Pular para o conteúdo principal

Mandetta: Bolsonaro quis um tratamento político genocida para a pandemia

Luiz Henrique Mandetta atravessou os momentos de extrema tensão da primeira onda do coronavírus no Brasil, quando era ministro da Saúde, sem nenhum medicamento para estabilizar o humor, com abstinência alcoólica e determinado a colocar um ponto final no tabagismo. Dormia uma média de três a quatro horas por dia. Media cada palavra, cada gesto. Hoje, não se furta a chamar de “genocida” a política do presidente a quem serviu entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Por causa de uma agenda cheia de lives, reuniões e debates que impôs um tempo rigorosamente cronometrado para a entrevista, Mandetta, de 56 anos, se apresenta para este “À Mesa com o Valor” já tendo almoçado. Apenas bebe água. Ele está no Colégio Salesiano Dom Bosco, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde estudou. Quando se aproxima do computador, está vestido de branco, e a cor contrasta com a pele bronzeada e os cabelos escuros. A tela mostra uma sala ampla e, atrás da cadeira onde ele está sentado, há um grande quadro do santo italiano Dom Bosco. “Esta é a biblioteca do colégio onde estudei quando criança. Como os padres fecharam a biblioteca, pedi a eles para usar o espaço. Aqui virou meu escritório, meu tudo. E você, onde está?” Diante da resposta, segue falando: “Êh paulistada! Não sei por que mora tanta gente aí, acho muita aglomeração”. Dá risada. “Está na hora de você mudar para Borá”, diz, referindo-se ao município do Estado de São Paulo que é o menos populoso do país, escreve Maria da Paz Trefaut em excelente reportagem publicada no Valor na quinta, 1/4. Vale a leitura, continua a seguir.


A difícil proximidade que costuma acontecer nessas conversas por Zoom não ocorre. Depois de se queixar que não consegue se acostumar a falar com fones de ouvido, é como se ele estivesse frente a frente, à vontade, num encontro presencial. É com ironia que comenta a recente aparição do presidente Jair Bolsonaro de máscara, ladeado pelos presidentes da Câmara e do Senado, para anunciar a criação de um comitê de crise contra a covid-19.

“Pois é, custou 300 mil mortos. Ninguém acredita! Ele só está revendo a estratégia porque nem os robôs que eles têm lá têm coragem de defendê-lo. Tem robô se revoltando! Quando chegou nesse ponto, do robô dizer: ‘Olha, estou com vergonha de defender isso’, ele começou a rever sua posição. Mas temos um Congresso que é cúmplice, que ficou esse tempo todo assistindo e que tinha as ferramentas na mão. Temos uma Procuradoria-Geral da República que é cúmplice, que poderia ter freado e que ficou assistindo.”

Ele diz que vivemos o momento do não dá mais, do passou da hora. “Agora estão vendo que o cheiro do cadáver está contaminando todo o mundo. Esse Centrão olha e fala: ‘Não vou ficar com essa catinga’. Então, faz pressão e dá um recado: ‘Ou você muda...’.” No Brasil de hoje, acredita, há dois lados muito claros: o dos que optaram pela vida e o do presidente, que “ficou com a morte”. “Quem está do lado dele, agora, está dizendo: olha, não quero ficar nesse clube de insanos.”

A questão, segundo Mandetta, é saber se a política do governo vai mudar. “Você acha que ele está preparado para as próximas crises? Para enfrentar o monstro da lagoa da educação, da cultura, do entretenimento, das empresas, do desemprego, da fome, da carestia, da falta de capacidade de investimento do Estado? Olha, no buraco em que está o governo brasileiro, não sei se paga os salários deste ano. Vai ser duro, a não ser que autorizem a furar, novamente, o teto de gastos.”

Ele continua: “Hoje, 300 mil vidas me separam de Bolsonaro. Cada vida está, em média, a um quilômetro uma da outra, portanto, há 300 mil quilômetros de distância entre eu e ele. Não dá, é impraticável”. O ex-ministro considera que o presidente teve sua oportunidade e não se mostrou capaz. “Não é líder, não tem condições de liderar um país. Quando sua casa está pegando fogo, você precisa de um líder que ajude a sair e a combater o incêndio. Em tudo o Brasil se rompeu ao meio. Fizeram picadinho da liga social, não foram capazes de enfrentar os problemas"

Parte de suas divergências com Bolsonaro foram relatadas no livro “Um Paciente Chamado Brasil - Os Bastidores da Luta contra o Coronavírus”, lançado pela Objetiva em setembro do ano passado. O título remete a um mote que repetiu algumas vezes pouco antes da sua saída, segundo o qual o médico nunca abandona um paciente. Essa crença exposta publicamente fez disparar sua popularidade e obrigou o presidente a exonerá-lo, ao contrário do que ocorreu com seu sucessor, Nelson Teich, que pediu demissão antes de completar um mês no cargo.

Essa capacidade de comunicação, Mandetta atribui às origens italianas, à mistura cultural na qual se forjou e à profissão. A mesa farta, onde havia fusili e ravióli feitos à mão, acompanhados por um molho de tomate que é segredo de família, funcionava como ponto de encontro de uma casa de classe média, moldada segundo os valores dos imigrantes que aqui chegaram no início do século XX.

“Ah, na minha família, se você não se comunicar, é fuzilado. Era uma casa de gritaria, vinho, comida, música, ópera, cancioneta italiana, choro e alegria em oscilação constante - e de humor permanente.”

Especializado em ortopedia pediátrica, aprendeu muito com o pai, Hélio, também ortopedista, que foi vice-prefeito de Campo Grande. “Medicina é uma profissão de comunicação. Se você não estabelecer um vínculo com o paciente, nada que você faça funciona. No ministério, tive que estabelecer um vínculo com 210 milhões de pessoas. Acho que todos esses macarrões que comi na vida, toda essa gritaria, serviram para que eu achasse o tom, o tom de diálogo.”

Mesmo com Bolsonaro, nunca brigou. Conta que montou uma equipe técnica e que sua primeira luz amarela se acendeu quando, em janeiro de 2020, recebeu uma solicitação da presidência para trocar quatro integrantes de seu grupo por nomes previamente definidos. Todos do Rio de Janeiro e sem experiência no SUS. A ideia da troca era de Flavio Bolsonaro.

“Nunca fui ministro palaciano, de ficar em torno daquelas conspirações. Mas quando veio esse pedido... Ah, essa equipe é técnica, mas eu quero pôr outros técnicos... Assim, sem qualquer motivo? Na minha cabeça era muito claro. Se não fosse para fazer um trabalho técnico, não me prestava para aquilo. Não tinha nenhum mandato. Estava lá em nome de outra coisa.”

Mas veio a pandemia, e eles deixaram de lado essa reivindicação. O problema, diz Mandetta, foram as novas interferências. “Aí queriam um tratamento político genocida, terrível. Naquele momento, olhei e pensei: não é possível, esse cara não está entendendo... Se na primeira agressão dele eu falasse: olha, estou indo embora, bota outro aí, não ia dormir em paz com minha consciência sabendo da gravidade do que vinha pela frente.”

Foram dias pesados. Na fase final, Mandetta passava 20 horas por dia em função do trabalho no ministério. Ele nunca havia tomado um ansiolítico na vida, mas fumava. No dia em que surgiu o primeiro caso no Brasil, apagou o cigarro. “Parei de fumar sem ter crise de abstinência. A empreitada que eu tinha pela frente era tamanha que não dava para somar ao típico estresse do fumante. Passei aquilo lúcido. Inclusive, nunca tomei um gole de bebida alcoólica naquele intervalo. E é uma coisa que eu gosto. Acho o álcool socializante, ajuda a descomprimir, mas eu estava tão ligado...”

O sono demorava para chegar, e quando vinha ele tinha a sensação de não ter sonhado nada e já acordava pilhado. Não sentia cansaço físico nem mental. “Parecia que eu estava no meio de uma cirurgia. Ali o mundo pode acabar e você está tão focado no campo cirúrgico que não tira teu olho dali. Era a mesma sensação, mas eu sabia que aquela cirurgia ia ser meio longa. E Terezinha, minha mulher, estava comigo em Brasília, supercompanheira, médica também.”

As dificuldades de diálogo com o presidente foram se avolumando. “Chegou uma hora em que ele viu que eu não mudaria um milímetro do compromisso que tenho com a vida e falou: ‘Vou te substituir!’. Nunca gritei, nunca o ofendi. Só dei um conselho a ele: troca o ministro, não tem problema nenhum, mas não troca a equipe, ela é boa demais para ser trocada.”

Não foi o que se viu. “Quando saí, tudo estava encaixado: os planos de contingência estaduais, municipais, o SUS íntegro. E ele fazendo as ‘loucuradas’ dele... Eles entraram lá, trocaram todo mundo, passaram aquela primeira onda fruto do trabalho que a gente tinha feito, acharam que era fácil, que aquilo caía do céu, e foram fazendo aquelas bobajadas todas de cloroquina, de ‘e daí?’, de coveiro, enfim, foram se divertindo, botaram um ministro militar [Eduardo Pazuello] que entrou e saiu e não sabe até hoje o que estava fazendo lá. Deu no que deu.”

O ex-ministro tem três filhos: Marina, de 29 anos, advogada, que lhe deu o neto Gabriel, de quase 3 anos; Pedro, de 25, faz residência em cirurgia geral na Santa Casa de Campo Grande; e Paulo, prestes a completar 22 anos, cursa direito na São Francisco, na USP. Ele mora num apartamento “relativamente pequeno” com a mulher, a sogra, de 87 anos, e o filho do meio, mas com a pandemia o que estava em São Paulo voltou para casa. “Minha mulher é filha única, tem que cuidar da mãe.”

Depois de viver períodos nos Estados Unidos, onde foi estudar, e em Brasília, em função da política, considera Campo Grande uma cidade cosmopolita. “Aqui tem gente do Brasil inteiro, colônia de paulistas, de gaúchos.” Ele diz que certa vez se sentou a uma mesa com 22 pessoas e só 4 eram nascidas em Campo Grande. “Por ter sido transformada em capital, ela teve um boom econômico e se tornou uma cidade com expressão cultural.”

Apesar de viverem num Estado basicamente agrário, os Mandetta são urbanos. “Fui criado na cidade. Meu avô nunca quis mexer com terra.” A família chegou à América do Sul pelo Uruguai, passou pela Argentina e entrou no Brasil pelo porto fluvial de Corumbá, o maior do Centro-Oeste brasileiro. Em Mato Grosso, o avô montou uma engarrafadora de refrigerante e chegou a ter três fábricas do guaraná Tupi, que durou 60 anos. Uma das propriedades da família é a Fazenda Bom Jesus, no município de Dois Irmãos do Buriti, que ele administra.

A carreira política de Mandetta começou em 2005, quando assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande. O período lhe valeu uma investigação por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois. Mas a denúncia nunca foi apresentada. Cinco anos depois, trocou o PMDB (atual MDB) pelo DEM (atual Democratas), candidatou-se a deputado federal por Mato Grosso do Sul e cumpriu dois mandatos na Câmara, de 2011 a 2019.

Nesse período, combateu o Mais Médicos e votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. “Em 2018, não quis disputar, tinha medo de ganhar... já tinha aguentado um ano de ‘Fora, Dilma’, de ‘Fora, Cunha’, de ‘Fora, Temer. Quando acabou, falei: ‘Fora, eu’. Já fiz o que tinha de fazer.”

No seu espectro conservador, é contra o aborto, aliado dos ruralistas - amigo de Ronaldo Caiado e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina -, mas a favor do uso medicinal da maconha. Apesar de se dizer um humanista, aceitou trabalhar para um presidente que defendia abertamente a tortura.

Ele diz que viu no presidente alguém que era fruto do momento: “Quem cria Bolsonaro é a cleptocracia que vinha antes dele, que matou milhares de CNPJs”. Sobre o lado controverso, diz que Bolsonaro “fala um monte de barbaridades como tantos outros radicais e se elege com uma votação democrática, numa escolha popular”. E acrescenta: “Eu não tinha amizade nenhuma com ele, conhecia a distância. Mas me convida, pede um trabalho técnico”. Ele já possuía uma passagem pela iniciativa privada, como presidente do plano de saúde Unimed, em Campo Grande.

Depois que deixou o ministério, Mandetta não se afastou da política. Por isso, não reabriu seu consultório, embora atenda pacientes com os quais não perdeu o contato nem nos tempos em que era ministro.

“A medicina é uma amante exigente, não te divide com ninguém. Você tem que ser inteiro, não dá para começar uma coisa e falar: peraí que vou ali e já volto. As famílias com crianças (ele atende de zero a 18 anos) ficam extremamente ansiosas. Então, prefiro que um colega conduza. Tenho tentado administrar minha vida da melhor maneira possível, fiz três cirurgias depois que voltei para Campo Grande, mas a vida me chama para determinadas coisas e quando vejo estou totalmente envolvido.”

Quando universitário, foi para as ruas defender as Diretas Já. Participou do grêmio, fez campanha para Leonel Brizola (1922-2004), apostou suas fichas em Tancredo Neves (1910-1985) e acabou por ser fiscal do Sarney. Depois apoiou Mario Covas (1930-2001) para presidente. “Estive nas manifestações da Candelária, fiz tudo o que um jovem deve fazer, o script completo. Tentava ver na política esses valores que a gente recebe de imigrantes. A gente achava que, se tivesse direito de votar, todos nossos problemas teriam terminado.”

Atualmente, seu lema é “Nem Lula, Nem Bolsonaro”. “Este país é um barril de pólvora com álcool, gasolina, palha, e temos Bolsonaro e Lula com um isqueiro na mão e querendo fumar. Existe uma crise absurda, essa da saúde é a que vocês enxergam, porque se der colapso vão sentir na própria carne. Mas tem o colapso da educação, da fome, do desemprego, das empresas fechando. Qual a capacidade de o país se reerguer? Temos três poderes frágeis. Um Executivo derretendo no meio da rua, um Legislativo que expressa que a liga social brasileira foi completamente rota e um Judiciário que acabou de dar um triplo salto para trás em termos de promoção de justiça.”

No caso, ele se refere à anulação dos processos de Lula e à suspeição do ex-juiz Sergio Moro. “Um pilar da democracia é o Judiciário. E quando esse pilar entra numa crise por razões internas, passa para a sociedade a sensação de não promoção de justiça - o que diferencia uma sociedade evoluída da barbárie.”

No pacote desse tensionamento entre “dois polos populistas”, diz que um lado pega o gay, o outro, o hétero, um pega o índio, o outro, o fazendeiro, e se um é ambientalista, o outro quer desmatar. “Em tudo o Brasil se rompeu ao meio. Fizeram picadinho da liga social, não foram capazes de enfrentar os problemas, ficaram na periferia, abriram a boca da sociedade, enfiaram suas agendas goela abaixo.”

Outro tópico que considera necessário discutir, mas ninguém quer, é o SUS. Criado pela Constituição de 1988, prega que a saúde é direito de todos e dever do Estado segundo princípios da universalidade, integralidade e equidade. Considera que, apesar do sucesso do SUS, as pessoas se apropriaram de dois princípios - universalidade e integralidade -, mas a equidade, que seria tratar diferente para conseguir a igualdade, é uma discussão que ninguém nunca quis ter.

“E ela se impõe”, insiste. “Dentro do conceito de equidade você tem um número enorme de possibilidades. Tanto é importante a discussão que agora você está vendo na iniciativa privada pessoas pegando o jatinho e dizendo: ‘Eu quero comprar uma vacina para dar aos meus funcionários’. Isso geraria inequidade. É claramente inequânime. A sociedade vai ter que discutir o que é equidade. Você atende primeiro os mais frágeis para que eles tenham a igualdade? Políticas de faixas geram equidade? Sim. São discutidas no mundo inteiro. Na Inglaterra, em Portugal, em vários países. Essa é a discussão, mas como é muito característico do mundo da esquerda radical e da direita radical, ninguém quer discutir.”

O que vai acontecer no ano que vem? “Não sei.” Diz que pode voltar para sua pós-graduação nos Estados Unidos ou voltar a clinicar como antes. Duas coisas que “faria com um prazer absoluto”. Entre suas atribuições, todos os anos ministra, pelo menos, duas aulas de embriologia, de ortopedia pediátrica e de doenças raras para residentes a convite da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Autodefinido como workaholic, diz ter pressa de ver acontecer. Queixa-se da falta de lideranças, mas é vago quando o assunto é sua eventual candidatura para a Presidência. Mandetta é visto por empresários como um possível candidato de centro.

“Hoje, a única coisa que posso oferecer é um chamado para as pessoas que querem ser candidatas para não se colocarem como candidatas. Por favor, se coloquem como quem quer construir. Se a gente conseguir construir um polo de pessoas que têm como ponto comum a democracia, o meio ambiente, a educação, enfim - e que estejam dispostas a se modernizar, a se reciclar, a se repaginar -, é a única coisa que posso oferecer. Inclusive o meu não oferecimento. Inclusive a minha não candidatura para que haja uma unificação do país. É o que ofereço hoje: tudo de mim ou nada de mim.”

Devoto de Nossa Senhora, afirma que todas as vezes na vida em que esteve diante de uma bifurcação, apelou para a santa. “Quando ela fala: ‘Vai, menino’, eu vou.” Como se vê, além de ter o dom da comunicação, ele sabe jogar para a torcida.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe