Está nos jornais e revistas a informação de que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) teria feito dois pagamentos de R$ 50 mil, em dinheiro vivo, para a jornalista Mônica Veloso, com quem o presidente do Senado tem uma filha, fruto de relação extraconjugal. Até aqui, tudo bem, o próprio senador já reconheceu os pagamentos, segundo ele para um fundo educacional da menina, e fez publicar os recibos de Mônica para os dois pagamentos. Ocorre que saiu em vários veículos também a informação de que esse dinheiro teria sido entregue em duas malas. A menos que Calheiros tenha mandado os cinquenta contos em notas de R$ 1, tal versão é realmente pouco crível. Se foram 500 notas de R$ 100, caberia em um envelope simples. Mesmo mil notas de R$ 50 não demandariam as tais malas. Tudo isso mostra que Renan tem razão em falar que vive um "calvário": quando a imprensa resolve pegar no pé de uma figura pública em razão de alguma denúncia ou desgraça, a lógica e o bom senso são mandados às favas. O pior é que tem leitor que não percebe.
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
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