A reforma ministerial já terminou, mas alguns cargos de segundo escalão estão sendo objeto de disputa tão acirrada quanto foi a das vagas na Esplanada, já devidamente repartidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mais cobiçado sem dúvida é o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje presidido pelo jovem economisa Demian Fiocca. Pelo que corre nos bastidores, estão no páreo Luciano Coutinho, que seria o preferido do PT e até mesmo do presidente Lula, e Gustavo Murgel, ex-vice presidente do Banco Santander e nome indicado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Obviamente, a escolha é do presidente Lula, o que não quer necessariamente dizer que Coutinho larga na frente. A escolha será o resultado de um delicado processo de negociação com as forças que compõem a aliança governista e já há até quem aposte na permanência de Fiocca no posto. Muito a grosso modo, o significado da disputa é o seguinte: a nomeação de Murgel significará que Miguel Jorge pode começar a ser realmente chamado de superministro, pois nem Luiz Fernando Furlan conseguiu, ao logo do primeiro mandato, emplacar um candidato seu na presidência do Banco. Pode ser que Lula goste da idéia de ter em Jorge uma alternativa para o poder hoje concentrado nas mãos de Dilma Rousseff e Guido Mantega. A entrada de Coutinho no governo seria certamente vista como uma concessão à esquerda, em uma jogada semelhante à nomeação de Carlos Lessa para o comando do banco início do primeiro mandato. O pessoal da ultra-esquerda ficaria um pouco aborrecido com mais esta demonstração de, digamos assim, afastamento do neoliberalismo por parte do presidente da República. E a permanecer Fiocca, sai vitorioso o sempre low profile Guido Mantega. Voltaremos ao assunto tão logo o imbróglio seja resolvido.
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
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