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A atualidade de Agatha Christie

Enquanto o julgamento da Operação Lava Jato não termina, o blog faz uma pausa para assunto mais ameno. O titular desta coluna está relendo a obra da Dama do Crime, maior vendedora de livros policiais da história do gênero, que está sendo publicada em uma coleção pela Folha de São Paulo. Relendo, porque matou praticamente todos os livros 35 anos atrás, sem a total compreensão de algumas particularidades e ironias contidas nos textos.

Agatha Christie escreveu mais de 80 livros, incluindo neste rol uma peça de teatro, A Ratoeira, que detém o recorde de mais longeva em cartaz na Inglaterra, tendo estreado em 1952. Reler Agatha em tempos de Brexit é muito interessante. O humor ferino e a reconstrução de época da autora impressionam – sua obra começou a ser escrita em 1920 e o último livro foi publicado meses antes sua morte, em 1976.
O vasto painel cobre, portanto, o período pós primeira guerra e vai até meados dos anos 1970, em plena Guerra Fria e descolonização dos impérios europeus. A história, em especial da Europa, é o pano de fundo dos enredos de assassinatos mirabolantes que entretém os leitores. Os textos são simples de acompanhar, mas conhecer história ajuda no desfrute das obras, embora seu desconhecimento não constitua impedimento para tanto.
O mais interessante é a capacidade da autora de estabelecer relações e apresentar as elites europeias no contexto histórico, ironizando muitas vezes o seu modo de vida. Hercule Poirot e Miss Marple, principais detetives criados por Agatha, fogem completamente do padrão dos heróis dos policiais, nenhum deles é ou foi policial.
Sem spoilers, o blog recomenda fortemente a compra do lote completo ou pelo menos de alguns volumes da coleção – Morte no Nilo, O misterioso caso de Styles (primeiro livro escrito pela autora) e O assassinato de Roger Ackroyd, em especial.

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