jornalista inspirou colegas como Clóvis Rossi, decano da Redação da Folha que morreu em junho deste ano e se referia a ele como “maestro” e “precursor do colunismo em assuntos internacionais na mídia brasileira”.
“Minha referência quando comecei a trilhar os caminhos que ele conhecia tão bem”, escreveu Rossi, em uma coluna em agosto do ano passado.
Newton Carlos deixa a mulher, Eliana Brazil Protásio, e três filhas: Claudia, Marcia e Janaína Figueiredo, esta última jornalista de O Globo.
“Ele fez coberturas no mundo inteiro. Esteve em várias eleições americanas, foi para a África diversas vezes. Mas a América Latina era a grande paixão dele”, diz Janaína.
"Ele foi minha maior inspiração. Fez amigos por onde passou, tinha uma rede de contatos muito grande. Consegui conviver com ele durante 23 anos de profissão, foi uma honra para mim.”
Janaína destaca também a resistência do pai durante a ditadura militar. “Ele foi perseguido, teve que passar um tempo escondido. Encontrava uma forma de falar do Brasil nos textos de política internacional, por meio do que acontecia em outros países. Cobriu o golpe do Pinochet no Chile, vários golpes na Argentina. Ele foi uma luz para muita gente nesse período”, conta.
​Rosental Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas, em Austin, publicou mensagem no Twitter na qual destaca a figura de “explicador-mor dos temas internacionais” de Newton Carlos.
"Tive o prazer de conhecê-lo e o admirava. Ele inspirou minha geração de correspondentes e jornalistas das editorias internacionais. Era o explicador-mor dos temas internacionais, um grande ‘latinoamericanista’", escreveu.
O velório de Newton Carlos será no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro, nesta terça (1º), às 13h.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe